Enquanto gênero literário, a
narrativa policial surge na segunda metade do século XIX embalada pela força
que o pensamento positivista vinha ganhando no campo das ciências e pela
maneira como essas ciências positivistas desenvolviam métodos e técnicas que auxiliavam
nas investigações criminais. A série O
Alienista, baseada no romance de Caleb Carr, trata justamente desses
primeiros passos das ciências criminais.
A trama se passa na Nova Iorque
do século XIX e é centrada no médico alemão Laszlo Kreizler (Daniel Bruhl).
Laszlo é um alienista, alguém que pesquisa e trata pessoas com problemas
mentais, basicamente sendo um psiquiatra rudimentar. Quando uma série de
assassinatos brutais envolvendo jovens homossexuais começa a aterrorizar a
cidade, o alienista decide investigar que tipo de pessoa seria capaz de cometer
tais crimes. Para isso, ele conta com a ajuda do desenhista e jornalista John
Moore (Luke Evans) e da policial Sara Howard (Dakota Fanning), a primeira
mulher a integrar a polícia de Nova Iorque.
Laszlo e John tem uma dinâmica
bem ao estilo de Sherlock Holmes e Watson, no sentido que Laszlo é um sujeito
dotado de uma extrema acuidade mental, relativamente excêntrico e misantropo,
enquanto que Moore é uma representação do "homem comum" de sua época,
muitas vezes servindo como auxiliar de Laszlo ou como orelha para que ele
verbalize suas deduções. Não tem nada que já não tenhamos visto em inúmeras
outras narrativas investigativas, mas Bruhl injeta personalidade suficiente na
natureza atormentada do alienista para que ele não soe como uma mera repetição
de clichês.
Sara acaba sendo a mais
interessante do trio principal. A única mulher em um ambiente masculino, o
percurso dela revela o machismo de uma época na qual as mulheres eram
consideradas naturalmente inferiores e tinham alguns direitos (como o de voto)
ainda negados. Na verdade, toda a ambientação do século XIX é usada para
mostrar uma sociedade baseada em preconceitos, que exclui e brutaliza aqueles
que não se conformam às normas dos "bons cidadãos", privilegiando uma
pequena elite enquanto os demais ficam à míngua.
Isso é evidenciado pela oposição
visual entre os suntuosos restaurantes e teatros de elite, cheios de pessoas
bem vestidas, grandes lustres, tapetes e intensa iluminação, com os espaços
escuros, decadentes, degradados e imundos das zonas marginalizadas habitadas
por gays, imigrantes, judeus e outras minorias vistas como inferiores. A
narrativa ainda utiliza figuras históricas reais como Theodore Roosevelt (Brian
Geraghty) ou J.P Morgan (Michael Ironside), mas não chega a fazer nada
interessante com eles e, no fim das contas, o fato de serem figuras reais acaba
tendo pouco impacto na trama.
A jornada investigativa é
construída com atenção aos processos científicos e tecnológicos utilizados
pelos personagens para traçar o perfil psicológico do culpado e descobrir sua
identidade. A trama é competente em demonstrar o impacto que as ciências
desenvolvidas durante o século XIX, como a psicologia ou o exame de impressões
digitais, teve durante os processos de investigação criminal e contribuiu para
conter os excessos e equívocos da polícia, que muitas forçava confissões de
pessoas inocentes na base da violência. Por outro lado, a trama ocasionalmente
perde tempo demais com falsos suspeitos e digressões da investigação principal,
estendendo os eventos para além do necessário e fazendo a temporada perder
parte do fôlego em sua metade.
Mesmo não reinventando a roda e
sendo uma narrativa policial bem esquemática, O Alienista funciona graças ao seu mistério envolvente e o uso que
faz de sua ambientação.
Nota: 7/10
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