Filmes sobre abuso de drogas sempre correm o risco de cair
em extremos. Por um lado pode pesar a mão no retrato do problema e assumir um
tom excessivamente professoral fazendo toda a história funcionar como um conto
de cautela. Por outro, há o risco de suavizar a questão para oferecer uma
catarse ao espectador e não mandá-lo para casa se sentindo mal com tudo que
viu, resultando em um “feel good movie”
que realiza um retrato raso da questão. Querido
Menino, que é baseado em uma história real, pode não pesar a mão no
componente trágico da história de seus personagens, mas ainda assim termina
soando como um filme educativo.
A trama é centrada em David Sheff (Steve Carell), um
jornalista que precisa lidar com o problema de drogas do filho, Nic (Timothée
Chalamet). Acompanhamos da dupla ao longo dos anos, com a idas e vindas de Nic
a centros de reabilitação, bem como flashbacks
da infância do personagem que mostram como ele foi amado e bem cuidado pelo
pai.
Chalamet é excelente ao construir o senso de angústia jovem
de Nic, alguém que se sente alienado do mundo, perdido, inadequado que sabe que
tem um problema e que ainda assim cede aos impulsos destrutivos. Em alguns
momentos sua cadência de fala e linguagem corporal chegou a me lembrar de James
Dean em Juventude Transviada (1955).
Chalamet também é hábil em apresentar o lado manipulativo e dissimulado do
viciado, tentando fazer seus pais se sentirem culpados para forçá-los a
continuar ajudando mesmo quando Nic não demostra interesse de mudar.
Carell, por sua vez, carrega muita dor em seu olhar. Seu
David parece estar constantemente se questionando o que fez de errado no
passado ou se o que está fazendo no presente é o certo. Ele quer ajudar o filho
a melhorar e se sente impotente ao saber que as coisas não estão dentro do seu
alcance e mesmo seu afeto ou cuidado sozinhos não são capazes de corrigir o que
está errado com Nic.
A quantidade de flashbacks
à infância de Nic acaba redundante com o passar do tempo, já que eles servem
para martelar o tempo todo o quanto o protagonista foi amado e bem cuidado
pelos pais, a vida de oportunidade que ele sempre teve e tudo mais. São em
momentos como esse que o filme assume seu tom professoral de “Estão vendo? Pode
até acontecer e famílias unidas e amorosas!” o que acaba sendo um pouco
condescendente e também reduz a jornada dos personagens a um mero conto de
cautela que pede aos pais que prestem atenção aos seus filhos. A impressão de
um filme de cunho educativo se confirma nas cartelas finais, cujos letreiros
pesam a mão no didatismo ao falar sobre a questão do vício.
Como boa parte da trama é contada do ponto de vista David,
muitas vezes não temos uma completa noção das dificuldades ou perigos
enfrentados por Nic, o que tira um pouco o peso da situação. Claro, a escolha
de focar em David certamente visa mostrar as consequências que um viciado traz
para sua família e o texto é eficiente em mostrar como isso afeta o psicológico
de David, mas ao mesmo tempo, nunca atinge a devastação que o roteiro tenta
sugerir por conta de David e sua ex-mulher serem pessoas com amplo conforto
material e assim eles nunca ficam a perigo de se endividar ou perder tudo por
conta de Nic, sendo relativamente fácil para eles continuarem a dar todo o
apoio que o filho precisa.
Assim, Querido Menino vale
pelo trabalho de Timothee Chalamet e Steve Carell, que sustentam o filme mesmo
quando ele pesa a mão no didatismo.
Nota: 7/10
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