Depois de uma excelente primeira
temporada, Demolidor partiu para um segundo ano que mais pareciam duas temporadas em uma, com os arcos do
Justiceiro (Jon Bernthal) e Elektra (Elodie Yung) mal se relacionando um com o outro
e a falta de um antagonista que fosse tão interessante quanto o Wilson Fisk
(Vincent D’Onofrio) da primeira temporada. Felizmente, o terceiro ano da série
corrige a maioria desses problemas e entrega uma temporada tão boa quanto à
primeira.
A trama começa com Matt Murdock
(Charlie Cox) ferido depois dos eventos de Os Defensores. Ele está sendo mantido em segredo no orfanato em que cresceu e
é cuidado pelas freiras do local. Os ferimentos sofridos prejudicaram seus
sentidos aguçados e agora Matt se questiona seu lugar no mundo uma vez que não
pode mais ser o Demolidor. Ao mesmo tempo, Wilson Fisk consegue fazer um acordo
de delação e sai da cadeia, fazendo Matt questionar sua escolha de não matar e
levantando a questão de como deter alguém que nunca desiste.
Fisk continua a ser um dos
melhores antagonistas do universo Marvel (e incluo aqui tanto as séries quanto
filmes), implacável, violento e instável, mas também dotado de uma boa medida
de vulnerabilidade. Por mais ele tenha extrema facilidade em espancar alguém
até a morte, Fisk também exibe um amor verdadeiro em relação a Vanessa (Ayelet
Zurer) e D’Onofrio permite que vejamos a carência emocional do personagem
diante da ausência da amada.
Além de Fisk, a temporada
introduz um novo vilão no agente Ben “Dex” Poindexter (Wilson Bethel), um
agente do FBI com uma mira extremamente precisa e que sempre acerta seu alvo.
Quem está familiarizado com os quadrinhos sabe que ele é o vilão Mercenário,
embora o nome não seja usado na série. Tal como Fisk, Dex é um vilão envolvente
porque a trama desnuda suas vulnerabilidades diante de nós. Sim, ele é sádico e
violento, mas muito disso vem do seu sentimento de abandono, de ter perdido ou
sido ignorado por todas as pessoas importantes de sua vida, reagindo com violência
toda vez que alguém parece prestes a abandoná-lo de novo. Fisk percebe a
instabilidade de Dex e se coloca como alguém que nunca irá deixá-lo,
manipulando Dex para trabalhar para ele e liberando o lado mais sombrio do
agente do FBI.
A temporada é eficiente em criar
um clima de desamparo, de que Fisk é tão poderoso e influente que não há como
derrotá-lo por meios legais. Há a constante sensação de que o vilão está sempre
a frente dos heróis e de que as paredes estão se fechando ao redor dos
protagonistas conforme o vilão consolida seu poder. Esse sentimento de que Fisk
é intocável ajuda a potencializar o conflito moral de Matt, já que diante do
irrefreável sucesso do Rei do Crime, que sabota todas as tentativas de Foggy
(Elden Henson) e Karen (Deborah Ann Woll), matá-lo surge como uma alternativa a
se pensar.
Falando em Karen, a série
finalmente nos mostra o passado da personagem. Temporadas anteriores tinham
indicado um evento traumático em seu passado e que isso seria o que a impelia a
sempre tentar corrigir as injustiças, muitas vezes de maneira irresponsável e
se colocando em risco. De início, quando o décimo episódio nos coloca diante
desses longos flashbacks imaginei que
isso quebraria o ritmo da trama, que vinha em uma tensão crescente, mas o episódio
não se detém nesse passado além do necessário e retorna ao presente em seu
terço final.
As cenas de ação permanecem entre
as melhores entre as séries da parceria Marvel/Netflix, com coreografias de
luta elaboradas, que mostram o talento e brutalidade dos heróis e vilões. Como
já virou costume em Demolidor, temos
uma luta em um único plano sequência no corredor de uma prisão e todo o
segmento de Matt abrindo caminho à força em meio a uma rebelião de presos
impressiona pela quantidade de coisas que acontecem simultaneamente na tela. As
lutas entre Matt e Dex são hábeis em retratar os distintos estilos de luta
deles, com Dex tentando manter a distância usando qualquer coisa que tenha mãos
para ferir seu oponente, sendo bem criativo no uso de suas armas improvisadas.
Os aguçados sentidos de Matt, por sua vez, são explorados de maneira inventiva
no segmento em que ele guia o agente Nadeem (Jay Ali) durante uma emboscada em
meio ao trânsito. Tudo isso sem falar na intensa luta final que envolve Matt,
Dex e Fisk, com alianças e prioridades mudando a todo momento, conferindo um
grau de imprevisibilidade ao que pode acontecer.
Com uma exploração consistente
dos dilemas morais dos personagens, vilões bem construídos e excelentes cenas
de ação, a terceira temporada de Demolidor
mostra porque a série a melhor da parceria entre Marvel e Netflix.
Nota: 9/10
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