É impressionante como Hollywood
parece não saber o que fazer com a mítica figura de Robin Hood. Em tese é um
personagem atemporal, afinal enquanto existir desigualdade social a figura de
Robin permanece relevante. Por outro lado, a indústria estadunidense parece
rejeitar veementemente o estilo “capa e espada” (ou swashbuckling em inglês) das histórias do personagem, com
aventureiros charmosos, salões de baile e pessoas se balançando em lustres.
Ridley Scott já tinha tentando
fazer um Robin Hood como épico histórico que falhou miseravelmente e agora essa
nova versão tenta transformar a história do personagem em uma espécie de cópia safada dos filmes dos super-heróis da DC dirigidos pelo Zack Snyder. Considerando que
a própria Warner/DC está se afastando do modelo “snyderiano” (e o sucesso
comercial abaixo do esperado deste formato), este Robin Hood: A Origem é um filme que já nasce datado, superado e
anacrônico. É o equivalente cinematográfico de um bebê natimorto.
Na trama, o nobre Robin de Loxley
(Taron Egerton) retorna das cruzadas para descobrir que o Xerife de Nottingham
(Ben Mendelsohn) confiscou todas as suas propriedades e sua amada Marian (Eve
Hewson) está casada com um líder local Will (Jamie Dornan). Destituído, Robin
acaba se aliando ao mouro John (Jamie Foxx) para derrubar o Xerife.
Esse parágrafo contem SPOILERS. A
narrativa é uma espécie de plágio combinado dos dois primeiros Batmans do
Christopher Nolan (reforçando ainda mais a impressão que os responsáveis
queriam fazer um filme da DC), com o herói retornando à sua cidade natal para
descobrir que foi dado como morto e que os bens de sua família estão em risco.
Robin então cria uma persona heroica
para agir à noite, enquanto banca o playboy
irresponsável durante o dia, tal qual o Bruce Wayne em Batman Begins (2005) Seu interesse romântico está envolvido com uma
emergente figura política e o triângulo amoroso acaba de maneira trágica quando
o rival do protagonista tem o rosto parcialmente queimado e se torna inimigo do
casal, tal qual o segundo Batman do Nolan. A Marian até repete para Robin um
diálogo da Rachel Dawes em Batman, sobre como o playboy é o disfarce e a persona
uniformizada é o verdadeiro “eu” do protagonista. Fim dos SPOILERS.
A cópia não para só no roteiro,
com muitas músicas remetendo aos temas feitos pelo Hans Zimmer para os filmes
do Batman e do Superman. Há uma perseguição de carruagens cuja música é bem
similar a uma das trilhas de O Homem de Aço (2013), enquanto que o tema do assalto no clímax é muito parecido com a
música do assalto perpetrado pelo Coringa no início de Batman: O Cavaleiro das Trevas (2008). Se eu fosse o Zimmer,
estaria procurando meus advogados nesse momento.
Visualmente, é igualmente
derivativo e desprovido de personalidade. A fotografia é cinzenta e sombria praticamente
o tempo todo, com a cidade sendo um amontoado de corredores rochosos
indistintos. Sim, eu sei que a ideia é que Nottingham seja um lugar pobre e
desolado, mas mesmo ambientes miseráveis e corrompidos podem ser visualmente
interessantes, o movimento noir ou o
expressionismo alemão estão aí para não me deixar mentir. As tomadas aéreas da
cidade denotam a artificialidade do espaço ao exibir paisagens digitais pouco
convincentes.
O filme também apresenta escolhas
estranhas em termos de figurino. A maioria dos personagens veste roupas
adequadas ao período, mas o Xerife veste ternos finamente costurados, cuja
sofisticação transcende o período histórico retratado. Poderia ser um
comentário sobre a atemporalidade da exploração dos mais pobres pelos mais ricos,
mas considerando que somente o xerife se veste de maneira tão diferentes e os
outros membros da elite tem roupas mais adequadas ao período, o figurino do
Xerife soa mais como uma escolha deslocada do que feito de modo deliberado para
comunicar alguma coisa. O visual de Robin é uma mistura sem graça e sem cor de algum
design rejeitado da série Arrow e figurinos descartados do filme Assassin’s Creed (2017), falhando em dar
identidade ao herói protagonista.
Taron Egerton, um ator
habitualmente carismático, não tem muito o que fazer com o texto inane e direção
sisuda que recebe, falhando em injetar humor ou charme a Robin. Já Jamie Foxx
fica preso a um papel cuja maioria dos diálogos tem um tom explicativo, ainda
que ocasionalmente consiga divertir com algumas frases de efeito. Em uma
escolha preguiçosa e pouco imaginativa de casting,
Ben Mendelsohn repete o mesmo tipo de burocrata bundão que interpretou em Rogue One (2016) e Jogador Número Um (2018) e a essa altura o ator não tem como
superar o desgaste da repetição. Outros vilões, como o cardeal interpretado
pelo veterano F. Murray Abraham, são tão exagerados em sua vilania que se
tornam caricaturas ridículas.
As cenas de ação são
burocráticas, falhando criar grandes proezas, como as de Legolas na trilogia O Senhor do Anéis, para o protagonista realizar e, assim, carecem de encantamento ou empolgação. Ao invés disso, recorrem
excessivamente a tomadas em câmera lenta que, somadas à montagem picotada,
fazem tudo parecer truncado, excessivamente fragmentado e muitas vezes falhando
em transmitir um senso de coesão espacial.
Robin Hood: A Origem é um daqueles filmes que parecem ter sido
inteiramente concebido por executivos em sala de reunião, não tendo nada a
dizer sobre um personagem tão atemporal e jogando na tela de qualquer jeito uma
colcha de retalhos que combina de modo inconsequente muitas tendências de blockbusters contemporâneos.
Nota: 3/10
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