Faz tempo que procuro um bom RPG
que emule o estilo de RPGs de mesa, tal qual faziam Baldur’s Gate ou Neverwinter
Nights. Minha busca cessou quando encontrei este Pathfinder: Kingmaker, baseado no RPG de mesa Pathfinder (que não conheço, parei com os RPGs de mesa no D&D
3ª Edição). É um jogo com perspectiva isométrica que traz tudo que eu busca em
algo com o clima dos jogos de mesa, mas também traz alguns problemas que
atrapalham a experiência.
Na trama, o personagem criado
pelo personagem é um Pathfinder, um desbravador que precisa conquistar uma área
selvagem e governá-la em meio a um clima de rivalidade entre os dois grandes
reinos vizinhos. É uma narrativa cheia de intrigas políticas e personagens
ambíguos que consegue nos manter interessados do início ao fim.
Como era de se esperar em algo
baseado em um RPG de mesa, o jogador tem bastante liberdade pra criar e
progredir seu personagem, bem como na maneira de resolver as situações.
Dependendo da escolha do jogador, alguns conflitos podem ser resolvidos sem ser
preciso recorrer ao combate.
Falando em combate, o jogo
reproduz bem as amplas habilidades das classes de RPG de papel, construindo uma
grande satisfação em destruir inimigos com um conjunto de poderosas magias de
um mago ou destroçando-os com a fúria de um bárbaro. O senso de aventura, de
descoberta de novas áreas ou a sensação de perigo ao explorar uma masmorra,
temendo pelos perigos e armadilhas escondidas pelo caminho, também é
reproduzido com exatidão.
A questão é quem não é acostumado
às regras de RPGs de mesa (em especial o sistema D20) pode encontrar algumas
dificuldades porque o jogo não faz um trabalho muito bom em explicar o
funcionamento de muitas mecânicas. Quem é pouco familiarizado pode ser perder
diante da amplitude de opções de customização de personagem e escolher um build de personagem equivocado pode
prejudicar muito o processo. Muita coisa eu deduzi pela minha experiência com
D&D, mas ainda assim me deparei com situações nas quais eu não sabia se
estava diante de um bug do jogo ou
havia alguma mecânica da qual eu não estava ciente.
Uma vez, por exemplo, eu estava
lutando com um troll e em dado momento ele caiu, como se estivesse morto, mas
meus personagens continuaram a atacar e o jogo continuava me dizendo que a
criatura ainda estava viva, mesmo sem ele fazer nenhuma ação e seus pontos de
vida estarem em zero. Comecei a achar que era um bug, mas precisei consultar um fórum de internet para descobrir que
mesmo com a vida zerada, o jogo só registrava a morte dele se a habilidade de
regeneração da criatura fosse anulada (com ácido ou fogo). Se o troll tivesse
se levantado e continuado a lutar depois de ter sua vida zerada, essa mecânica
faria sentido, mas do jeito que está é bem confuso e estranho.
Outro exemplo são inimigos de
“enxame” (como enxames de aranhas ou pequenos insetos). Usar espadas, machados
e outras armas praticamente não causa dano a eles, sendo necessário usar
ataques de área (como magias, fogo alquímico ou tochas) para derrotá-los. A
primeira vez que enfrentei esse tipo de inimigo, estranhei o pouco dano
causado, até que lembrei do meu tempo jogando RPGs de mesa e recorri as velhas
táticas. O mesmo aconteceu quando enfrentei esqueletos e percebi que eles
recebiam dano reduzido de armas de corte, precisando usar armas de contusão
(como maças) para causar dano normal. Se eu não tivesse algum conhecimento dos
jogos de mesa, provavelmente me frustraria, já que o jogo pouco fez para me
deixar ciente dessas mecânicas.
Não ajuda que o bestiário dentro
do jogo só traz informações sobre a mitologia envolvendo as criaturas, mas
muito pouco sobre suas fraquezas e resistências. Eu entendo que, de alguma
forma, isso tenta reproduzir o funcionamento dos RPGs de papel no qual os
jogadores interpretam personagem que não tem conhecimento das regras e não é
possível praticar “metajogo”, mas isso poderia ser resolvido in game se fosse permitido um teste de
conhecimento a cada criatura encontrada, uma rolagem de dado bem sucedida faria
os personagens identificarem as forças e fraquezas dos inimigos.
Existem também alguns problemas
de performance, em especial a demora nas telas de carregamento, mesmo para
entrar em espaços pequenos ou para ir ao mapa do mundo, o jogo demora bastante
para carregar. Alguns patches que
saíram desde o lançamento melhoraram um pouco a performance, mas ainda é
demorado para algo que não requer tanto poder gráfico ou de processamento.
Além de explorar masmorras, há
também todo o componente de gerenciar seu próprio reino. Há uma série de
minúcias e atividades para fazer, desde realizar construções, anexar novos
territórios, escolher conselheiros e mandá-los em diferentes missões. Ser um
monarca não é uma tarefa fácil, com muitas demandas sendo mutuamente
excludentes, significando que aceitar a proposta de um determinado setor ou
nação significa atrair a insatisfação de outros grupos. Novas ocorrências
pipocam a todo tempo, dando a impressão de que estamos sufocados por tantos
problemas, nos deixando imersos na constante urgência que é gerenciar um reino.
Para quem só quer se preocupar em rastejar por masmorras, há uma opção para
deixar o gerenciamento do reino no automático sem precisar realizar todas essas
atividades.
Pathfinder: Kingmaker é um competente RPG isométrico que traduz
muito bem a experiência dos RPGs de papel, mas é atrapalhado por uma interface
pouco amigável ao usuário e problemas de performance.
Nota: 7/10
Obs: O jogo está disponível para PC
Trailer
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