Fui atraído para Killing Eve pela presença da atriz
Sandra Oh, famosa por viver a Christina Yang em Grey’s Anatomy, e o que encontrei foi uma competente história de
espionagem. Criada por Phoebe Waller-Bridge (que interpretou a robô L3-37 em Han Solo) a partir dos romances de Luke
Jennings protagonizados pela espiã Villanelle, a série é carregada de tensão e
suspense conforme suas duas protagonistas caçam uma à outra.
Eve Polastri (Sandra Oh) é uma
funcionária de baixo escalão da inteligência britânica. Entediada com seu cargo
burocrático, ela vê a oportunidade de participar de uma operação de espionagem
quando uma atividade de rotina a coloca diante de uma perigosa assassina russa.
Essa assassina é Villanelle (Jodie Comer), que vive uma vida de luxo por conta
de seu trabalho. Aos poucos essas duas mulheres se tornam obcecadas uma com a
outra, dando início a um tenso jogo de gata e rata.
Seria fácil transformar
Villanelle em uma sociopata genérica, mas tanto o roteiro quanto o trabalho da
atriz Jodie Comer colocam nela tantas camadas de complexidade que a tornam uma
figura magnética sempre que está em cena. A assassina tem um evidente prazer
sádico em matar suas vítimas e não parece ser afetada por essa violência ou
exibir qualquer grau de remorso.
Por outro lado, ela demonstra
realmente se importar com Konstantin (Kim Bodnia), o agente responsável por
gerenciá-la, algo explicitado pela decoração de aniversário que faz para ele.
Ela também exibe um certo grau de imaturidade e uma certa carência infantil, o
que a torna ainda mais perigosa quando contrariada. Tudo isso serve para
conferir humanidade e um certo grau de imprevisibilidade à personagem, que
sempre nos deixa em suspense em relação ao que ela fará a seguir.
Já Sandra Oh evoca com bastante
habilidade o sentimento de alguém que se envolveu em uma situação além da
própria capacidade, já que ela não é uma operativa com o talento ou habilidade
de Villanelle. O modo como ela interage com esse recém descoberto submundo da
espionagem internacional rende inesperados momentos de humor, que servem como
um respiro à tensão constante da trama, à exemplo do diálogo “Se eu te
contasse, teria que te matar” entre Eve e Konstantin. Sandra Oh também é hábil
em construir os sentimentos complexos que Eve tem por Villanelle, uma mistura
de admiração e raiva com algumas pitadas de desejo.
Além do excelente trabalho das
duas protagonistas, a trama é habitada por vários coadjuvantes que nem sempre
são o que aparentam, contribuindo para a atmosfera de suspense, sempre nos
deixando incertos das intenções dos personagens ou do que realmente está
acontecendo. Há uma constante impressão de que mesmo quando descobrimos alguma
coisa, somos bombardeados por ainda mais perguntas, como se estivéssemos
mergulhando em uma toca de coelho sem fim na qual tudo pode acontecer,
lealdades podem mudar e a qualquer momento alguém pode se revelar como um
agente duplo.
A série ainda cria várias cenas
de ação cheias de tensão, em especial a perseguição de Villanelle à um agente
duplo britânico por um campo aberto na qual a espiã parece tão interessada em
eliminar o alvo quanto seus companheiros de equipe. A cena em que Villanelle
invade o apartamento de Eve é outro ponto alto de construção de tensão, mesmo
sem recorrer a lutas ou tiroteios, deixando que o suspense emerja da
complexidade de suas duas protagonistas.
Mesclando com competência e
fluidez o suspense, o drama e até mesmo comédia, Killing Eve é uma envolvente trama de espionagem que nos prende
graças ao seu texto afiado e complexidade de suas protagonistas.
Nota: 9/10
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