Eu fiquei bastante surpreso com a primeira temporada de She-Ra e as Princesas do Poder. Era uma
reinvenção competente da animação oitentista que conseguia trazer uma
inesperada camada de complexidade aos seus personagens em relação ao
maniqueísmo quadrado do produto original. Esse segundo ano segue essa mesma
abordagem de adicionar camadas aos seus heróis e vilões, mas a curta duração
impede que tenha o mesmo impacto do ano de estreia.
Com apenas sete episódios, quase metade em relação aos treze
da primeira temporada, esse segundo ano começa no ponto em que o anterior
terminou. Adora está treinando para dominar seus poderes como She-Ra, as princesas
tentam se organizar para conter o avanço de Hordak e Felina tenta encontrar um
jeito de neutralizar Adora.
Se a primeira temporada era sobre Adora (e em certa medida
as outras princesas também) descobrir o próprio poder, essa segunda é sobre
como a protagonista lida com o peso da responsabilidade de saber que ela
carrega nas costas o destino da resistência contra Hordak. Esse peso cria
inseguranças em Adora, principalmente por ela saber que a última She-Ra foi, de
alguma maneira, responsável por parte da destruição de Etéria. Assim, ela se
torna obcecada em entender o que aconteceu para evitar que os problemas do
passado voltem a se repetir.
Ao mesmo tempo, a trama expande alguns personagens,
contribuindo para dar a eles maior complexidade, como o episódio que foca no
passado de Sombria, mostrando que ela já teve uma vida normal e que a sua queda
para as sombras, ainda que motivada por uma sede de poder, foi também pelo
desejo de proteger as pessoas ao seu redor. O episódio também ajuda a entender melhor
a complicada relação entre Sombria e Felina, mostrando como a feiticeira tentou
evitar que Felina trilhasse o mesmo caminho que ela.
A trama também mostra como a curiosidade científica de
Entrapta, desprovida de um compasso ético ou moral que a norteie, apenas a
direciona ainda mais na direção de Hordak e em contribuir com os propósitos da
Horda. Claro, a personagem não parece motivada por malícia ou crueldade, mas
por mais ingenuamente curiosa que ela seja, é difícil crer que alguém tão
inteligente não pare por um segundo sequer para questionar as consequências de
suas ações ou com o que ela está contribuindo, já que Hordak não conta a ela a
totalidade de seu plano.
A complicada relação entre Felina e Adora continua sendo um
dos pontos focais da trama. Mostrando como muito da motivação de Felina se dá
pelo seu senso de carência e abandono, já que sob a ótica da personagem, ela
foi abandonada pelas pessoas que mais admirava, tanto Adora quanto Sombria. Do
mesmo modo, a narrativa mostra como Scorpia tem uma amizade e carinho
verdadeiros por Felina, inclusive salvando Felina de seus impulsos mais
destrutivos. Isso ajuda a dar mais complexidade a Scorpia, evitando que ela
seja uma mera capanga.
O principal problema, no entanto, é que todos esses
desenvolvimentos acabam não culminando em coisa alguma. Se na primeira
temporada os eventos desembocavam no climático confronto entre as princesas e a
Horda, aqui a temporada termina em um gancho que faz pouco para dar a sensação
de que a temporada contou uma história com começo, meio e fim ou que deu
encerramento aos arcos que iniciou. A sensação mais parece de que assistimos
apenas a metade de uma temporada do que uma temporada inteira, que estabeleceu
as bases e conflitos, mas não ofereceu nenhuma medida de solução ou fechamento.
Não sei exatamente o que motivou o menor número de episódios nessa segunda
temporada, mas a narrativa é prejudicada pelo pouco tempo, terminando em uma
interrupção abrupta e incompleta ao invés de encerrar um ciclo na jornada
daquelas pessoas.
Em sua segunda temporada, She-Ra e as Princesas do Poder continua a dar complexidade aos seus
personagens, mas peca por um final sem impacto que mais parece uma trama
abandonada pela metade do que uma narrativa completa.
Nota: 7/10
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