Quando escrevi sobre o ano de estreia de Riverdale, mencionei como
a série tinha dificuldade em fazer a sombria trama de assassinato dialogar com
as intrigas colegiais experimentadas pelos protagonistas adolescentes. Essa
segunda temporada se sai melhor nesse aspecto, focando mais nos mistérios do
que na vida estudantil dos personagens, mas ainda teve problemas com tramas que
não funcionavam. A partir desse ponto, o texto contem SPOILERS.
A narrativa começa no ponto em
que a anterior terminou, com o pai de Archie (KJ Apa), Fred (Luke Perry) sendo
baleado por um misterioso homem encapuzado que passa a ser chamado de Capuz
Negro conforme mais pessoas da cidade são atacadas. O assassino parece ter
algum fascínio por Betty (Lili Reinhart), ligando para ela e mandando mensagens
criptografadas. Ao mesmo tempo, o pai de Veronica (Camila Mendes), Hiram (Mark
Consuelos), retorna a Riverdale e começa a comprar propriedades na zona sul da
cidade. Jughead (Cole Sprouse) desconfia dos planos do empresário e decide
investigar o que está acontecendo.
Assim como a primeira temporada,
a narrativa tem uma clara filiação com os temas e estética do noir, desde a cidade sombria, coberta de
névoa e sinais neon que evidenciam os contrastes entre claro e escuro, passando
pelos temas de corrupção e desigualdade social. Como é típico no noir, as duas principais tramas são
cheias de ambiguidades morais e mostram como a estrutura da sociedade existe
para manter os ricos no poder e os pobres sempre jogados à margem. Isso fica
mais evidente na trama envolvendo Jughead e Hiram. Quanto mais Jughead luta
para evitar que o pai de Veronica controle seu bairro, mais ele se afunda na
ilegalidade e se coloca em risco, como se não fosse possível que alguém como
Jughead conseguisse enfrentar um poderio financeiro tão grande.
Confesso que consegui deduzir a
identidade do Capuz Negro logo no início da temporada, mas penso que isso foi
mais pela minha familiaridade com esse tipo de trama de investigação (meu doutorado
foi sobre isso) do que inabilidade do roteiro. Em geral o mistério é bem
envolvente embora seja previsível que o sujeito morto no meio da temporada como
culpado era um despiste.
Falando em despiste, o problema
principal da temporada são as muitas subtramas que não vão a lugar algum ou tem
pouquíssima repercussão. Personagens somem por muitos episódios, reaparecem em
alguns e voltam à irrelevância logo depois, como é o caso de Cheryl (Madelaine
Petsch) ou a que envolve o xerife ter traído a esposa com a prefeita. A
sensação é que muito disso existe apenas para justificar o número maior de
episódios, que foi de treze para vinte e dois e talvez tivesse sido melhor se a
trama fosse mais enxuta como no ano anterior.
Incomoda também que alguns
personagens assumem condutas contrárias ao que foi estabelecido até então. Eu
entendo que Archie estava sendo movido por raiva e medo, mas ainda assim é
estranho vê-lo formar o que é praticamente uma milícia ou ainda se aliar a
Hiram, mesmo sendo bastante evidente que o empresário não tem o menor escrúpulo
e está envolvido em negócios duvidosos. Outra trama que não funciona é a que
envolve o irmão perdido de Betty, o sujeito é tão exageradamente sinistro que
fica difícil de crer que Betty e mãe demorem tanto para perceber que há algo
errado com ele.
É uma pena, pois quando Riverdale foca no que realmente importa,
a relação dos quatro protagonistas, suas famílias e seu senso de comunidade, as
coisas realmente funcionam, mas a temporada mais longa causou mais problemas do
que soluções. Resta torcer para que melhore na terceira temporada.
Nota: 6/10
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