A série Carcereiros chega
em um momento em que a ficção seriada brasileira finalmente parece ter
aprendido a reconfigurar os gêneros narrativos hollywoodianos e dar a eles uma
personalidade própria que soe genuína no contexto brasileiro. Vemos isso em
produtos como Sob Pressão (tanto o
filme quanto a série) ou na recente Segunda
Chamada. Já este Carcereiros: O Filme,
longa inspirado na série, sacrifica essa identidade e a verossimilhança em
relação ao contexto brasileiro para tentar produzir um suspense com mais cara
de algo hollywoodiano em uma narrativa que lembra Assalto à 13ª DP (1976), de John Carpenter, divergindo do tom mais
“pé no chão” da série.
Na trama, o carcereiro Adriano (Rodrigo Lombardi) é chamado
para trabalhar em sua noite de folga quando a Polícia Federal avisa que sua
prisão irá receber temporariamente um novo detento: o terrorista islâmico Abdel
Moussa (Kaysar Dadour) que se escondia no Brasil. Abdel deve passar uma noite
no presídio antes de ser levado pela Interpol para ser julgado por explodir uma
escola, mas a presença dele causa inquietação entre os detentos, alguns deles
jurando o terrorista de morte. O inesperado, no entanto, acontece quando um
grupo armado invade a prisão em busca de um prisioneiro específico.
Para quem assiste a série, que é bem focada em problemas
mais “reais” do cotidiano de um carcereiro, toda a trama de terrorismo internacional
soa deslocada do clima geral do produto e também inverossímil quanto à
realidade brasileira. Eu sei que a ficção toma certas liberdades com o mundo
real, mas, sério, quantas vezes um terrorista islâmico foi preso ou visto no
Brasil ao ponto desse elemento da trama soar minimamente plausível? Teria sido
mais crível se o criminoso internacional fosse um grande narcotraficante da
Colômbia ou Paraguai, algo mais próximo da nossa realidade. Do jeito que está o
elemento do terrorismo soa forçado no restante da narrativa, principalmente
quando a trama avança e revela que tudo fora um despiste, tornando a inserção
desse elemento ainda mais questionável.
Sim, o filme se encontra quando retorna a elementos da
realidade brasileira, como milicianos e doleiros, mas fica a impressão de que
todo esse despiste foi para dar um maior senso de escala e grandiloquência para
justificar a ida da série para as telonas, deixando de lado uma discussão mais consistente sobre o sistema prisional. Existem também alguns outros
elementos soltos que nunca repercutem na trama. Um exemplo é a filha de
Adriano, que surge em cena para dizer que teme pela vida do pai, mas nunca
retorna à narrativa depois que o caos irrompe na prisão e, deste modo, a
presença da garota não tem muita repercussão no restante do filme. A trama
poderia voltar a ela durante a rebelião e mostrar como ela lida com as
notícias, mas ao invés disso apenas esquece a existência da personagem.
Apesar desses defeitos, o filme é eficiente em nos deixar
imersos no clima de tensão dentro da prisão, com facções rivais aproveitando o
caos para tentar eliminar os inimigos e Adriano tentando fazer o máximo para
conter os ânimos dos detentos. A ação é bem conduzida, usando a câmera na mão
para tentar colocar o espectador em meio ao caos, mas evitando excessos de
balanço e de montagem que façam tudo parecer fragmentado demais.
Mesmo quando elementos da trama tornam tudo exagerado e até
descontextualizado, são os dramas humanos experimentados por Adriano que nos
mantem presos ao filme. Rodrigo Lombardi é ótimo ao construir o protagonista
como um sujeito esgotado física e mentalmente por seu trabalho, mas que
acredita suficientemente no que faz para continuar agindo. Adriano é também um
sujeito com um grande senso de honra, ciente de que dentro do presídio essa é a
moeda que mais vale, e a crise na prisão coloca em xeque seus princípios,
constantemente confrontando o personagem com decisões difíceis a serem tomadas.
Com alguns elementos da trama fora de tom, Carcereiros: O Filme vale pela sólida
construção de tensão e pelo trabalho de Rodrigo Lombardi.
Nota: 6/10
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