Eu já estou calejado quanto à decepcionante produção de
longas metragens originais da Netflix. Sempre que algo parece minimamente
promissor, o resultado final geralmente é algo morno. Ainda assim, fui
esperançoso assistir Entre Vinho e
Vinagre por ser a estreia da talentosa comediante e roteirista Amy Poehler
como diretora. O produto final, porém, parece algo feito ao “estilo Adam
Sandler de produção” no sentido de que todo filme parece ter sido feito para
que Poehler saísse em uma viagem de férias com as amigas. Em si isso não teria
problema se o filme rendesse algo bacana, mas do jeito que está parece que o
elenco se divertiu bem mais que o espectador.
A trama segue um grupo de amigas que se reúne depois de anos
para comemorar o aniversário de Rebecca (Rachel Dratch), que está fazendo
cinquenta anos. Abby (Amy Poehler) alugou uma casa na região dos vinhedos da
Califórnia para comemorar o aniversário da amiga e montou todo um itinerário da
viagem, mas sua natureza controladora começa a incomodar as demais. Com o
tempo, a alegria do reencontro vai dando vazão a ressentimentos antigos entre
elas.
Poderia ser uma ótima “dramédia” considerando o talento do
elenco principal composto por nomes como Maya Rudolph, Paula Pell ou Ana Gasteyer,
mas o resultado é tão morno e inane que não envolve nem como drama nem como
comédia. O elenco claramente exibe uma excelente química juntas, já que são
atrizes que se conhecem e trabalham lado a lado faz tempo. É possível perceber
como muitos diálogos e cenas foram improvisados entre elas, a questão é que
toda essa química raramente é aproveitada para cenas interessantes de um ponto
de vista cômico ou dramático. Na maioria das vezes apenas as vemos cantando
juntas músicas antigas ou tentando fazer humor a partir de frases de efeito que
não tem o impacto que deveriam.
Quando o filme chega na marca de mais ou menos uma hora de
projeção a trama entra mais na parte do drama conforme os conflitos começam a
emergir. Imaginei que nesse momento as coisas começassem a engrenar conforme o
texto coloca essas mulheres para confrontarem a convenção social de que os
melhores anos de suas vidas já passaram e que precisam se conformar com o que
virá a seguir, além de lidarem com seus problemas individuais. Mais uma vez,
porém, todos esses conflitos não são desenvolvidos de maneira satisfatória,
talvez pelo filme possuir muitas personagens, não conseguindo sair da
superfície deles e resolvendo tudo de maneira muito fácil e muito rápida no
final.
Claro, existem alguns momentos competentes, como a cena em
que Abby e as amigas vão a uma exposição de arte de alguns jovens hipsters e desenvolvem um conflito
geracional com essa juventude superprotegida, que vive em bolhas e parece
gostar das coisas apenas de um jeito irônico, nunca se apegando a nada. Outro
bom momento é quando elas tentam ajudar Val (Paula Pell) depois da personagem
rolar morro abaixo, uma cena que diverte pelo comprometimento do elenco com a
comédia física.
Esses bons momentos, no entanto, não são suficientes para
salvar Entre Vinho e Vinagre do
marasmo e superficialidade de sua narrativa, que subaproveita um ótimo elenco
em uma comédia dramática que está mais para vinagre do que para vinho.
Nota: 5/10
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