A primeira temporada de GLOW foi uma grata surpresa ao conseguir
equilibrar drama e comédia ao contar a história de um grupo de atrizes na
década de 80 tentando emplacar um programa televisivo sobre luta-livre
feminina. Esta segunda temporada consegue manter o nível da primeira enquanto
tenta aprofundar suas personagens e relações entre elas.
A trama começa pouco tempo depois
do fim da temporada anterior, com as lutadoras se reunindo para iniciar uma
nova temporada do seu programa enquanto enfrentam novos desafios para se
manterem no ar e exigências da emissora. Ruth (Alison Brie) tenta ajudar o mal-humorado
diretor Sam (Marc Maron) ao mesmo tempo em que tenta reparar sua complicada
relação com a colega Debbie (Betty Gilpin) que agora é uma produtora do
programa.
Com apenas dez episódios de cerca
de meia hora cada, a série alterna entre episódios mais dedicados ao arco maior
da temporada e outros mais autocontidos. Isso poderia resultar em um ritmo
inconsistente, mas cada episódio consegue trazer um desenvolvimento consistente
dos personagens ao ponto em que nenhum deles soa como filler. Na verdade, o efeito é oposto e quando cheguei aos últimos
três episódios da temporada desejei que ela durasse mais porque não estava
pronto para me despedir daquelas personagens.
Parte do motivo da série ser tão
atrativa é a química do elenco e a sinceridade através da qual conseguem
construir a camaradagem das personagens. Com isso, cada briga, cada
reconciliação ou cada envolvimento amoroso soa crível e merecido. Apesar de
contar as histórias das diferentes personagens, GLOW nunca chega a ser algo como Orange is the New Black (as duas séries são produzidas pela Jenji
Kohan) no sentido de ter um protagonismo compartilhado entre as diferentes personagens.
Aqui a trama claramente eleva certos personagens ao protagonismo, em especial
Ruth, Sam e Debbie.
Através desses três a trama tenta
explorar as ansiedades de artistas buscando fazer algo relevante com seus
trabalhos. No caso de Ruth e Debbie ainda aborda o machismo que imperava na
época, com Debbie tendo dificuldade em ser levada à sério como produtora (um
desafio que não é sofrido pelos personagens masculinos) e Ruth tendo que lidar
com o assédio de um produtor de televisão. A cena de Ruth no quarto do produtor
acerta em transmitir o clima de desconforto e temor que vai tomando conta de
Ruth conforme ela percebe que não foi chamada até ali para uma conversa de
trabalho.
Assim como Orange is the New Black, no entanto, a série exibe o esforço de
evitar maniqueísmos em seus personagens, construindo-os como pessoas complexas,
com virtudes e defeitos. Se inicialmente aderimos a Debbie pelo fato dela ser
ignorada pelos demais produtores homens, mais para frente na temporada
repudiamos sua atitude de ferir seriamente Ruth durante uma luta como meio de
descontar suas frustrações. Do mesmo modo, se Sam age de maneira mesquinha no
início da temporada ao punir Ruth por sua iniciativa de filmar os créditos
iniciais do programa, posteriormente simpatizamos com ele conforme ele tenta se
aproximar da filha Justine (Britt Baron).
Marc Maron, por sinal, continua a
divertir com a persona turrona e
neurótica de Sam, sempre com um comentário ácido e mordaz na ponta da língua.
Alison Brie e Betty Gilpin, por sua vez, são ótimas em criar a complicada
dinâmica de amizade/inimizade entre Ruth e Debbie, evidenciando o afeto e as
mágoas que existem entre as duas, principalmente nas cenas após o ferimento de
Ruth.
A segunda temporada também acerta
ao experimentar com diferentes formatos. Um exemplo é o episódio centrado em
Debbie e Tammé (Kia Dawson), alternando entre ambas conforme acompanhamos as
dificuldades delas em criar seus filhos, com o jantar entre as duas funcionando
como uma divertida oposição às personagens rivais que as duas interpretam no
ringue. Outro destaque é o oitavo episódio que é todo concebido como um
episódio da série feita pelas personagens dentro do universo da série. Todo
feito como algo filmado e exibido nos anos oitenta, o episódio inteiro tem um
aspecto visual de fita VHS e sinal de televisão analógico, incluindo uma taxa
de aspecto que reproduz o formato menor das televisões antigas. Além do cuidado
visual, o episódio é bem sucedido ao evocar a breguice e tosqueira da trama da
“série dentro da série”.
Em sua segunda temporada Glow continua a divertir e envolver pelo
carisma de seus personagens, equilíbrio entre drama e comédia, além de suas
tentativas de criar episódios com formatos diferentes.
Nota: 8/10
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