A série animada Carmen
Sandiego (1994 – 1999) seguia uma
dupla de jovens detetives que viajava pelo mundo caçando a elusiva ladra que
dava o título à animação. Ela era uma antagonista, mas uma figura envolta em
mistério, que despertava fascínio por sabermos tão pouco a seu respeito, pelo
visual icônico e pela esperteza dos seus assaltos. Este novo Carmen Sandiego mantem o clima de
aventura, mas perde um pouco do suspense.
Carmen (voz de Gina Rodriguez) é uma órfã encontrada por
agentes da V.I.L.E uma agência secreta de supercriminosos que se dedica a enriquecer
roubando objetos valiosos. Ela é treinada desde cedo para ser uma hábil agente,
sem saber o real propósito da organização. Quando finalmente descobre que está
trabalhando para um grupo de ladrões, ela abandona a V.I.L.E e se dedica a
recuperar os itens roubados por eles com a ajuda do hacker Player (voz de Finn Wolfhard, o Mike de Stranger Things).
Sim, a nova versão transforma a protagonista de vilã em
heroína. Isso não é um problema em si, mas a transição tira dela muito de sua
mística e senso de mistério, principalmente pelos dois primeiros episódios já
começarem contando a origem da personagem. Os demais não tem muito
desenvolvimento. Zack e Ivy, que animação original caçavam Carmen, agora são
seus ajudantes, mas não há muito espaço para eles crescerem. Player, por sua
vez, se limita a ser uma voz de auxílio. O principal incômodo vem do inspetor
Deveraux, que é tão atrapalhado e equivocado em suas conclusões que o tempo
todo me perguntei porque a agência ACME o recrutou.
Os vilões chamam atenção pelos visuais excêntricos, mas são
o típico bando de criminosos sem escrúpulo e só no último episódio da temporada
há alguma mudança em um deles. Falta, no entanto, o desenvolvimento e
complexidade de outras animações recentes, como She-Ra e as Princesas do Poder, também da Netflix.
A série mantem o lado pedagógico da série original (e também
dos antigos jogos de videogame) ao usar as aventuras ao redor do mundo para
educar o público sobre a história, cultura, sociedade e política dos países
visitados. Nem sempre essa costura da dimensão “educacional” da série é bem
costurada no roteiro, mas em geral é um esforço louvável e talvez um de seus
principais méritos o de tentar expandir o repertório cultural do espectador,
algo que serve a crianças e adultos.
As cenas de ação e execução dos roubos são competentes e
servem bem ao clima aventuresco da série, com Carmen usando principalmente sua
esperteza e engenhosidade para superar tanto a polícia quanto os criminosos que
estão em seu encalço. Mesmo sendo uma narrativa para um público
infanto-juvenil, a série consegue criar um senso de perigo e que Carmen pode
realmente se machucar ou pior caso os ladrões da V.I.L.E levem a melhor sobre
ela.
Focando mais na aventura do que nos personagens, Carmen Sandiego é movimentada e esperta o
suficiente para funcionar como um bom entretenimento, ainda que não seja tão
marcante quanto a original.
Nota: 7/10
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