sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Crítica – O Mundo Sombrio de Sabrina


Análise Crítica – O Mundo Sombrio de Sabrina


Review – O Mundo Sombrio de Sabrina
A série O Mundo Sombrio de Sabrina faz pela famosa bruxinha adolescente o mesmo que Riverdale fez pelas histórias de Archie e seus amigos, reinventou-as sob um viés mais sombrio, ainda que mantendo seu ar de drama adolescente. Ambas séries são produzidas por Roberto Aguirre-Sacasa, responsável por reinventar esses personagens (tanto Archie quanto Sabrina) nos quadrinhos. A bruxa se sai melhor que a turma de Riverdale pela liberdade dada pela Netflix, não precisando lidar com questões de classificação indicativa que a série do Archie (visto que o canal CW é TV aberta nos EUA), permitindo que a narrativa realmente embarque em algo sombrio e violento.

Sabrina (Kiernan Shipka) é uma adolescente filha de um bruxo e uma humana que vive com as tias, Hilda (Lucy Davis) e Zelda (Miranda Otto), depois da morte dos pais. Prestes a completar dezesseis anos, ela deve passar por seu “Batismo Sombrio” para se juntar ao grupo de bruxas do qual sua família faz parte. A garota, no entanto, reluta em jurar sua lealdade ao Senhor da Trevas por não querer abrir mão de sua vida como humana e do namorado, Harvey (Ross Lynch).

Kiernan Shipka faz uma Sabrina mais impositiva e confiante, alguém que não teme em enfrentar os adultos e figuras de autoridade em prol do que acredita. É também menos boazinha do que a versão tornada célebre por Melissa Joan Hart na série da década de noventa. Aqui, tal qual em Riverdale, há muito mais espaço para ambiguidades morais e mesmo quando Sabrina age por razões corretas, por vezes realiza atos terríveis com sua magia.

Harvey, por sua vez, não se resume a um mero interesse romântico da protagonista e tem seus próprios conflitos a partir da complicada relação que tem com o pai e os negócios de sua família, dona da mina da cidade. Na verdade, a ideia de que as escolhas dos pais impactam (positiva e negativamente) na vida dos filhos é algo que perpassa os arcos da maioria dos personagens, de Harvey e Sabrina a seus colegas de escola, Roz (Jaz Sinclair) e Susie (Lachlan Watson).

O conflito de Sabrina em relutar entrar para a “religião” da família pode ser entendido como uma metáfora para a imposição religiosa que muitos nós recebem de nossos pais, que nos iniciam dentro de doutrinas religiosas quando temos poucos meses de vida. O tema reflete sobre o modo como isso pode produzir pessoas incapazes de questionar os dogmas impostos por instituições religiosas, ignorando que há uma dimensão bem humana (com ganância e interesses de poder) por trás de discursos de libertação e desenvolvimento espiritual.

A série não se furta em mostrar sangue ou criar imagens verdadeiramente sinistras, evidenciando a natureza macabra das forças sombrias com as quais os personagens lidam cotidianamente. Há momentos genuínos de tensão como a cena em que Sabrina caminha por um labirinto de feno ou o episódio que a família Spellman fica presa em casa com um demônio que invade seus sonhos. Há, no entanto, o típico “inchaço” de muitas séries da Netflix, deixando a impressão de que poderia ter uns dois episódios a menos.

O Mundo Sombrio de Sabrina é uma competente e sinistra reinvenção da famosa bruxinha adolescente, explorando com habilidade o macabro universo que ela habita.

Nota: 8/10


Trailer

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