Não esperava muita coisa deste Meu Eterno Talvez, visto que a maioria dos filmes originais da
Netflix tende a ser decepcionante, vide os recentes Megarromântico e Entre Vinhoe Vinagre, mas ele acaba sendo uma fofa comédia romântica que tenta
ponderar sobre relacionamentos e os papéis sociais aferidos a homens e mulheres
dentro de uma relação.
Sasha (Ali Wong) e Marcus (Randall Park) são amigos desde a
infância e acabam se envolvendo romanticamente no final do ensino médio. Eles
se afastam depois da morte da mãe de Marcus e da ida de Sasha para a faculdade.
Anos mais tarde, Sasha retorna a sua cidade natal para abrir um restaurante e
reencontra Marcus. A reunião desperta neles sentimentos que estiveram dormentes
em ambos durante o período que passaram afastados.
É uma premissa bem típica de comédia romântica que deixa
óbvio desde o início que Sasha e Marcus vão inevitavelmente descobrir que foram
feitos um para outro, assim como trocarão aprendizados entre si, com Sasha aprendendo
a se reconectar às suas raízes e Marcus aprendendo a ser menos acomodado.
Apesar da trama não oferecer nenhuma grande surpresa, o carisma e a química de
Ali Wong e Randall Park conseguem nos fazer torcer pelo casal, com ambos
construindo personagens adoráveis e com motivações compreensíveis.
Muito do humor do filme deriva de constantes críticas à
cultura hipster da cidade de São
Francisco e do universo da alta gastronomia. Em uma cena, Sasha leva Marcus a
um restaurante extremamente chique e ele se surpreende ao ser o único homem de
terno no local, sendo avisado por Sasha de que a moda entre os ricos é gastar
milhares de dólares para vestir roupas que parecem ser de mendigos.
O humor se torna ainda mais absurdo lá pela segunda metade
da projeção quando Keanu Reeves aparece interpretando uma versão mais aloprada
e pretensiosa de si mesmo. As cenas que envolvem o ator e as pessoas ao redor
reagindo a ele com uma idolatria quase que religiosa são as mais engraçadas do
filme. Keanu interpreta a si mesmo com uma energia insana que é louvável tanto
por sua entrega e comprometimento com o absurdo quanto pela sua esportividade
em ser capaz de rir de si mesmo e do “mito” que se criou em torno de sua persona pública.
A trama acerta ainda na construção da dinâmica entre Sasha e
Marcus, mostrando a dificuldade de Marcus em se colocar em um papel secundário
em um relacionamento e como isso deriva de uma perspectiva antiquada das
relações entre homem e mulher que considerava degradante para um homem não ser
o ponto focal da relação. O texto é inteligente em assumir que não há nada
fundamentalmente errado, emasculador ou humilhante no fato do homem ser uma
figura de suporte para a esposa extremamente bem sucedida.
Desta maneira, mesmo seguindo uma estrutura bastante
previsível de comédia romântica, Meu
Eterno Talvez acerta no senso de humor e na maneira como constrói o
relacionamento do casal principal.
Nota: 7/10
Trailer
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