terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

Crítica – No Portal da Eternidade


Análise Crítica – No Portal da Eternidade


Review – No Portal da Eternidade
Há um estranhamento inicial em ver Willem Dafoe, um homem de 63 anos, interpretando o pintor Vincent Van Gogh em seus últimos dias, morrendo aos 37 anos. Não é nada que prejudique a imersão no filme ou existe qualquer problema na interpretação de Dafoe, só comento porque é uma escolha de casting bem curiosa.

A narrativa acompanha Van Gogh (Willem Dafoe) no período que ele passou morando no interior da França, no qual ele produziu um enorme número de pinturas, mas também foi acometido por sucessivos ataques de ansiedade, sendo eventualmente internado em um sanatório.

O diretor Julian Schnabel, do ótimo O Escafandro e a Borboleta (2007), parece tentar aqui construir uma experiência sensorial, nos fazendo ver o mundo do modo como Van Gogh via. Ele faz isso pelo uso de cores fortes e do contraste entre essas cores, criando imagens que parecem saídas diretamente de pinturas, como na cena em que o verde intenso das árvores é contrasta com os fortes tons de dourado da luz solar que banha suas copas.

Essa opção de nos colocar na ótica do protagonista também é sentida na maneira como Schnabel escolhe filmar os diálogos. As pessoas com quem Van Gogh conversa são filmadas em closes extremos, como se elas estivessem se inclinando na direção da câmera ou a câmera tivesse dado um zoom a mais nos rostos dele. A aproximação tenta criar um senso de desconforto por conta dessa proximidade extrema, como se os personagens estivessem invadindo nosso espaço pessoal, para transmitir o desconforto social de Van Gogh.

Willem Dafoe é ótimo em construir o tormento interno de Van Gogh, sendo capaz de nos mostrar toda a angústia e ansiedade do pintor apenas com o seu olhar ou algumas expressões faciais. A habilidade de Dafoe em externar com tanta nuance o conflito interior do protagonista é dá força ao filme, pois o roteiro enche o personagem de diálogos expositivos nos quais ele constantemente fala como se sente sem criar muitas situações para nos mostrar isso. Há também uma grande quantidade de exposição no modo como o filme tenta contextualizar o espectador sobre o estilo do pintor e tudo soa como uma grande videoaula ao invés de fluir com organicidade.

Outro problema é que a despeito de toda a complexidade dos sentimentos de seu protagonista, o filme acabe reduzindo-o ao clichê do gênio incompreendido e do artista à frente de seu tempo. Assim a observação feita sobre o protagonista tem muito pouco a oferecer em termos de insights a seu respeito, meramente reproduzindo sensos comuns amplamente disseminados e com muito pouco que já não tenha sido dito.

No Portal da Eternidade acerta na interpretação contemplativa de Willem Dafoe e em algumas escolhas visuais, mas acaba reduzindo a trajetória de seu biografado a um punhado de chavões comuns.


Nota: 6/10

Trailer

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