quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Crítica – Querido Menino


Análise Crítica – Querido Menino


Review – Querido Menino
Filmes sobre abuso de drogas sempre correm o risco de cair em extremos. Por um lado pode pesar a mão no retrato do problema e assumir um tom excessivamente professoral fazendo toda a história funcionar como um conto de cautela. Por outro, há o risco de suavizar a questão para oferecer uma catarse ao espectador e não mandá-lo para casa se sentindo mal com tudo que viu, resultando em um “feel good movie” que realiza um retrato raso da questão. Querido Menino, que é baseado em uma história real, pode não pesar a mão no componente trágico da história de seus personagens, mas ainda assim termina soando como um filme educativo.

A trama é centrada em David Sheff (Steve Carell), um jornalista que precisa lidar com o problema de drogas do filho, Nic (Timothée Chalamet). Acompanhamos da dupla ao longo dos anos, com a idas e vindas de Nic a centros de reabilitação, bem como flashbacks da infância do personagem que mostram como ele foi amado e bem cuidado pelo pai.

Chalamet é excelente ao construir o senso de angústia jovem de Nic, alguém que se sente alienado do mundo, perdido, inadequado que sabe que tem um problema e que ainda assim cede aos impulsos destrutivos. Em alguns momentos sua cadência de fala e linguagem corporal chegou a me lembrar de James Dean em Juventude Transviada (1955). Chalamet também é hábil em apresentar o lado manipulativo e dissimulado do viciado, tentando fazer seus pais se sentirem culpados para forçá-los a continuar ajudando mesmo quando Nic não demostra interesse de mudar.

Carell, por sua vez, carrega muita dor em seu olhar. Seu David parece estar constantemente se questionando o que fez de errado no passado ou se o que está fazendo no presente é o certo. Ele quer ajudar o filho a melhorar e se sente impotente ao saber que as coisas não estão dentro do seu alcance e mesmo seu afeto ou cuidado sozinhos não são capazes de corrigir o que está errado com Nic.

A quantidade de flashbacks à infância de Nic acaba redundante com o passar do tempo, já que eles servem para martelar o tempo todo o quanto o protagonista foi amado e bem cuidado pelos pais, a vida de oportunidade que ele sempre teve e tudo mais. São em momentos como esse que o filme assume seu tom professoral de “Estão vendo? Pode até acontecer e famílias unidas e amorosas!” o que acaba sendo um pouco condescendente e também reduz a jornada dos personagens a um mero conto de cautela que pede aos pais que prestem atenção aos seus filhos. A impressão de um filme de cunho educativo se confirma nas cartelas finais, cujos letreiros pesam a mão no didatismo ao falar sobre a questão do vício.

Como boa parte da trama é contada do ponto de vista David, muitas vezes não temos uma completa noção das dificuldades ou perigos enfrentados por Nic, o que tira um pouco o peso da situação. Claro, a escolha de focar em David certamente visa mostrar as consequências que um viciado traz para sua família e o texto é eficiente em mostrar como isso afeta o psicológico de David, mas ao mesmo tempo, nunca atinge a devastação que o roteiro tenta sugerir por conta de David e sua ex-mulher serem pessoas com amplo conforto material e assim eles nunca ficam a perigo de se endividar ou perder tudo por conta de Nic, sendo relativamente fácil para eles continuarem a dar todo o apoio que o filho precisa.

Assim, Querido Menino vale pelo trabalho de Timothee Chalamet e Steve Carell, que sustentam o filme mesmo quando ele pesa a mão no didatismo.


Nota: 7/10

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