Imaginei que esta primeira
temporada de She-Ra e as Princesas do
Poder fosse ser mais um desses revivals
de produtos culturais oitentistas que não tinha nada a oferecer para sua
audiência além do apelo da nostalgia. O que encontrei, no entanto, foi o
contrário disso, sendo uma animação muito preocupada com o desenvolvimento dos
seus personagens.
A trama é centrada em Adora.
Nesta nova versão, Adora é uma recruta da Horda, o exército do maligno Hordak.
Ela foi criada desde pequena pela maga Sombria e treinou desde sempre ao lado
da amiga Felina. Durante uma missão de rotina, Adora encontra uma misteriosa
espada mágica e fica presa em uma ruína ancestral ao lado de dois guerreiros da
Resistência, a princesa Cintilante e o Arqueiro. Ao lado dos dois, Adora
descobre as reais intenções da Horda e decide se aliar à Resistência. Munida de
sua nova espada, ela se torna a poderosa She-Ra.
A narrativa não trata apenas
dessa descoberta por parte de Adora de que ela estava do lado errado da guerra,
mas também o processo de aprendizado dela em se tornar a heroína que todos
esperam que ela seja. Aos poucos ela aprende que não pode confiar apenas em
seus poderes, mas que sua capacidade de inspirar as pessoas e dar-lhes uma
razão para lutar e ter esperança é tão importante quanto sua força física.
Há também um cuidado em
desenvolver a complicada relação de amizade/inimizade entre Adora e Felina.
Fica claro que elas se importam uma com a outra apesar de acabarem em lados
opostos, sendo que aquilo que as afasta não é exatamente ideológico e sim uma
certa medida de ressentimento que Felina tem por ter sempre vivido à sombra de
Adora. Assim, as ações de Felina acabam sendo motivadas mais por ego e um
desejo imaturo de mostrar que é capaz de superar Adora do que exatamente por
crueldade. Do mesmo modo, a trama também explora o trauma deixado na
protagonista pela criação recebida de Sombria.
Os demais coadjuvantes também tem
seu espaço para desenvolvimento, em especial a Princesa Cintilante e sua
relação com a mãe. Se de início o fato da rainha não querer que Cintilante
participe ativamente da Resistência pode soar como a conduta de uma mãe
superprotetora e as ações de Cintilante a de uma adolescente rebelde, com o
tempo a trama nos mostra que cada uma delas tem motivações bem mais complicadas
para ser do jeito que é. As demais princesas também se mostram bastante
singulares entre si, tanto em termos de visual, quanto de poderes ou
personalidade, da sempre entediada Serena, para curiosidade voraz de Entrapta,
que muitas vezes a coloca (ou aos demais) em situações de perigo.
O visual acerta na construção de
ambientes que misturam magia e tecnologia, criando um contraste entre os
coloridos reinos das princesas com os corredores metálicos e genéricos da
fortaleza de Hordak. As cenas de ação usam com criatividade os diferentes
poderes das princesas e também servem para demonstrar a força avassaladora de
She-Ra, que derrota destacamentos inteiros do exército inimigo com sua espada.
Também não poderia deixar de mencionar a longa cena de transformação da
personagem, que parece inspirada por animações como Sailor Moon.
Desta forma She-Ra e as Princesas do Poder vai além de um mero exercício de
nostalgia ao construir personagens envolventes e uma heroína que tenta entender
a melhor maneira de ser uma líder.
Nota: 8/10
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