Depois de um reboot de
Star Wars Battlefront que mais
parecia um beta de luxo e um Star Wars Battlefront 2 que foi lançado com um péssimo sistema de progressão que
fedia a mecânicas “pay to win”, a
franquia Star Wars finalmente ganha um jogo verdadeiramente memorável com este Star Wars Jedi: Fallen Order.
Com uma campanha inteiramente em single player e uma estrutura de RPG de ação, a trama se passa
cinco anos depois da ascensão do império e do expurgo dos Jedi. O jogador
controla Cal Kestis, um padawan que sobreviveu ao expurgo e agora vive
escondido trabalhando como sucateiro. Um dia Cal usa seus poderes para salvar a
vida de um companheiro de trabalho e a movimentação da Força atrai a atenção
dos Inquisidores do Império liderados pela Segunda Irmã. Cal acaba sendo
resgatado pela ex-Jedi Cere Junda, que incumbe Cal de encontrar um holocron
Jedi que guarda informações sobre crianças sensitivas à Força, o que poderia
ajudar a reconstruir a Ordem Jedi. O problema é que o Império também está à
procura do holocron.
É uma história que trata de trauma, de perda e o que fazer
depois de vermos o mundo desmoronar ao nosso redor, de como tentamos seguir em
frente e reconstruir a vida depois de uma grande perda. Isso se aplica tanto a
Cal e Cere quanto às vilãs a Segunda e a Nona Irmãs, que também vivenciaram sua
cota de perdas, dor e desamparo antes de caírem para o Lado Sombrio. É uma
trama bem executada, com reviravoltas surpreendentes e momentos impactantes. Um
exemplo é o flashback de Cal do
momento em que a Ordem 66 foi disseminada e experimentamos o genocídio dos Jedi
sob os olhos de uma criança assustada e desamparada que não entendia o que
estava acontecendo.
O combate lembra uma mistura entre os recentes God of War e Sekiro: Shadows Die Twice. Ele exige movimentos bastante
deliberados do jogador, que se conheça os padrões dos inimigos para saber
quando atacar, defender ou esquivar. Tal como em Sekiro, é preciso quebrar a postura de defesa dos inimigos para
causar dano, o que é feito tanto com ataques quanto através de bloqueios
precisos. Como os inimigos também podem aparar e quebrar o bloqueio de Cal, é
preciso ter cuidado com os ataques e saber o momento exato de agir.
Com uma variedade considerável de inimigos, o jogador
precisa estar atento a qual a melhor abordagem para cada um e que habilidades
são mais eficientes, já que ao longo do jogo Cal aprende diferentes habilidades
com a Força como empurrar, puxar ou paralisar. O cuidado na hora de agir também
se deve ao fato dos inimigos causarem muito dano e mesmo os adversários mais
banais podem eliminar Cal se o jogador não tiver cuidado.
A trama leva o usuário a diferentes planetas e cada planeta
é composto de uma série de áreas interligadas, com alguns atalhos que podem ser
abertos para facilitar a navegação, tal como acontece em Dark Souls. Aqui o jogador também pode consultar um mapa para
ajudar a se localizar, mas não há um mini-mapa na tela, sendo preciso parar e
consultar o mapa holográfico de BD-1, o droide que acompanha Cal. Algumas áreas
requerem poderes ou upgrades específicos de BD-1 para serem acessadas, o que dá
ao jogo um clima de Metroidvania, e explorar cada parte do mapa recompensa o
jogador tanto com itens cosméticos (para a aparência dos personagens e do sabre
de luz) quanto com importantes recipientes para itens de cura, cujo estoque é
limitado e eles só são restaurados depois que Cal descansa em um ponto de
meditação. Tal qual em Dark Souls,
descansar não só restaura seus itens de cura, como também faz todos os inimigos
reaparecerem e morrer significa perder os pontos de experiência coletados. Para
recuperar a experiência perdida, basta causar dano ao inimigo que matou Cal
(ele brilha em dourado, então é fácil identificar). Os diferentes planetas
oferecem biomas variados, das florestas de Kashyyyk às paisagens rochosas de
Dathomir ou os pântanos de Bogano e esses ambientes trazem uma criatividade
visual que ajuda a transmitir o encantamento pela qual a franquia Star Wars é
conhecida.
Os pontos de experiência são usados para comprar novas
habilidades para Cal. Embora a árvore de habilidades seja relativamente
modesta, dada a dificuldade dos combates, cada uma delas altera
significativamente a performance do personagem e perto do final o jogador
realmente se sente como um Jedi poderoso no controle de suas habilidades. O
progresso na história aos poucos modifica o sabre de luz do personagem, dando
acesso a alguns modos diferentes de uso. Um desses modos, lamentavelmente,
acaba reduzido a praticamente um ataque especial, o que é uma pena, já que
ofereceria mais variedade ao combate se pudéssemos usar de maneira plena essa
terceira variação.
O jogo, ao menos no PS4, tem alguns problemas de
performance. Com a taxa de quadros caindo sempre que entramos em um novo
ambiente ou quando muitos inimigos surgem de uma vez. As texturas dos cenários
e dos personagens por vezes não estão plenamente carregadas quando eles
aparecem, causando o desconfortável efeito de pop-in de texturas, quando elas subitamente aparecem. Além disso há
uma demora geral nos tempos de carregamento, o mais evidente é quando o
personagem morre. Para reaparecer demora quase um minuto de telas de
carregamento.
A despeito desses problemas de performance, Star Wars Jedi: Fallen Order é o melhor
jogo da franquia há muito tempo, graças a sua envolvente história, combate
desafiador e possibilidades de exploração.
Nota: 9/10
Obs: O game está disponível para PS4, Xbox One e PC
Trailer
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