segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

Crítica – Alita: Anjo de Combate

Análise Crítica – Alita: Anjo de Combate


Review – Alita: Anjo de Combate
James Cameron tenta há cerca de vinte anos levar aos cinemas o mangá e anime Gunnm (ou Battle Angel). Nesse meio tempo ficções distópicas voltadas ao público jovem se tornaram um grande filão comercial, atingiram um apogeu e agora caminham ao declínio dado o recente fracasso de produtos como Mentes Sombrias (2017) ou Máquinas Mortais (2018). O timing não poderia ser pior para Alita: Anjo de Combate, dirigido por Robert Rodriguez e produzido por Cameron, mas o que faz dele problemático não é o fato de que talvez o público esteja cansado desse tipo de história.

A história é praticamente a mesma da animação: em um futuro distópico, o doutor Ido (Christoph Waltz) encontra uma garota ciborgue em um ferro-velho e descobre que seu cérebro ainda está intacto. Ele a leva para sua clínica e lhe dá um novo corpo, mas quando a garota não lembra nada sobre o seu passado, nem mesmo seu nome, o doutor decide chamá-la de Alita (Rosa Salazar). Aos poucos Alita demonstra um talento para o combate e isso a coloca na mira de Vector (Mahershala Ali), o sujeito que comanda a cidade.


É curioso que apesar de reconstruir boa parte das cenas-chave do anime e ter o dobro de sua duração, além de referenciar eventos apenas mostrados no mangá, o filme tenha tão pouco a dizer sobre aquele universo ou personagens, talvez menos do que a animação ou o quadrinho, o que é decepcionante considerando que ele tenha bem mais tempo à sua disposição. Sim, os fãs do material original provavelmente vão apreciar a reprodução fidedigna, mas é um fanservice vazio que só repete o que já é conhecido e faz pouco para acrescentar um olhar ou personalidade próprias a esta adaptação.

Talvez parte do problema seja a saturação desse tipo de narrativa, mas tudo aqui soa manjado e lugar comum. Da protagonista desmemoriada que é uma arma viva, à distopia no qual uma pequena elite vive na opulência enquanto uma maioria vive na pobreza, passando pelo cientista bondoso que serve de figura paterna (pensem no Gepeto de Pinóquio ou no Tenma de Astro Boy), até o esporte violento que serve de estratégia para a alienação das massas e fantasia vã de ascensão social, que é incomodamente similar ao que é visto em Rollerball: Os Gladiadores do Futuro (1975). Toda essa colcha de retalhos nunca consegue formar um todo coeso (diferente do anime) ou de personalidade.

Boa parte do bom elenco coadjuvante é mal aproveitado em personagens engessados a lugares comuns e mesmo intérpretes competentes, como Mahershala Ali, tem passagens esquecíveis. O vilão Nova (Edward Norton) é apresentado como uma figura elusiva, poderosa e enigmática, mas como nunca o vemos fisicamente ou sabemos qualquer coisa a respeito de seus planos em relação a Alita ou motivações, ele mais soa como um indivíduo desinteressante e inócuo ao invés de misterioso.

A subtrama romântica entre Alita e Hugo (Keean Johnson) nunca funciona como deveria, em parte por conta do roteiro, que nunca justifica a paixão arrebatadora de Alita pelo rapaz e, assim, cenas como a que a protagonista literalmente retira o coração para oferecer a ele são forçadas e imerecidas. O fato de Hugo ter fornecido a arma usada para Gerwishka (Jackie Earle Haley) que quase mata Alita praticamente não repercute na protagonista, que parece não se importar que as ações do amado tenham posto sua própria vida em risco.

Além das falhas de texto, há a inexpressividade de Keean Johnson, que é uma página em branco em cena, não conseguindo angariar qualquer simpatia pelo seu personagem ou pelo sucesso de seu romance. Na verdade, minha torcida é que ele morresse de uma vez para me livrar de sua presença entediante. Keean Johnson é uma presença tão nula e desprovida de carisma que tira todo o impacto emocional da cena final, já que não conseguimos nos importar com ele. Rosa Salazar, no entanto, é carismática o bastante para tornar sua Alita envolvente, acertando tanto no deslumbramento ingênuo dela com todo esse mundo novo a ser descoberto quanto no lado guerreiro e feroz da personagem.

As cenas de ação são o ponto alto do filme, com a câmera de Robert, ressaltando a força dos ciborgues e as consequências brutais de cada embate, com peças e membros se destroçando para todos os lados.  Quando vemos Alita em ação, de fato sentimos que a protagonista é uma irrefreável máquina de guerra. O design de produção acerta ao misturar influências de diferentes partes do mundo na concepção visual da cidade em que os personagens vivem, denotando o aspecto multicultural do lugar.

Apesar da condução hábil das cenas de ação, Alita: Anjo de Combate acaba sendo uma aventura bem derivativa e sem personalidade. É daqueles filmes que você começa a esquecer assim que sai do cinema.


Nota: 5/10


Trailer

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