Uma garota percebe olhares
diferentes dos colegas de escola. Ela então pega o celular e começa a chorar
com o que vê. Em casa, mensagens abusivas e agressivas chegam a ela via redes
sociais. Sentindo-se acuada, ela grava um vídeo para a mãe que mais soa como
uma carta de suicídio. Tudo isso acontece nos primeiros minutos de Luna e se essa premissa parece mais uma
história trágica de cyberbullying e slut shaming, o que o diretor Cris Azzi
faz a seguir consegue subverter nossas expectativas.
A trama é centrada em Luana
(Eduarda Fernandes), uma adolescente cuja vida é aparentemente banal. Ela faz
amizade com Emília (Ana Clara Ligeiro), recém-chegada à sua escola. A amizade
com Emília faz Luana explorar sua sexualidade e também a frequentar chats de vídeo via internet no qual
Luana conversa com outras pessoas usando uma máscara e nome falso para proteger
a própria identidade.
Durante boa parte da projeção, Luna é uma trama bem típica de
amadurecimento e autodescoberta, mas que conquista pelo carisma e naturalidade
que as intérpretes de Luana e Emília têm juntas. Aos poucos, no entanto, seu
olhar vai passando do amadurecimento para as tensões enfrentadas pelas mulheres
ao explorar o próprio corpo. De um lado há o medo das represálias sociais, o
temor de ser “mal vista” ou criticada por se sentir segura ou confortável
consigo mesma. Do outro, há o temor disso atrair a atenção de predadores, da
violência sexual e abusos físicos.
O filme é eficiente em criar o
clima de desamparo experimentado por Luana uma vez que ela é exposta na
internet, a sensação de estar vulnerável e desprotegida sem ter como resolver a
situação. Esse sentimento é ressaltado pelo modo como a personagem é filmada no
quintal de sua casa, cercada de névoa em um bosque, servindo como uma metáfora
visual para o sentimento de isolamento de Luana.
O terceiro ato, porém, acaba
tratando de maneira muito passageira algumas questões sérias, como o quase
abuso sofrido pela protagonista nas mãos do pai de uma amiga, e toda a questão
de exposição em redes sociais, em especial o fato de Emília decidir filmar
Luana, também é questionada muito rapidamente. Apesar disso, as intenções do
filme se concretizam muito bem no ótimo desfecho no qual Luana enfrenta os
xingamentos na escola ao clamar para si o domínio do próprio corpo, recebendo
também o apoio de alguns colegas, mostrando que não há nada errado em assumir o
próprio corpo.
Desta maneira, Luna se mostra um estudo cheio de
sensibilidade do processo de amadurecimento da juventude feminina e dos
desafios enfrentados por elas.
Nota: 7/10
Esse texto faz parte de nossa cobertura do XIV Panorama Internacional Coisa de Cinema
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