sexta-feira, 20 de julho de 2018

Crítica - Distúrbio


Análise Crítica - Distúrbio


Review - UnsaneO diretor Steven Soderbergh tem constantemente experimentado com gêneros, formatos e maneiras de filmar. Distúrbio, seu mais recente filme, por exemplo, foi quase que inteiramente filmado com um iPhone 7 (em alguns momentos também dá para perceber imagens captadas por drones). Poderia ser meramente uma estratégia publicitária da Apple para promover seu produto, mas Soderbergh consegue criar um suspense psicológico satisfatório dentro dessa proposta de filmar.

A trama acompanha Sawyer (Claire Foy), uma mulher que recentemente mudou de cidade e está se acostumando ao seu novo emprego. Sua mudança foi decorrente de ter sido vítima de um stalker e as marcas do trauma de ser perseguida permanecem com ela ao ponto que a protagonista decide procurar ajuda médica. Após a consulta com a médica, Sawyer é internada em uma clínica psiquiátrica, descobrindo que alguns dos papéis que assinou durante a consulta eram formulários de internação voluntária. Aos poucos, Sawyer começa a perceber coisas estranhas acontecendo, pondo em questão se tudo aquilo é real ou fruto de seu estado mental.


A narrativa apresenta várias ideias interessantes no começo, como a crítica ao sistema de saúde mental e a banalização dos diagnósticos de transtornos mentais para poder ganhar dinheiro dos planos de saúde com internações. Também aborda as consequências duradouras e sombrias de abuso psicológico e gaslighting conforme Sawyer começa a ficar em dúvida se ela ainda está sendo perseguida ou não. Essas ideias poderiam render um ótimo terror psicológico, mas tal como fez em Terapia de Risco (2013), Soderbergh prefere abandonar as reflexões críticas pelo meio do caminho, preferindo tecer um suspense mais típico de uma mulher perseguida por um homem obsessivo.

Mesmo entrando por um território mais “banal”, por assim dizer, o filme acaba funcionando pelo hábil manejo do suspense e em como Soderbergh explora os poucos espaços da narrativa para criar um sentimento de claustrofobia e opressão. Essa sensação é construída muitas vezes pela câmera estar sempre muito próxima dos personagens, reduzindo os espaços entre eles e deixando tudo sempre na nossa cara. A montagem abrupta constrói uma impressão de tempos e espaços demasiadamente fragmentados, nos deixando imersos na realidade desconexa da personagem e nos fazendo questionar se o que ela está vivenciando é real ou está em sua mente.

Claire Foy é ótima em construir o sentimento de confusão e indignação que toma conta de Sawyer conforme ela se vê presa na instituição psiquiátrica sem entender o motivo de estar ali. A atriz também é convincente em nos mostrar a instabilidade que a personagem carrega em si como fruto de seu trauma. Há de se destacar também o trabalho do comediante Jay Pharoah como um carismático e ambíguo interno que a todo momento nos faz questionar se o sujeito é de fato são ou se ele está tão imerso em seus próprios delírios ao ponto de ser completamente seguro de tudo que diz.

O desfecho acaba retornando a alguns temas e ideias tratados no início, como a questão da exploração dos planos de saúde, mas essa volta parece visar mais evitar encerrar com pontas soltas do que produzir alguma reflexão consistente, mais uma vez subaproveitando temáticas que poderiam enriquecer a trama. Assim, Distúrbio é um competente suspense graças ao modo como aproveita seus espaços e dispositivos de filmagem, ainda que não aproveite bem as ideias que apresente e sua trama descambe para algo mais banal do que seu começo indicava.


Nota: 7/10

Trailer

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