Eu joguei muito Pokémon bem na
época que virou febre no início dos anos 2000. Devo ter jogado Pokémon Red/Blue/Yellow do início ao fim
uma meia dúzia de vezes e o mesmo para Pokémon
Gold/Silver/Crystal e mais algumas para Pokémon
Fire Red/ Leaf Green, remakes dos primeiros jogos para Game Boy Advance,
além de ter jogado os dois Pokémon
Stadium para Nintendo 64. Meu interesse pelos monstrinhos meio que parou
por aí e eu nem tive ânimo para jogar Pokémon
Ruby/Sapphire até o fim (sim, eu sei que ele saiu antes de Fire Red) e depois não voltei mais para
a franquia. Voltei a me interessar com a notícia de que estes Pokémon Sword e Shield sairiam exclusivamente para o Nintendo Switch, o principal
console da Nintendo. Longe das limitações dos pequenos portáteis como o 3DS,
talvez houvesse potencial para algo com um escopo mais amplo e, de certa forma
é exatamente o que acontece.
Como em outros games da franquia,
a narrativa é praticamente a mesma. O jogador controla um garoto que deseja se
tornar o campeão de sua região, escolhe entre três pokémons iniciais diferentes
e depois corre o mundo para coletar insígnias dos diferentes ginásios da
região. É básico, é verdade, embora tenham alguns outros elementos como o
mistério envolvendo a forma de energia chamada de Dynamax, mas não sai muito o
traçado da franquia e não tem problema, ninguém realmente joga Pokémon pela
história.
De cara chama atenção o fato de
que finalmente é possível pular os tutoriais iniciais. Pode parecer algo pequeno,
mas deixar de desperdiçar cerca de três horas para forçosamente aprender
mecânicas que já sei há vinte anos já mostra que essa nova versão está disposta
a agilizar a vida do jogador e simplificar algumas estruturas datadas que a
franquia insistia em manter durante as últimas décadas. Outra mudança
significativa é a possibilidade de acessar todo o componente online apenas
apertando o botão Y, acessando um menu específico com todos os elementos de
troca e batalhas.
O acesso aos PCs também foi simplificado.
Ao invés de ser obrigado a ir até um Centro Pokémon para trocar os monstrinhos
em sua equipe, agora a opção está disponível no próprio menu (embora em dungeons e outros locais não seja
possível). Essa funcionalidade não só agiliza as trocas, como também estimula
que experimentemos mais as diferentes combinações de monstrinhos.
A navegação é outro ponto
simplificado. Pokémon Sun/Moon já
tinha finalmente eliminado as irritantes HMs, substituindo por um sistema
envolvendo o jogador montar pokémons. Os pokémons montáveis são substituídos
aqui pela Rotom Bike, uma bicicleta veloz que pode ser acessada no apertar de
um botão eventualmente também se torna capaz de atravessar água. Há um
sistema de fast travel que é
habilitado já depois do primeiro ginásio, facilitando o backtracking desde o início.
A principal mudança em termos de
navegação e exploração acontece no modo como o jogo lida com os encontros com
pokémons. Assim como aconteceu no spin-off Pokémon
Let’s Go Pikachu/Eevee, as criaturas são visíveis no mapa e é preciso tocar
neles para iniciar uma batalha. É o fim da necessidade de estocar Max Repels e
similares ao entrar em qualquer dungeon
porque basta evitar as criaturas na tela para não cair em batalhas. A escolha
também ajuda o mundo a parecer mais vivo, com um ecossistema dinâmico. Se você
sente falta da surpresa dos encontros aleatórios, há a possibilidade de
aparecer uma exclamação quando você anda pela grama alta e se aproximando do
sinal coloca o jogador em uma batalha com um pokémon não visto e algumas
criaturas só podem ser encontradas dessa forma, funcionando como um incentivo
para que o jogador se arrisque de vez em quando.
