Eu me surpreendi positivamente
com esse Bons Meninos. Parecia ser só
uma espécie de cópia de Superbad (2007)
com personagens um pouco mais jovens e sob o ponto de vista da trama até que é
isso. Mas não imaginava que uma trama besteirol estrelada por personagens
pré-adolescentes conseguisse criar situações tão absurdas e, ao mesmo tempo,
conseguisse equilibrar todo esse besteirol com sentimento genuíno. Só para
deixar claro, apesar de ter personagens pré-adolescentes, essa não é uma
comédia para o público infantil.
A narrativa gira em torno do trio
Max (Jacob Tremblay), Thor (Brady Noon) e Lucas (Keith L. Williams), garotos
que acabaram de chegar na sexta série e esperam se tornar descolados. A
oportunidade surge quando são convidados para a festa de um dos garotos
populares, na qual Max vê a oportunidade de se declarar para Brixlee (Millie
Davis), a menina de quem gosta. Chegar a essa festa não vai ser fácil e no
caminho os garotos encontrarão muitas confusões.
É um fiapo de roteiro que poderia
se transformar em algo entediante se não houvesse uma série de situações
absurdas e criativas para preencher o percurso. Muito do humor vem da reação
dos garotos a coisas do universo adulto que eles não entendem ou que analisam
com um olhar muito ingênuo, como na cena em que encontram os objetos sexuais
dos pais de Thor e acham que são armas, confundindo contas anais com um
nunchaku, uma máscara de sadomasoquismo com uma máscara ninja ou uma boneca
sexual ultra realista com um boneco de treinamento para primeiros socorros.
Em outros momentos o filme
diverte pelo puro absurdo, como o tiroteio de paintball em uma república de universitários ou a tentativa de
atravessar uma autoestrada que termina em um múltiplo engavetamento. O texto
também acerta no modo como brinca com certos clichês de tramas adolescentes.
Quando Max fala sobre Brixlee, temos a tradicional montagem em câmera lenta da
garota andando pelo corredor, mas as ações dela em cena são de coisas pouco,
digamos, apaixonantes, como ela espirrando ou lavando o aparelho móvel dos
dentes.
Apesar de todos os absurdos e
linguagem chula, o filme também encontra espaço para construir sentimentos
genuínos entre seus personagens, como o despertar afetivo de Max, que passa a
se interessar por garotas antes dos demais amigos, ou a preocupação de Lucas
com o divórcio dos pais que o faz perceber o risco de que seus amigos também
podem se afastar dele. Na verdade essa ideia de crescer e deixar de lado certas
coisas que antes pareciam essenciais é o cerne temático do filme, a ideia de
que pessoas desenvolvem interesses e prioridades diferentes, que se distanciam
umas das outras e que é normal que isso aconteça, lembrando que esse
distanciamento não significa esquecer do afeto com esses amigos nem desvaloriza
o que foi vivido em conjunto. O trio de atores principais é bem eficiente em
nos convencer da conexão e do afeto entre esses três garotos.
Bons Meninos oferece uma boa dose de comédia besteirol acompanhada
de uma construção sentimental agridoce sobre amadurecimento e amizade que
parece dissonante, mas acaba funcionando muito bem.
Nota: 8/10
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