quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

Crítica – High Flying Bird


Análise Crítica – High Flying Bird


Review – High Flying Bird
O diretor Stephen Soderbergh continua a experimentar com novos dispositivos ou meios de distribuição. Em High Flying Bird, produzido pela Netflix, o diretor volta a filmar usando iPhone tal como fez em Distúrbio (2018). Escrito por Tarell Alvin McCraney, responsável pelo texto de Moonlight: Sob a Luz do Luar (2016), o filme se passa nos bastidores a NBA, a liga de basquete dos Estados Unidos.

Na trama, a temporada está paralisada há meses por conta de um impasse nas negociações entre jogadores e cartolas. Por conta disso ninguém está sendo pago, incluindo o agente esportivo Ray Burke (André Holland) que corre o risco de perder o emprego caso a paralisação não seja resolvida. O principal cliente de Ray, Erick Scott (Melvin Gregg), um jovem jogador que acabou de ser contratado pelos Knicks, também está sendo prejudicado. Diante dos problemas, Ray decide armar uma situação arriscada para forçar a situação a se resolver.

O que começa como um drama ao estilo Jerry Maguire: A Grande Virada (1996) logo se torna uma espécie de filme de golpe ou filme de assalto conforme Ray cria estratégias para tirar o foco das negociações e trazer de volta para os jogadores. O agente não faz isso para sabotar a NBA, mas justamente o amor ao jogo em si que, para ele, se perdeu em um pensamento apenas focado em negócios, marcas e politicagens internas da cartolagem, um “jogo dentro do jogo” como diz o veterano treinador Spence (Bill Duke).

Há quase um paralelo entre o que faz Ray, atuando à margem para mostrar que a NBA não tem tanto poder sobre os jogadores quanto pensa, com as ações de Soderbergh em tentar trabalhar longe dos grandes estúdios, pensando em outras maneiras de filmar e distribuir. É como se o próprio Soderbergh quisesse mostrar que também está farto das politicagens internas dos grandes estúdios, revelando outros caminhos na esperança que essas velhas estruturas de poder sejam remanejadas.

O texto de McCraney também aborda questões de racismo dentro da indústria esportiva, lembrando que o basquete é um esporte criado e comandado por brancos que só integraram nos negros na década de 50 quando era impossível negar que o talento e influência deles transformara o esporte. Através de Spence e de entrevistas com jogadores, o filme nos mostra como jovens imaturos e inexperientes são rapidamente transformados em mercadorias, deixados despreparados para lidar com as complexas questões financeiras (como impostos e taxas de agentes) ou com a politicagem interna da Liga.

Muito disso, no entanto, acaba sendo excessivamente expositivo, principalmente as entrevistas, que soam deslocadas do restante do filme. A impressão é que McCraney e Soderbergh simplesmente pegaram material da pesquisa prévia para fazer o filme e enfiaram no corte final.

Tal como aconteceu em Distúrbio, Soderbergh filma com muitos planos estáticos e ocasionais tomadas com a câmera acompanhando os personagens. Assim como seu filme anterior, as intenções do diretor mais parecem de mostrar como dispositivos móveis podem produzir imagens muito próximas dos resultados com câmeras convencionais do que buscar novas maneiras de filmar a partir desses dispositivos. Se, no entanto, em Distúrbio as escolhas estéticas também exibiam uma função clara de criar uma atmosfera de opressão e claustrofobia, aqui não parece haver um projeto estético tão diretamente integrado com os meios que ele usa para filmar.

Apesar desses problemas, High Flying Bird é uma competente mistura de drama e suspense sobre as problemáticas estruturas de poder do mundo do esporte.


Nota: 7/10

Trailer

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