Quando escrevi sobre a primeira temporada de Sex Education falei sobre o modo como a série construía um relato sobre adolescência, despertar sexual e descobertas afetivas evitando muitos dos clichês de tramas adolescentes e tratando seus personagens com relativa complexidade. Essas qualidades permanecem em seu segundo ano, que deixa de focar só nas questões sexuais e embarca na vida de vários dos garotos da escola de Otis.
Na trama, Otis (Asa Butterfield)
finalmente descobriu a masturbação e também começou a namorar com Ola (Patricia
Allison). A relação, no entanto, se complica quando Jean (Gillian Anderson), a
mãe de Otis, começa a namorar Jakob (Mikael Persbrandt), o pai de Ola. Se
complica também quando Maeve (Emma Mackey), retorna à escola, reacendendo os
antigos sentimentos de Otis. Jean também começa a passar tempo na escola do
filho depois que um aparente surto de DST obriga a escola a rever o currículo
de educação sexual e Jean é chamada para ouvir os estudantes.
Essa segunda temporada se divide
entre os dramas pessoais de diferentes e, assim como antes, é eficiente em
equilibrar o drama e o humor das situações. A relação com Ola e a entrada de
Jakob em sua casa faz Otis ser confrontado com a própria imaturidade afetiva e
sexual. Se antes ele estava na posição confortável de apenas dar conselhos a
outros, agora ele percebe que todo o conhecimento teórico não irá
necessariamente ajudar na prática e que relacionamentos não se reduzem a uma
mera aplicação de teorias. É interessante que a temporada consiga explorar o
quanto os conselhos de Otis para os colegas eram limitados, mas é estranho que
ele vá de alguém capaz de ouvir e aconselhar de maneira minimamente razoável
para alguém completamente inepto.
O arco de Otis também esbarra em
alguns clichês de narrativas adolescentes, como a festa que sai do controle,
aparece muito mais gente do que deveria e termina em confusão. Como a série é,
em geral, eficiente em evitar esse tipo de lugar comum, é difícil não perceber
quando acontece. Ainda assim o episódio da festa vale pela surpresa de ver Asa
Butterfield ser tão bom em comédia física e ver Otis dançando bêbado com um
frango assado na mão é impagável.
A trama de Aimee (Aimee Lou Wood)
mostra como os abusos sexuais cotidianos, muitas vezes considerados “menores”
ou menos importantes que formas violência sexual mais explícita, impactam nas
mulheres e causam traumas que afetam a relação da personagem com todos ao
redor. O texto vai construindo aos poucos o impacto desse trauma, fazendo a
personagem mencionar que está preferindo caminhar, evitando contato com o namorado
até finalmente mostrar que ela enxerga o agressor em qualquer lugar.
As narrativas envolvendo Jackson
(Kedar Williams-Stirling) e Maeve mostram as dificuldades de ambos em lidarem
com seus respectivos pais. Jackson sente uma pressão crescente em suas mães
pela carreira na natação, algo que ele não deseja e não sabe comunicar. Já
Maeve tenta se reaproximar da mãe que é viciada em drogas e precisa tomar
decisões bem duras. O arco de Adam (Connor Swindells), por sua vez, acaba
funcionando em oposição ao percurso do pai dele, o diretor Groff (Alistair
Petrie), ao longo da temporada. Enquanto Adam começa a aceitar quem é e vai se
abrindo emocionalmente aos outros, o diretor Groff mostra que é tão reprimido
afetiva e sexualmente que afasta todos ao seu redor, erodindo a própria
carreira e relacionamentos.
Continuando a equilibrar com
habilidade o drama e a comédia, a segunda temporada de Sex Education segue sendo um competente estudo sobre tribulações
afetivas e sexuais.
Nota: 8/10
Trailer
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