Desde sua divulgação Shazam!
se vendia como uma espécie de Quero
Ser Grande (1988) com super-heróis e, bem, o resultado final é exatamente
isso. Uma mistura de comédia e aventura que remete ao mesmo padrão e estrutura
das coisas que a Marvel vem fazendo, com tudo de bom e ruim que isso acarreta.
Billy Batson (Asher Angel) é um jovem adolescente que
constantemente foge dos lares adotivos nos quais reside para tentar encontrar a
mãe biológica, de quem se perdeu quando ainda era muito novo. Ele acaba indo
parar na Filadélfia e é colocado em um novo lar adotivo, no qual conhece Freddy
(Jack Dylan Grazer), um jovem deficiente, que caminha com ajuda de muletas e fã
de super-heróis. Um dia Billy é transportado para a caverna na qual vive o mago
Shazam (Djimon Hounsou), que transfere seus poderes Billy, transformando-o em
um herói (Zachary Levi) capaz de proteger o mundo dos monstros que representam
os sete pecados capitais.
O filme reverbera temas de poder e responsabilidade de
maneira relativamente similar ao que fez Homem Aranha: De Volta ao Lar (2017), com o protagonista se deslumbrando com a
possibilidade de ser super-herói, relegando os amigos e seu cotidiano escolar.
Também trabalha com a noção de família, em especial com a ideia de que família
não apenas aquela na qual nascemos, mas também a que escolhemos. Nesse sentido,
o filme acerta ao apresentar o lar adotivo de Billy com um espaço de
acolhimento e aceitação, evitando o clichê típico de representar esses lugares
como um espaço de abandono e maus tratos.
É nessa família, em especial na relação com Freddy, que
reside o coração do filme, tanto em termos de humor quanto de drama. O garoto
Jack Dylan Grazer é ótimo em mostrar a empolgação e sarcasmo de Freddy ao mesmo
tempo que deixa brechas para que percebamos o quanto disso é também um
mecanismo de defesa do garoto e uma tentativa de ser notado como algo mais além
de um deficiente. Do mesmo modo Zachary Levi é bastante convincente ao dar a
impressão de ser uma criança em corpo de adulto, deslumbrado e embasbacado com
sua própria transformação.
Muito do humor reside nisso, no fato de ser um adulto com
mente de criança, e na maioria das vezes funciona, embora seja incoerente com
certas informações que a trama dá respeito do personagem. O mago diz que a
transformação dará a Billy a sabedoria de Salomão (uma referência ao sábio rei
bíblico), mas em momento algum do filme o personagem, o super-herói Shazam,
demonstra isso. Sim, é dito também que ele não alcançou todo o seu potencial,
mas se ainda assim ele consegue ter acesso à sua força, velocidade e
resistência, porque não haveria de ter acesso a essa sabedoria? Assim, tal como
acontece em muitos filmes da Marvel, o humor soa por vezes deslocado e
ocasionalmente sabota a dramaticidade de algumas cenas.
O arco narrativo de Billy envolvendo a aceitação de sua
família adotiva funciona porque o filme consegue criar uma dinâmica crível de
afeto e apoio entre os membros da família. Por outro lado, a resolução de todo
esse conflito entre busca pela família biológica contra aceitação da família
adotiva é resolvido em uma reviravolta relativamente previsível.
O vilão Dr. Silvana (Mark Strong) tem uma motivação
convincente, servindo de lembrete para o que pode acontecer quando uma criança
cresce sob constantes maus tratos e Mark Strong é mais que capaz de impor uma
presença sinistra. A questão é que ao adquirir seu poder o plano de Silvana
é...bem...ele não tem exatamente um plano, é tudo muito vago e assim a ameaça
que ele deveria representar acaba diminuída. Sim, os sete pecados são forças
primordiais de destruição, mas Silvana não é exatamente um fantoche deles e
demonstra ter autonomia para agir, desta maneira acaba faltando a ele um plano
ou desejo específico do que fazer com todo esse poder, principalmente em um
universo já existem heróis extremamente poderosos e conhecidos como Superman ou
Aquaman.
As cenas de ação são bem realizadas, demonstrando a força e
a velocidade do herói e do vilão, mas, ao mesmo tempo, não oferecem nada que
realmente empolgue ou nos faça pular da cadeira. Em alguns momentos apresenta
ideias interessantes como Billy retornando a sua forma de criança para esquivar
do golpe de um dos sete pecados, mas na maioria do tempo não tem nada que já
não tenhamos visto antes.
No fim, Shazam! vale
a pena pelo senso genuíno de unidade familiar que seus personagens transmitem e
pelo seu senso de humor, ainda que faça pouco para sair do molde de histórias
recentes de super-heróis.
Nota: 6/10
Trailer
Nenhum comentário:
Postar um comentário