Treinar as criaturas ficou mais
versátil com a inserção de um NPC que permite reaprender movimentos esquecidos
(apenas aqueles obtidos por subir de nível) em cada Centro Pokémon. Em jogos
anteriores isso só era possível com itens específicos normalmente encontrados
no pós-jogo. Assim, a decisão de substituir um ataque por outro pesa menos na
consciência e dá mais possibilidade do jogador experimentar com seus
monstrinhos.
Em termos de novos elementos ou
mecânicas, o maior acréscimo é a chamada Wild Area. É um enorme espaço aberto
com diferentes biomas e um clima que muda constantemente, mudando também os
pokémons que se pode encontrar por ali. Aqui, pela primeira vez na franquia é
possível controlar a câmera usando a alavanca direcional direita. Aqui é
possível até mesmo encontrar pokémons de altíssimo nível vagando pelo local e o
modo com o qual o jogo evita tornar isso desequilibrado é ligando o nível dos
pokémons que você pode capturar ao número de insígnias de ginásios, caso
contrário em um golpe de sorte seria possível já capturar um monstrinho de
nível 30 ou 40 já nas primeiras horas de jogo.
Na Wild Area é possível encontrar
alguns poços de energia que dão acesso às Max Raid Battles. Elas se assemelham
aos Raids do Pokémon Go, com
diferentes treinadores juntando forças para enfrentar uma criatura muito
poderosa. É possível chamar outros jogadores ou enfrentar esses desafios com
personagens controlados pela CPU, embora eu não recomende isso nas batalhas de
maior dificuldade. Os pokémons encontrados nesses Raids possuem um outro
atributo novo ao sistema de batalhas por turnos em Sword/Shield: o Dynamax.
Dynamax permite tornar seu
pokémon gigante, aumentando seus atributos e dando acesso a novos golpes. A
mecânica substitui as mega-evoluções e Z-Moves de games anteriores que antes
eram restritos a um número limitado de monstrinhos. Aqui qualquer pokémon pode
ser usado em Dynamax, mas isso só pode ser feito em alguns locais específicos e
a transformação só dura três turnos, tornando a mudança mais equilibrada e
menos apelona que as mega-evoluções. Alguns monstrinhos podem mudar de forma
durante o Dynamax, assumindo a forma Gigantamax, mudando a aparência e ganhando
ataques ainda mais poderosos. Confesso que senti falta das mega-evoluções, mas
a mecânica do Dynamax tem suas virtudes.
Graficamente é o melhor jogo da
franquia principal, permitindo que vejamos ao longe as silhuetas e prédios das
cidades cuja arquitetura é inspirada pela Inglaterra. Claro, não são gráficos
que chegam perto de consoles mais potentes como PS4 ou Xbox One, mas
representam uma clara melhora na franquia. Provavelmente também é o jogo com
mais opções de customizar o seu treinador, com diferentes peças de roupa e
estilos de cabelo a adquirir.
O principal ponto negativo é a
infame decisão de não ter uma “pokedex nacional” no jogo. O que significa que
apenas os monstrinhos encontrados na região de Galar estão disponíveis, não
sendo possível trazer pokémons de outros jogos que não podem ser capturados
neste aqui, como era permitido em todos os outros games da série. Como consolo,
Galar oferece cerca de 400 criaturas para capturar, mas isso é só metade do
número de pokémons existentes e muitos favoritos dos fãs (e meus) ficaram de
fora. Eu entendo que adicionar todos envolveria um esforço considerável de
criação de sprites e animações em
alta definição de mais de 800 monstros, mas espero que a Nintendo expanda a
pokedex do jogo em atualizações posteriores. Também não me agradou muito o
visual das formas finais das três criaturas iniciais, provavelmente os mais
fracos entre todos os starters da
franquia, pendendo demais para formas muito humanoides.
Ainda assim, Pokémon Sword e Shield
são os melhores games da franquia em muito tempo, refinando mecânicas e
estruturas que ficaram paradas por tempo demais, melhorando o fluxo da
jogabilidade, ao mesmo tempo em que insere novos elementos que mantêm o frescor
da série de jogos. É um ótimo ponto de retorno para fãs relapsos (como eu) e
também um ótimo ponto de partida para quem nunca adentrou neste universo antes.
Nota: 9/10
Trailer
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