Quando escrevi a crítica de Final Fantasy VII Remake, elogiei o fato
de ser uma reimaginação excelente tanto em termos visuais quanto em termos de
jogabilidade e trama. Apontei, porém, a bagunça que eram os últimos momentos da
trama e como essas escolhas criavam vários problemas ao tentar explicar coisas
que não precisavam de explicação. Eu vou tentar analisar os desdobramentos
desse final, então o texto a seguir contem SPOILERS do final do jogo.
Durante toda a narrativa de Final Fantasy VII Remake Cloud e seus
aliados encontram estranhos espectros encapuzados semelhantes aos Dementadores
do universo Harry Potter. Nos últimos capítulos Red XIII revela que eles são os
Murmúrios, guardiões do destino que garantem que a preservação da linha do
tempo. Sim, o jogo revela que essa é uma espécie de linha temporal paralela ao
game original de 1997.
A explicação faz certo sentido,
já que toda ver que os Murmúrios aparecem é em momentos que as coisas parecem
se desdobrar diferente do original. Na primeira conversa entre Cloud e Aerith
as criaturas aparecem para afastar a florista porque ela deveria ter ido embora
antes de Cloud ser cercado pelos soldados. Quando Hojo está prestes a falar a
verdade sobre o passado de Cloud, algo que no game original só era revelado ao
protagonista bem mais a frente.
A questão é: tudo isso era
realmente necessário? Sabemos que esse um remake, que a história seria
reinterpretada, então precisava mesmo gastar tanto tempo e diálogos expositivos
com essa explanação macarrônica sobre multiverso e temporalidades alternativas?
Não sei até que ponto seria necessário justificar dentro da trama que esses
novos jogos não seguirão tão à risca a trama do original. A batalha final torna
tudo ainda mais rocambolesco. Durante a fuga de Midgar, o vilão Sephiroth ataca
os heróis na autoestrada, mas é logicamente interrompido pelos Murmúrios já que
esse não era o momento em que eles se enfrentavam.
Aerith, aparentemente capaz de
conversar com os espectros e com o próprio planeta, afirma que Sephiroth
precisa ser detido, mesmo que eles precisem alterar o destino. Então, antes de
enfrentarem Sephiroth, Cloud e os demais destroem o líder dos Murmúrios,
eliminando assim as forças que garantiriam que tudo seguisse a linha temporal
original e esse parece ser o plano de Sephiroth. Consciente da linha temporal
original, ele manipula os heróis a destruírem os murmúrios, assim, as forças
que garantiriam que ele sempre perdesse não mais existem. No entanto, a decisão
de Aerith em dizer que ela e os companheiros precisavam lutar com Sephiroth
naquele momento não faz sentido.
Se ela sabia das intenções dos
Murmúrios e sabia que o destino garantiria a vitória deles, então qual o motivo
de arriscar tudo? Bastaria dizer para darem meia-volta que os Murmúrios se
encarregariam de por Sephiroth em seu devido lugar. Ao longo da trama, desde
que Cloud a conhece, Aerith demonstra ter ciência dos eventos vindouros e da
sua eventual morte nas mãos de Sephiroth para que o planeta seja salvo. Então
qual a razão de jogar fora uma vitória aparentemente garantida?
Toda essa ideia de temporalidades
alternativas só cria mais complicações e possíveis furos do que ajuda a trama
em qualquer nível. Eu já imaginava de qualquer jeito que fatos do original
poderiam acontecer de maneira diferente aqui, então a trama não precisava
explicar isso dentro do universo narrativo. A natureza de um remake é
exatamente essa, reimaginar uma história já conhecida.
Essa escolha também me deixa um
pouco preocupado se considerarmos algumas das últimas cenas que mostram
personagens que deveriam estar mortos, como Zack e Biggs, aparentemente
sobrevivendo. O problema não é, em si, a alteração do original, temo porque isso
pode abrir espaço para uma espécie de “super final feliz” onde ninguém morre e
isso tiraria o peso da luta contra Sephiroth. O vilão é uma força capaz de
destruir um planeta inteiro, o mal supremo. A vitória contra uma força tão
poderosa deveria ser sofrida, deveria ter um custo e se todos saem ilesos desse
confronto então esse “mal supremo” talvez não seja tão supremo assim.
Lembro, inclusive, que ao falar
sobre o original, os criadores disseram que chegaram a considerar uma forma de
que o jogador pudesse ressuscitar Aerith, mas desistiram porque isso tirava o
peso dramático da morte dela. Isso fazia sentido antes e continua a fazer
sentido agora, então se ela não morrer, se os membros da Avalanche não
morreram, se Zack não morreu, a vitória contra Sephiroth não tem um “custo”.
Claro, é possível contornar isso matando personagens diferentes, o que é uma
possibilidade. Só espero que ao final da jornada não saiam todos ilesos.
Outra possibilidade é que tudo
aconteça exatamente igual, ainda que os personagens morram em ocasiões
diferentes, para sinalizar que foi justamente a tentativa de Sephiroth em
alterar o destino que colocou em movimento as circunstâncias necessárias para
sua derrota. Nesse caso, no entanto, toda a questão de destino e temporalidade soaria
inútil, já que, afinal, pra quê inserir novos elementos que não vão repercutir
em nada? De novo, isso só mostra como essa escolha cria mais problemas do que
resolve.
Outra questão que ficamos
ponderando é quanto falta para a história toda ser contada. Sabemos que este
será o primeiro episódio, mas a Square nunca deixou claro quantos estão
planejados. A seção de Midgar coberta em FinalFantasy VII Remake era uns 25 a 30% do game original, mas isso significa
que teremos mais três ou quatro episódios? Talvez. Ou talvez menos.
Considerando que a estrutura de Midgar era mais linear e que depois o jogo se
transforma em um mundo mais aberto, é possível pensar que recortar esse
primeiro episódio em Midgar garantiria uma estrutura mais coesa.
Consigo imaginar os próximos
adotando uma estrutura mais parecida com FinalFantasy XV, com um mundo aberto a explorar. Nesse sentido, talvez seja
possível dar conta do restante do jogo em mais dois episódios. Um que fosse da
saída de Midgar até a morte de Aerith e outro que continuasse desse ponto até o
final. Se isso é uma previsão correta, só o tempo vai dizer. A Square já avisou
que os próximos episódios talvez não demorem tanto quanto este primeiro levou
em desenvolvimento, então talvez tenhamos notícias de um segundo episódio em
breve.
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