A realidade às
vezes pode ser mais estranha que a ficção e as histórias sobre a produção de
determinados filmes podem ser tão ou mais interessantes que os filmes em si.
Tim Burton mostrou isso em Ed Wood ao biografar o “pior diretor do
mundo”, James Franco reforçou isso ao contar a história da realização do infame
The Room em O Artista do Desastre e este Meu Nome é Dolemite faz
isso por Rudy Ray Moore e seus filmes de blaxploitation.
Rudy (Eddie
Murphy) é um homem de meia idade que tentou vencer no ramo do entretenimento,
mas não conseguiu encontrar sucesso nem como músico nem como comediante de stand-up.
Sua sorte muda quando ele decide gravar as rimas que ouve nas ruas sobre um
personagem chamado Dolemite e resolve se apresentar com essa persona cômica que
fala através de rimas sobre proezas físicas e sexuais.
O percurso do
protagonista toca em temas como o da representatividade, da importância das
pessoas em se verem representadas nas telas e não se sentirem invisíveis. Trata
também das disputas discursivas entre a cultura popular e a cultura hegemônica,
com a cultura popular constantemente sendo rebaixada pela elite por ser
considerada vulgar ou pobre por não se adequar a padrões pré-determinados de
“bom gosto”.
O filme inclusive mira na hipocrisia de
exaltar uma comédia “para a família” numa cena em que a tia de Rudy elogia o
comediante Bill Cosby por sua linguagem limpa, sendo que hoje Cosby está preso
por ter cometido dezenas de estupros. Cosby, inclusive é um notório desafeto de
Eddie Murphy no mundo real, já que Cosby sempre criticou a comédia de Murphy
por ser “suja”, então é fácil compreender o que atraiu Murphy a viver Rudy.
O problema é que
o filme nunca se compromete com nenhum desses temas ou mesmo com o
desenvolvimento do protagonista. Apesar de alguns vislumbres sobre o passado de
Rudy e sua relação complicada com o pai, a narrativa, assim como aconteceu em O Artista do Desastre, prefere focar nas histórias alopradas dos bastidores
da realização fílmica e no aspecto edificante da história de um homem que
conseguiu sucesso apesar das adversidades. É uma ode ao poder da arte e à sua
capacidade de envolver e fascinar.
Além da história
em si ser bastante curiosa o que faz tudo funcionar é seu elenco de personagens
pitorescos. Murphy confere uma grande energia a Rudy e faz dele um sujeito que
não tem medo de abraçar o ridículo para fazer sucesso ao mesmo tempo em que dá
breves vislumbres de sua insegurança e fragilidade (que o roteiro lamentavelmente
não explora). Além de Murphy, Wesley Snipes surpreende como o afetado e egocêntrico
D’Urville, um papel bem diferente do que o ator costuma fazer. A eles somam-se
nomes como Craig Robinson, Keegan Michael Key e Titus Burgess como membros da entourage
de Rudy.
Meu Nome é
Dolemite
diverte pela sua história insólita e pela energia de Eddie Murphy no papel
principal, mas fica a impressão de que o material poderia render algo mais.
Nota: 7/10
Trailer
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