Não estava muito empolgado para conferir este Rocketman, biografia do cantor Elton
John, todo material de divulgação dava a entender que seria mais uma
cinebiografia quadrada e rasa nos moldes de Bohemian Rhapsody (2018). Felizmente, os trailers
não fazem jus ao que é o material final e o resultado é um musical vibrante,
que não se furta em tentar entender as contradições de seu protagonista.
A trama segue a vida de Elton (Taron Egerton) desde sua
infância até sua idade adulta quando entra em reabilitação para tratar de seu
vício em álcool e drogas. A narrativa é toda enquadrada como um relato de Elton
em um grupo de terapia durante a sua reabilitação, o que permite ao filme
seguir o fluxo de consciência e a subjetividade da visão dele acerca da própria
história ao invés de um viés mais naturalista ou mimético.
Isso é mais evidente no modo como filme usa as canções.
Enquanto na maioria das cinebiografias de músicos o uso das canções é bastante
naturalista, aparecendo sempre dentro da diegese (do universo do filme) quando
os personagens tocam ou cantam, aqui elas são usadas mais como em um musical
tradicional. Aqui os personagens cantam para uma melodia que não está
necessariamente dentro do universo fílmico, de certa forma rompendo o realismo
narrativo para mergulhar na subjetividade de Elton John.
Desta maneira, os números musicais acabam funcionando como
uma síntese do que se passa na mente do protagonista, de como ele está se
sentindo, de como ele vê o mundo ao seu redor ou do impacto que sua música tem
sobre si ou aqueles que a ouvem. Isso fica evidente na cena que mostra a
primeira apresentação de Elton nos Estados Unidos, na qual vemos a plateia
flutuar no ar quando ele começa a tocar, representando o quanto sua música
arrebatou a audiência.
Os números musicais também servem para ilustrar o universo
mental e sentimental do protagonista, como na cena da infância em que ele e os
pais dividem uma canção na qual cada um fala do tipo de afeto que deseja. A
cena funciona como uma grande síntese da dinâmica familiar de Elton e como
desde pequeno ele sempre se sentiu sozinho e sem amor. A trama é competente em
explorar como a busca por afeto guiou a trajetória artística e pessoal do
protagonista, bem como a maneira que esse vazio afetivo serviu de ponte para
ele cedesse aos vícios.
Ao invés de apenas conectar fatos marcantes da trajetória do
biografado, como fez Bohemian Rhapsody,
Rocketman de fato funciona como um
estudo de personagem, se debruçando sobre a vida de Elton para tentar entender
como ele se tornou quem é e o que motivava seu comportamento. Ao final, como
toda boa biografia deve serm saímos com a compreensão de que entendemos melhor
aquele sujeito, que alcançamos uma nova compreensão sobre a pessoa que ele é e
não apenas de que conhecemos os eventos de sua vida.
Desta maneira, Rocketman
é um musical vibrante e cheio de energia que deixa o espectador imerso na
subjetividade de seu protagonista.
Nota: 8/10
Trailer
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