Vocês podem não lembrar, mas em dado momento no início dos
anos 2000 o ator Ben Affleck e a cantora Jennifer Lopez formaram um casal. Para
surfar na onda de popularidade do casal de celebridades foi feito este Contato de Risco, filme que colocava
Affleck e Lopez como par romântico, esperando que os fãs que acompanhavam o
casal nos tabloides fossem também pagar para assisti-los nos cinemas, o que
acabou não acontecendo.
Contato de Risco
foi um imenso fracasso de crítica e público, constantemente figurando entre os
cem filmes mais mal avaliados do agregador IMDb e tendo sido indicado a nove
Framboesas de Ouro na época de seu lançamento,
vencendo cinco, incluindo pior filme. As carreiras de Affleck e Lopez conseguiram
se recuperar do retumbante fracasso, mas o diretor Martin Brest, responsável
pelo primeiro Um Tira da Pesada (1984)
e Perfume de Mulher (1992), nunca
mais dirigiu um longa-metragem em Hollywood.
A trama acompanha Larry Gigli (Ben Affleck), um gangster de
baixo escalão que recebe a missão de sequestrar Brian (Justin Bartha), o irmão
deficiente mental de um poderoso promotor federal. A misteriosa Ricki (Jennifer
Lopez) é contratada para ajudar Gigli a manter Brian sob controle, mas Ricki e
Gigli não se entendem muito bem, embora seja óbvio que ambos vão acabar juntos.
A falta de nexo da trama já é percebida desde o início do
filme quando Gigli tira Brian da instituição na qual ele vive. O mafioso
simplesmente convence Brian a ir com ele e pronto, ambos estão na rua, sem
passar por qualquer verificação de segurança ou assinar qualquer papel. Do
mesmo modo, a chegada de Ricki ao apartamento de Gigli não faz o menor sentido.
Ela chega no local dizendo que Gigli é um fracassado que faz tudo errado, sendo
que até aquele momento não o vimos fazer nada errado. Além disso, ela afirma
que foi contratada porque o chefe de Gigli, Louis (Lenny Venito), não confia no
protagonista, o que é bem incoerente considerando que na cena anterior Louis
parabenizou Gigli por ter conseguido sequestrar Brian com tanta facilidade.
Muitas decisões dos personagens soam injustificadas. Em um
dado momento Brian diz estar com fome, mas ao invés de trazer comida para o
apartamento, evitando sair na rua com uma vítima de sequestro que sem dúvida
está sendo procurada pelas autoridades, Gigli e Ricki simplesmente decidem
levar Brian para comer na rua. Aliás, não há qualquer senso de urgência ou
suspense o filme inteiro e nunca temos a sensação de que os personagens estão
sendo procurados. Também nunca temos a exata dimensão de quem é Ricki. A
personagem diz que ela tem uma grande reputação no meio mafioso, mas o texto
nunca especifica que função é essa ou o que é que ela faz tão bem. Ela é uma
assassina? Uma segurança? Uma espiã? Não só o filme não deixa isso explícito
como também ele nunca consegue nos convencer de que ela é algum tipo de exímia
criminosa.
A impressão é que tudo acontece por pura exigência de
roteiro, que precisa tirar os personagens do apartamento para, de algum modo,
desenvolver a relação entre Gigli e Ricki, com o filme inteiro sendo movido por
cenas aleatórias com pouquíssima repercussão na trama ou com personagens que
são rapidamente esquecidos. Isso acontece, por exemplo, na visita à mãe de
Gigli ou na cena em que uma ex-namorada raivosa de Ricki invade o apartamento
em que ela e Gigli estão. Também não faz sentido que Ricki se recuse a eliminar
Brian no final, já que o filme gasta um bom tempo construindo a personagem como
uma operativa criminal sangue-frio.
Para além das situações desconexas, há também a questão dos
diálogos constrangedores que falham miseravelmente em soarem engraçados ou
românticos. Boa parte das situações que tentam fazer graça em cima da postura
de machão de Gigli caem nesse problema, como a cena em que ele explica a Ricki
como toda relação tem um boi e uma vaca ou o momento em que ele fala consigo
mesmo no espelho. Do mesmo modo, a cena em que Ricki faz ioga sensualmente
enquanto conversa com Gigli sobre pênis e vaginas deveria ser sensual, mas todo
o diálogo é tão ridículo que parece escrito por uma criança em idade
pré-escolar.
Não há razão nenhuma para que os dois se apaixonem,
principalmente porque Ricki se declara lésbica e diz nunca ter se interessado
por homens, mas ainda assim eles se apaixonam só porque o roteiro pede. Basta
Gigli dizer para Ricki que está apaixonado por ela (uma paixão cuja motivação o
filme nunca constrói) que Ricki vai para cama com ele. A ideia subjacente aqui
parece ser a de que a personagem é lésbica só porque nunca tinha encontrado um
“homem de verdade” para “ajeitar” sua sexualidade e, nesse sentido, o filme
ganha contornos bizarramente homofóbicos.
Não ajuda que Affleck interprete Gigli com um exagero
caricatural como se estivesse em uma paródia de Família Soprano e Jennifer Lopez confunda o estoicismo de Ricki com
inexpressividade. Justin Bartha até tenta criar um deficiente mental crível,
mas é sabotado por um texto que o faz soar como uma paródia ruim do personagem
de Dustin Hoffman em Rain Man (1988).
Christopher Walken tem uma breve participação como um policial que não tem
qualquer função exceto por explicar alguns eventos da narrativa enquanto que Al
Pacino passa vergonha como um histérico chefão da máfia. Na época eu cheguei a
pensar que Pacino não seria capaz de participar de nada mais vergonhoso do que
este filme, mas quase uma década depois ele provou que eu estava errado ao
fazer a hecatombe tóxica que é Cada Um
Tem a Gêmea Que Merece (2011).
Com um texto sem sentido, diálogos constrangedores e
péssimas atuações Contato de Risco é
um daqueles filmes que fracassa em praticamente tudo que tenta realizar e nos
deixa embasbacados que alguém tenha achado que fazê-lo era uma boa ideia.
Trailer
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