O diretor Todd Haynes se tornou
conhecido por seus dramas sentimentais e filmes que experimentam com a
linguagem audiovisual. Este O Preço da
Verdade não exibe nenhuma dessas características, focando mais na denúncia
em si de um caso de abuso de poder e negligência com impactos no mundo inteiro.
O foco está mais na construção da retórica do que no estilo e, para o filme que
se pretende, são esforços bem sucedidos.
A trama é baseada na história
real do advogado Rob Billot (Mark Ruffalo), que trabalhava com direito
corporativo atendendo empresas da indústria química. Um dia ele é procurado em
seu escritório por um fazendeiro de sua cidade natal. O trabalhador rural
suspeita de alguma contaminação na água de suas terras por parte de um aterro
da indústria química DuPont e quando Rob começa a investigar, descobre um caso
severo de negligência e contaminação.
Não é a primeira vez que o cinema
conta a história de Rob, o documentário The
Devil We Know (2018) já tinha narrado a luta do advogado e a negligência da
indústria química em alertar sobre os riscos do composto químico usado na
produção do teflon. O Preço da Verdade também
se encaixa na tradição liberal do cinema hollywoodiano em mostrar histórias
sobre um homem comum indo contra grandes empresas ou o governo para mostrar
como uma pessoa pode fazer a diferença e que cabe a cada indivíduo lutar pelo
que é certo.
Filmes, tanto baseados em eventos
reais quanto completamente ficcionais, dessa natureza são uma constante, como Filadélfia (1993), O Homem Que Fazia Chover (1997), Erin Brockovich (2000) ou O
Júri (2003) tentam nos lembrar que todos tem direito ao seu dia no tribunal
e que a lei tende a prevalecer diante de abusos. O Preço da Verdade não reinventa esse tipo de narrativa, mas é
competente na construção da linha do tempo do caso, argumentando como a DuPont
envenenou uma cidade inteira e achou que poderia sair impune.
Há um senso de temor que permeia
toda a trama e isso não acontece exatamente pelo fato de que a DuPont pode
destruir a carreira de Rob ou na maneira que as testemunhas são intimidadas. A
fonte desse temor é o sentimento de que nada vai ser capaz de reparar a
contaminação em escala global e que mesmo punindo as empresas, elas continuarão
com essas práticas sem escrúpulos e negligentes. Afinal, essa nem de longe é a
primeira vez que algo assim acontece. Erin
Brockovich (2000) mostrou como uma cidade inteira foi envenenada com
cromo-6 e a empresa responsável tentou convencer a todos de que não havia
risco. Durante a primeira metade do século XX empresas do ramo tentaram
convencer o mundo inteiro de que materiais como chumbo ou amianto também não
posavam riscos de contaminação.
O que O Preço da Verdade nos mostra é que a história de abusos das
grandes indústrias continua a se repetir como tragédia e farsa e certamente
continuará a ocorrer. São empresas tão grande, com tanto dinheiro e poder
acumulados que pagar indenizações de meio bilhão de dólares mal causa estrago
em suas finanças e ter esse nível de capital e influência torna fácil que eles
continuem a fazer as mesmas práticas, considerando o quanto as consequências
são pequenas para eles.
Por outro lado, a trama pesa a
mão quando tenta colocar os personagens em situações diretas de perigo. Um
exemplo é a cena em que Rob teme em ligar o carro. Como nada até aquele momento
dava indicação que os adversários do advogado chegariam ao extremo de botar uma
bomba em um carro (embora tenhamos visto outras tentativas de intimidação) toda
a cena soa forçada, como que colocada ali apenas numa tentativa de manter o
espectador atento.
Mark Ruffalo é ótimo em nos
apresentar a natureza correta e obstinada de Rob, bem como em construir as
maneiras como o estresse e a pressão do caso afetam a vida e a saúde do
personagem. Já Anne Hathaway acaba sendo desperdiçada como Sarah. É o típico
papel da esposa que não tem nada a fazer além de gravitar em torno do marido e
só para que ela não fique como uma figura completamente passiva é dada a ela um
grande momento dramático em que ela faz um discurso que coloca alguém em seu
devido lugar, algo que aconteceu com Sarah Paulson em The Post: A Guerra Secreta (2017) ou com Claire Foy em O Primeiro Homem (2018). Enquanto isso
Tim Robbins faz do chefe de Rob alguém que parece ser só mais um advogado
corporativo, mas que exibe uma forte bússola moral, sem medo de arriscar a
própria empresa para fazer o que é certo.
O Preço da Verdade pode não fazer nada que outros dramas jurídicos
não tenham feito, mas a força de sua denúncia o torna um filme que precisa ser
visto.
Nota: 7/10
Trailer
Nenhum comentário:
Postar um comentário