John Wick: Um Novo Dia Para Matar (2017) encerrou prometendo uma guerra aberta entre John (Keanu
Reeves) e todo o submundo dos assassinos. Este John Wick 3: Parabellum entrega exatamente aquilo que o final do
anterior prometia, entregando uma corrida desesperada por sobrevivência.
Caçado onde quer que vá, John precisa encontrar o misterioso
Ancião, uma figura ainda mais poderosa que a Alta Cúpula das famílias criminosas
que controlam todo o submundo do crime. Para isso, John precisará da ajuda de
Sofia (Halle Berry), uma antiga conhecida que deve um favor a John.
Tal como os outros dois filmes é uma trama bem simples, mas
o fato de ser simples não significa que o filme não tem nada a dizer. Há muito
aqui sobre a questão de regras, responsabilidade e consequência, sobre como qualquer
grupo social, mesmo uma sombria sociedade de criminosos, precisa de regras para
resistir à completa barbárie.
Neste filme, mais do que nos anteriores, fica claro que há
um desequilíbrio de poder nessas regras, que a Alta Cúpula, aqueles que ditam
as regras, detém todo o poder e constroem as regras para manterem e
consolidarem seu próprio poder. Não deixa de ser uma metáfora para a própria sociedade,
sua necessidade de regras e como as elites financeiras e políticas
costumeiramente legislam em causa própria. O discurso sobre ação e consequência
também pode ser associado às indeléveis marcas deixadas pela violência, tanto
que comete quanto quem sofre, e como essas marcas inevitavelmente transformam e
guiam o destino dos indivíduos.
O diretor Chad Stahelski ainda encontra espaço em meio a
toda a ação para ponderar sobre a questão da performance corporal deste tipo de
filme. Nas cenas que envolvem a matriarca russa interpretada por Angelica
Huston, as falas da personagem sobre o balé, sobre os sacrifícios físicos das
dançarinas para alcançar uma performance arrebatadora com seus corpos, encontra
eco no próprio trabalho dos dublês ao longo desses três filmes.
É como se Stalhelski estivesse nos lembrando que, tal como
na dança, há um grande esforço artístico na construção dessas cenas de ação, da
coreografia de luta ao treinamento físico dos dublês, sendo esse trabalho uma
performance corporal feita para impressionar seu espectador através de um
espetáculo coreografado de corpos em movimento.
A ação, por sinal, continua excelente e é impressionante
como o filme é criativo na maioria de seus embates. Da tensa luta de facas no
início, passando por uma perseguição com John Wick a cavalo, além da
perseguição de motos feita quase toda em um plano sequência, é possível ver
claramente o esmero e a entrega da equipe em criar todas essas cenas e da
direção de Stahelski em valorizar o trabalho dos seus dublês. É como se o filme
tentasse passar por todo tipo possível de cena e filme de ação, buscando
referências desde os antigos filmes de caubói dos anos 40 e 50, passando pelos
filmes orientais de artes marciais da década de 70 aos tiroteios explosivos dos
filmes de ação oitentistas.
O clímax, por outro lado, traz muita coisa que já vimos nos
dois primeiros filmes. O tiroteio com as forças da Cúpula sob fortes luzes neon
remete ao tiroteio na boate do primeiro filme, por mais que os capangas da
Cúpula ofereçam sua própria forma de desafio ao protagonista por conta de seus
equipamentos blindados, ainda assim fica a sensação de que já vimos isso antes.
O mesmo pode ser dito da luta com Zero (Mark Dacascos) em uma sala de espelhos,
que remete muito ao clímax do segundo filme. Claro, tudo é tão bem executado
que continua empolgando, mas não deixa de parecer que a franquia está se
repetindo um pouco.
A narrativa aproveita para ampliar ainda mais o nosso
entendimento de como funciona todo aquele universo de assassinos, continuando a
criar um mundo cheio de personalidade própria habitado por personagens bastante
pitorescos. Um exemplo é o vilão Zero, que inicialmente parece o típico
assassino silencioso, mas assim que interage com John, Zero se comporta como um
fã deslumbrado conhecendo o ídolo. Também temos acesso a um pequeno vislumbre
sobre as origens de John através do contato dele com a matriarca da máfia russa
interpretada por Angelica Huston.
Por outro lado, o desfecho decepciona por ser demasiadamente
aberto, soando mais como um filme incompleto do que uma história com começo,
meio e fim que resolve deixar um gancho para continuação. Eu sei que esse filme
nunca chegou a ser exatamente anunciado como o último ou como o término da
história de John, mas eu esperava que pelo menos a trama encerrasse o arco que
construiu até aqui ao invés de empurrar tudo com a barriga para um próximo
filme. Boas histórias precisam ter um fim e eu sinceramente espero que Chad
Stahelski resolva encerrar o percurso de John enquanto ainda existe fôlego
criativo na franquia e não se entregue a incontáveis continuações só para
continuar faturando.
John Wick 3:
Parabellum é um ótimo filme de ação que continua a expandir seu universo,
ainda que seu encerramento abrupto e recusa em dar um desfecho à história me
deixe preocupado quanto ao futuro da franquia.
Nota: 7/10
Trailer
Nenhum comentário:
Postar um comentário