Tive curiosidade em conferir a
primeira temporada da série Good Girls
por sua premissa parecer uma espécie de versão mais cômica de Breaking Bad e pela presença da atriz
Christina Hendricks (a Joan de Mad Men).
A premissa poderia render uma comédia crítica sobre as contradições e problemas
da classe média dos Estados Unidos, mas essa temporada de estreia nunca explora
suas ideias de maneira satisfatória.
A série é centrada em três
mulheres, cada uma com problemas financeiros de natureza diferente. Beth
(Christina Hendricks) é uma pacata dona de casa que vê seu casamento naufragar
ao descobrir que seu marido, Dean (Matthew Lilard), não só a está traindo com a
secretária como também perdeu boa parte das economias do casal em investimentos
ruins. Annie (Mae Whitman), a irmã de Beth, trabalha como caixa em um
supermercado e está prestes a perder a guarda da filha para seu rico
ex-namorado, não tendo condições de pagar um advogado. Já a garçonete Ruby
(Retta) está com dificuldades para pagar o caro tratamento médico da filha e
teme que seus problemas financeiros custem a vida da garota.
Desesperadas, elas decidem
assaltar o mercado em que Annie trabalha, mas durante o roubo descobrem que os
cofres do estabelecimento guardavam muito mais dinheiro do que imaginavam. Isso
porque o mercado fazia parte de uma operação de lavagem de dinheiro do
criminoso Rio (Manny Montana), que logicamente não ficou contente com o assalto
e vai atrás das três para cobrar seu dinheiro, com juros.
O principal mérito da série é o
trio principal de atrizes. Primeiro porque elas constroem uma amizade sincera
entre suas personagens, nos fazendo nos importar não só com cada uma
individualmente, mas com elas em conjunto e com a preservação dessa amizade à
despeito das dificuldades que irão se impor a elas. As atrizes também são
hábeis em construir o senso de frustração daquelas mulheres, constantemente
passadas para trás, subestimadas e silenciadas, tornando compreensível que elas
tenham tomado medidas tão drásticas como recorrer ao crime para retomar o
controle de suas vidas. É por causa das três que os principais momentos de
drama funcionam, mesmo quando é possível prever as principais reviravoltas com
muita antecedência.
A série tenta equilibrar o drama
com a comédia, mas por mais que renda alguns momentos engraçados,
principalmente quando as personagens tentam lidar com algumas consequências
absurdas para seus esquemas criminosos. No entanto, o material nunca chega a
ser tão aloprado ou tão crítico como, por exemplo, As Loucuras de Dick & Jane (2005), que tecia uma crítica mais
ácida e competente ao modo como a estrutura financeira dos EUA é feita para
estimular a classe média a consumir mais do que sua capacidade, mantendo-a em
constante estado de dívida. Nesse sentido, Good
Girls acaba não tendo muito a dizer que já não tenha sido dito (e melhor)
sobre a relação entre classe média, consumo e endividamento nos Estados Unidos.
Há também a questão das muitas
inconsistências no comportamento das personagens. Em uma cena Beth é
perfeitamente capaz de peitar sem medo um criminoso perigoso como Rio, mas
pouco tempo depois é incapaz de dissuadir ou intimidar uma dona de casa vizinha
que a chantageia depois de descobrir seus esquemas criminosos. Sim, a trama da
razões para que Beth tenha pena da mulher ao ponto de não dar o nome da
chantagista para que Rio a matasse, mas considerando o quanto ela se mostra
engenhosa ao longo da trama, soa pouco crível que Beth ceda à chantagem ao
invés de tentar resolver de outra maneira. Do mesmo modo, a personagem se
mostra bastante inteligente em formular seus golpes, mas contraditoriamente é
ingênua demais para prever as consequências de suas ações, como o fato de que
Rio certamente tentaria se vingar depois dela tê-lo entregado à polícia.
Outra questão é que a trama
parece convenientemente esquecer de certos elementos da narrativa, tornando-os
inconsequentes. Um exemplo é quando Annie forja provas de que o chefe cometeu
atos de pedofilia, usando essas provas para dissuadi-lo a denunciá-la. Alguns
episódios depois, o chefe planta drogas no armário de Annie, esquecendo que ela
poderia incriminá-lo por algo ainda mais grave e a própria Annie esquece de
usar a “apólice de seguro” que tinha contra chefe, fazendo todo o esquema de
forjar a pedofilia ser uma perda de tempo já que nunca volta a ser citado e não
tem qualquer repercussão na trama.
Eu queria muito ter gostado de Good Girls, mas apesar do talento das
protagonistas, a série é superficial e inconsistente demais para funcionar como
deveria. Resta torcer para que as coisas melhorem na já garantida segunda
temporada.
Nota: 5/10
Trailer
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