O segundo ano de O Mundo Sombrio de Sabrina parecia
perder de vista o que tinha tornado seu ano de estreia tão bacana, com uma
trama arrastada e personagens pouco convincentes, mas essa terceira parte
consegue recuperar a série e trazer de volta o senso de aventura, mistério e
temor do ano de estreia.
A trama começa mais ou menos no
ponto onde a anterior parou, com Sabrina (Kiernan Shipka) prendendo Lúcifer
(Luke Cook) no corpo de Nick (Gavin Leatherwood), mas pensando em uma maneira
de salvar o namorado. O aprisionamento do rei do inferno, no entanto, gera uma
série de consequências inesperadas, fazendo os poderes de todo o coven de Sabrina e suas tias
enfraquecerem e também causando desequilíbrio entre os diferentes planos de
existência. Para tentar trazer de volta o equilíbrio Sabrina clama para si o
trono do inferno, mas seu reinado é desafiado pelo lorde demoníaco Caliban (Sam
Corlet), que inicia um desafio envolvendo a recuperação de relíquias profanas.
Ao mesmo tempo, um circo chega a Greendale e nele está um culto pagão a uma
divindade ancestral que aproveita a fraqueza das bruxas da cidade para tomar o
poder que há em Greendale.
Já de início a temporada consegue
estabelecer claros conflitos para a protagonista e cria um arco que torna mais
convincente a jornada dela e seu conflito de estar dividida entre suas
obrigações de bruxa e a lealdade aos amigos e família ao colocar ameaças nas
duas frentes (Caliban no inferno e os pagãos em Greendale). A inserção dos
pagãos e de outros tipos de bruxas ajuda a ampliar o escopo do universo da
série, inserindo horrores ancestrais que apontam para as histórias de Robert
Chambers (o fato do circo se chamar Carcosa certamente é uma referência ao
livro O Rei Amarelo) ou H.P Lovecraft
(é difícil não ver o estranho ovo que os personagens recuperam e não pensar em
Cthulhu). Essa ampliação do universo ajuda a série a não ficar andando em
círculos e repetindo as mesmas ideias de “cristianismo invertido” da temporada
anterior.
A trama acerta em deixar Nick de
lado, já que toda relação dele com Sabrina na temporada anterior soava pouco
convincente e parecia inserida só para criar um triângulo entre eles dois e
Harvey (Ross Lynch). Aliás, todo o núcleo da escola de Greendale, como Roz (Jaz
Sinclair) e Theo (Lachlan Watson) tem um papel mais ativo na história e uma presença
mais relevante no enfrentamento ao culto pagão. A temporada também consegue
criar algumas imagens bem sinistras, como a transformação de Hilda (Lucy Davis)
em uma criatura aracnídea que me fez lembrar A Mosca (1986) ou as transformações dos membros do culto pagão.
Por outro lado continua a
incomodar o quanto Salem continua sendo um elemento subaproveitado, sumindo
completamente ao ponto em que quase esquecemos dele apenas para reaparecer
sempre que o roteiro exige. O desfecho acaba se complicando mais do que deveria
com toda a questão de viagens no tempo e paradoxos temporais, mas a maneira
como a temporada encerra faz sentido dentro da ideia de Sabrina tentar resolver
seu problema de estar constantemente dividida entre dois mundos.
Assim, a parte três de O Mundo Sombrio de Sabrina acerta na sua
construção de mistério e suspense, ampliando o universo da trama e corrigindo
os erros do ano anterior.
Nota: 7/10
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