Kingdom Hearts (2002)
foi a principal razão para eu querer um Playstation 2. A mistura entre Disney e
Final Fantasy em uma roupagem de RPG
de ação me soava fascinante e, quando finalmente consegui o console em 2005,
ele não me decepcionou. Kingdom Hearts 2
chegou um ano depois, em 2006, e ainda considero um dos melhores jogos do PS2,
melhorando em praticamente tudo do original. O tempo passou e nada de Kingdom Hearts 3 sair, uma geração
inteira de consoles chegou e acabou sem que o terceiro capítulo da história de
Sora tivesse sido lançado. Claro, tiveram vários spin-offs, prelúdios, etc, que preenchiam lacunas ou contavam
histórias paralelas (joguei todos, por sinal), mas uma entrada “numerada” não
saía, até que este ano, treze anos depois do segundo jogo, finalmente recebemos
o encerramento da trilogia e ele é tudo que os fãs esperavam.
A trama começa logo depois dos eventos de Kingdom Hearts: Dream Drop Distance, com
Sora e Riku encerrando seus testes de maestria da keyblade e partindo para
localizar os sete guardiões da luz para enfrentar a nova Organization XIII
criada por Xehanort. Como de costume, a jornada leva Sora, Donald e Pateta por
diferentes mundos baseados em filmes da Disney (e agora da Pixar também), como Frozen (2013), Enrolados (2010) ou Monstros
S.A (2001).
Como a narrativa é uma culminação de tudo que aconteceu em
todos os jogos (mesmo os spin-offs) é
necessária alguma familiaridade com os eventos anteriores para compreender o
que está acontecendo e mesmo assim alguns elementos soarão confusos. Sim, os
próprios personagens brincam com o fato tudo ter se tornado tão complexo ao
ponto de ficar quase incompreensível, com viagens no tempo, personalidades
alternativas e tudo mais. A questão é que mesmo com o jogo oferecendo algumas
recapitulações não diria que é de fácil entrada para novatos. Os momentos de
maior força emocional, como o reencontro com Aqua ou Ventus, podem não ter
impacto nenhum em que não está familiarizado com a história da franquia nem
compreende plenamente o peso desses retornos.
Incomoda um pouco o fato da trama constantemente reduzir
Kairi ao papel de donzela em perigo a ser resgatada por Sora, afinal Kairi é
também uma usuária da keyblade e não faz sentido que ela seja menos capaz do
que os outros. A ausência de personagens de Final Fantasy também é sentida, já
que Squall, Cloud e outros desempenhavam papéis importantes nos dois primeiros
jogos e aqui eles desaparecem por completo, com os moogles sendo o único
elemento de Final Fantasy verdadeiramente presente. Não sei até que ponto foi
uma decisão criativa ou uma imposição da Disney, que não queria dividir os
holofotes de seus personagens, mas considerando o quanto Kingdom Hearts 3 é competente em oferecer desfechos a praticamente
todos os arcos desenvolvidos ao longo da franquia, é uma pena que não tenhamos
um encerramento para personagens que tiveram conosco desde o começo.
O combate é mais acelerado e grandiloquente do que qualquer
outro exemplar da franquia, incorporando os finalizadores de Kingdom Hearts 0.2 Birth By Sleep: A
Fragmentary Passage (a franquia tem títulos bem aloprados) e adicionando
uma gama de novos elementos. Sora agora pode transformar sua keyblade e cada
arma oferece uma transformação diferente, seja em escudo, pistolas ou lança.
Como é possível equipar até três e mudá-las durante o combate, isso abre um
grande leque de possibilidades estratégicas. O protagonista também pode invocar
atrações dos parques da Disney para usar durante o combate, como ao longo do
jogo também adquire o poder de invocar alguns personagens como Simba (de O Rei Leão) ou Ariel (de A Pequena Sereia). O resultado é uma
ágil coreografia de luzes e cores enquanto os personagens despacham hordas de
inimigos, resultando no melhor sistema de combate da franquia.
A quantidade de membros do grupo também aumenta. Se antes
Sora só podia levar consigo dois outros personagens, o que implicava que Donald
ou Pateta precisariam ficar de fora para Sora pudesse lutar ao lado dos
personagens de cada mundo, agora é possível levar até quatro. Assim, é possível
deixar Sora lutar ao lado de Buzz e Woody ou de Mike e Sully sem sacrificar a
progressão de personagens fixos como Donald e Pateta. Tal como no segundo jogo,
Sora também pode fazer ataques em conjunto com os membros de seu grupo,
ampliando suas táticas em combate.
Falando nos personagens Disney, o trabalho de dublagem é
ótimo, conseguindo na maioria dos casos trazer de volta o elenco original das
animações, como no caso de Frozen e Operação Big Hero (2014), ou ao menos
conseguindo vozes bem similares, como em Monstros
S.A. A exceção fica por conta do mundo de Piratas do Caribe, no qual as
vozes de Elizabeth Swann, Will Turner ou Barbossa em nada parecem com os
personagens originais, causando bastante estranhamento. A música traz de volta os temas marcantes dos outros jogos, bem como as canções dos filmes que inspiram cada universo (acharam que não ia ter Let it Go?), além de trazer novos temas cantados por Utada Hikaru, responsável pelas canções dos dois outros games.
Os mundos trazem grandes espaços abertos a explorar e são
visualmente fieis aos seus filmes de origem, alguns até mudam o estilo gráfico
do jogo. Tudo, incluindo Sora, Donald e Pateta, se torna mais fotorrealista no
mundo de Piratas do Caribe, enquanto no mundo do Ursinho Pooh os gráficos se
alteram para um estilo em cel shading que
remete a animações bidimensionais. Cada mundo também oferece suas próprias
mecânicas, oferecendo variedade na jogabilidade, como a possibilidade de
pilotar robôs gigantes no mundo de Toy
Story ou de navegar pelos oceanos no mundo de Piratas do Caribe, que funciona quase como uma versão
“disneyficada” de Assassin’s Creed: Black
Flag.
Existem também vários atividades secundárias como a coleta
de itens para criar equipamentos, os puzzles
no mundo de Pooh ou os minigames culinários envolvendo o ratinho Remy de Ratattouille (2007). As comidas feitas
com Remy servem para dar diferentes bônus temporários aos personagens e as
diferentes combinações de entrada, prato principal e sobremesa também fornecem
bonificações próprias, oferecendo bastante espaço para experimentação de
combinações diferentes.
A Gummi Ship retorna como o veículo de viagem entre os
mundos, agora oferecendo um espaço aberto de exploração (pensem nos segmentos
de voo livre em Star Fox) ao invés de
fases de tiro de progressão linear. Nesses espaços abertos existem itens a
coletar para melhorar a nave e missões de combate, dando muito o que fazer e
explorar. No entanto, quem quiser (já que os segmentos de nave sempre foram
divisivos na franquia) pode reduzir o uso da Gummi Ship ao mínimo, já que ela
só é necessária para chegar aos mundos ainda não visitados. Uma vez tendo
visitado qualquer mundo é possível viajar a ele diretamente sem necessidade da
nave.
Kingdom Hearts 3 é um excelente e emocionante desfecho
para a trilogia iniciada há mais de uma década. Resolvendo todas as tramas,
ampliando a jogabilidade e apontando novos rumos.
Nota: 8/10
Obs: O jogo está disponível para PS4 e Xbox One
Trailer:
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