Filmes, documentários ou ficção,
sobre pessoas que são lembradas pela sua bondade, gentileza ou caridade muitas
vezes caem na armadilha de retratar seus biografados como pessoas puras e
perfeitas, construindo-os mais como santos do que seres humanos e acabam falhando
em compreender exatamente quem era aquela pessoa ou as razões dela em ser
daquele jeito. Temi que este Fred Rogers:
O Padrinho da Criançada que narra a trajetória do apresentador infantil
Fred Rogers, caísse nesse erro, mas felizmente há um esforço genuíno em compreender
o famoso Mr. Rogers.
Famoso pela maneira como
conseguia se comunicar com crianças e falar com elas de maneira aberta e
sincera até mesmo sobre temas difíceis como luto ou o divórcio dos pais, Fred
Rogers é referência nos Estados Unidos em como construir um programa infantil.
Sua atração, intitulada Mr. Rogers
Neighborhood (“a vizinhança do Sr. Rogers” em português), se manteve no ar
por décadas em uma emissora pública de cunho educativo.
Recorrendo a entrevistas e
imagens de arquivo, com o próprio Fred (falecido em 2003), seus familiares e
colegas de trabalho, o documentário tenta entender o processo criativo
envolvendo a atração. Vemos o pensamento de Fred sobre como a televisão voltada
para crianças deveria ser e suas críticas à programação que meramente pensa em
estimular o consumo infantil. Fred também era um defensor do potencial formador
da televisão e da necessidade de emissoras públicas voltadas para esse ideal. O
filme inclusive nos mostra a defesa dele da televisão pública perante o senado
estadunidense e como seu conhecimento e doçura conseguem convencer os senadores
a manterem o financiamento da PBS, emissora educativa pública do país.
Através de imagens de arquivo
vemos como os programas usavam uma linguagem acessível para falar com crianças
sobre temas complicados e a preocupação de Rogers com uma educação sentimental
dos pequenos. As entrevistas mostram o impacto positivo que o apresentador teve
nas vidas das crianças com quem teve contato e o mesmo pode ser dito de seus
colegas de trabalho.
Ao invés de tratar Rogers como um
santo naturalmente bom e perfeito, há um esforço genuíno do documentário em
tentar entender as motivações do comunicador. A narrativa examina a infância
solitária e reprimida de Rogers, recorrendo a animações para ilustrar as
memórias e a imaginação de seu biografado, mostrando como essas experiências
fizeram dele uma pessoa preocupada em ajudar as crianças a lidar com seus
sentimentos.
Por todo o impacto positivo de
Rogers, o filme não deixa de mostrar os erros do biografado, como a decisão
dele de manter no armário e estimular um casamento de fachada a um colega de
trabalho gay. Há também um esforço de responder as principais críticas feitas à
pedagogia defendida por Rogers sobre falar de como todos são especiais e dignos
de afeto. Desta maneira, a narrativa mostra os anseios e inseguranças de
Rogers, mostrando a humanidade do apresentador ao invés de sacralizá-lo, o que,
talvez, tenha sido a decisão mais coerente com a trajetória de Rogers tomada
pelo filme. Elevá-lo à santidade seria remover de Rogers o humanismo que ele
defendeu durante toda sua vida.
Fred Rogers: O Padrinho da Criançada faz um retrato conciso, mas
bastante amplo da figura de seu biografado, lembrando como o cuidado e doçura de Fred Rogers o
fez ser adorado por gerações.
Nota: 8/10
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