Quando escrevi sobre a quarta temporada de How To Get Away With Murder, mencionei
como o quarto ano conseguia recolocar a série nos trilhos ao apontar novos
rumos e novos conflitos para os personagens. Pois este quinto ano não aprendeu
nada com o ano anterior e volta a repetir os padrões desonestos da fraca
terceira temporada, além de se limitar a reciclar conflitos de anos anteriores
ao invés de mover esses personagens para frente, resultando no pior ano da
série até agora. O texto a seguir contem SPOILERS da temporada.
A narrativa continua no ponto em que a temporada anterior
parou, com Annalise (Viola Davis) entrando para uma firma de advocacia para
empreender seu processo contra o governo estadual por maus tratos contra
detentos. Ao mesmo tempo, novos problemas parecem surgir no horizonte com a
chegada de Gabriel Maddox (Rome Flynn), que Frank (Charlie Weber) acredita ser
o filho de Annalise que todos acreditavam estar morto. Como de costume há
também flashfowards no fim e no
início do episódio que dão a entender que Bonnie (Liza Weil) matará um
personagem importante.
A temporada se perde em um monte de tramas inúteis, que não
servem a nenhum propósito além de querer despistar o espectador, mas que, no
fim das contas, acabam não tendo qualquer impacto no panorama geral da trama. Um
exemplo envolve o filho de Bonnie, supostamente morto no parto (sim, mais
um). O primeiro flashfoward mostra
Bonnie matando alguém enquanto carrega o filho de Laurie (Karla Souza) no colo
e as tramas do presente mostram Bonnie descobrindo que o filho que ela pensava
estar morto pode estar vivo, então a trama parece querer que pensemos que o
crime a ser cometido por Bonnie tem alguma coisa a ver com sua instabilidade
mental em relação ao filho perdido. Conforme a trama avança, no entanto,
descobrimos que não é o caso e o crime não tem relação alguma com a questão.
O problema nem é o uso, em si, da trama do filho de Bonnie
como despiste. Narrativas investigativas sempre tentaram despistar seu público
e isso faz parte do “jogo” do gênero no qual realizadores e leitores tentam
superar a inteligência do outro. O problema é que essa trama não faz qualquer
diferença no arco geral da trama da temporada, já que a busca de Bonnie pelo
possível filho é completamente esquecida e não repercute em nada na narrativa,
além da promessa que isso possa retornar numa próxima temporada.
O mesmo pode ser dito do mistério envolvendo Maddox. A série
puxa o tapete do espectador no último minuto ao revelar que o parentesco do
personagem não era quem imaginávamos. A questão é que a revelação não faz o
menor sentido e não faz a menor diferença. Se Frank sabia todos os segredos de
Sam (Tom Verica) porque ele suporia erroneamente a proveniência de Maddox? O
sobrenome por si só já não seria uma pista? Além disso, o fato dele não ser o
filho natimorto de Annalise e Sam em nada muda a motivação do personagem já que
seu arco poderia ser o mesmo se essa fosse sua origem. No fim, é só mais uma
reviravolta forçada e desonesta feita para causar um choque barato na
audiência, mas que não significa nada. Muitos episódios encerram com revelações
que são feitas para serem chocantes, mas que não servem para nada, como o fato
de Asher (Matt McGorry) ter transado com a mãe de Connor (Jack Falahee).
Toda a trama da luta por direitos civis empreendida por
Annalise é abandonada no meio da temporada em prol de arcos envolvendo
conspirações mirabolantes, cujas explicações parecem inventadas no último
minuto com personagens cuja existência sequer tínhamos conhecimento aparecendo
como os responsáveis por tudo que estava acontecendo. Um bom exemplo disso é a
decisão de, no penúltimo episódio, inventar mais um parente criminoso de
Laurel, que nunca nem tinha aparecido na temporada, nem sido citado como
suspeito, o que faz tudo parecer gratuito e desonesto.
Assim, ao invés do público se sentir recompensado por sua
atenção quando a revelação final chega, a sensação é que fomos “roubados” pela
narrativa, já que todo o tempo investido foi um grande desperdício e poderíamos
ter pulado direto para o final que não faria diferença alguma, afinal nada do
que aconteceu até então era necessário para descobrir o culpado. Tal como
aconteceu em outras temporadas, esse expediente de inventar culpados no último
minuto só serve para diminuir o interesse na trama, criando aquela sensação de
que “vale qualquer coisa” e nossa atenção ou inteligência é irrelevante, pois a
trama simplesmente pode inventar um personagem que nunca ouvimos falar para ser
o culpado.
Viola Davis continua ótima em transmitir a força de
Annalise, mas o texto não dá a ela muito com o que trabalhar, limitando a
personagem a revisitar os mesmos sofrimentos que já a vimos superar em
temporadas anteriores. Desta maneira, fica a impressão de que a personagem está
estagnada, andando em círculos pelos mesmos dramas ao invés de evoluir e
encontrar novos obstáculos.
Essa quinta temporada de How
To Get Away With Murder é um imenso retrocesso para série, deixando de lado
tudo que a tornava interessante em prol de mistérios rocambolescos, tramas que
não vão a lugar nenhum e reviravoltas forçadas.
Nota: 3/10
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