Vocês já se perguntaram como
seria se o filme Te Pego Lá Fora (1987)
substituísse seus protagonistas de alunos para professores? Não? Bem, problema
seu, pois perguntando isso ou não este Te
Pego na Saída é a resposta e não é lá uma resposta muito boa. Na trama,
depois de fazer o bruto professor Strickland (Ice Cube) ser demitido, o manso
professor Campbell (Charlie Day) é desafiado para uma briga por Strickland
depois do horário da aula.
O primeiro problema é que toda a
situação é bem difícil de embarcar. Eu sei que a comédia é um gênero marcado
pelo exagero e pelo absurdo, mas mesmo esses absurdos precisam ser algo que
precisamos acreditar que seria possível acontecer, como fazem filmes tipo Se Beber Não Case (2009) ou o recente Bons Meninos (2019). Aqui, no entanto,
nada soa crível ou genuíno, com muitas situações parecendo falsas ao ponto em
que a imersão do espectador é quebrada.
Quando somos apresentados ao
agressivo Strickland, é difícil crer que alguém com a conduta agressiva dele
sobreviveria no constante escrutínio de pais do sistema de educação pública dos
EUA. Também é difícil embarcar na ideia que o aluno que Strickland ataca com um
machado iria evitar dedurar o professor. O desafio feito a Campbell também não
faz sentido. Se Strickland foi demitido por agredir um aluno, porque a escola o
deixaria terminar o expediente? Seria mais provável que ele fosse colocado para
fora do campus. Porque esperar até o fim da aula para dar uma surra em Campbell
se ele poderia fazer isso assim que saem da sala do diretor? Se a informação da
briga viraliza na internet em questão de minutos, como o diretor ou o resto das
instâncias superiores parece não saber ou não faz nada para evitar?
Enfim, são muitos elementos
jogados na tela a esmo sem fazer muito sentido ou sem qualquer preocupação com
relações de causa e efeito. Isso se agrava ainda mais no final, quando o
desfecho dos personagens não se conecta remotamente com o que vimos. É muito
difícil manter a suspensão de descrença que os dois não só não tenham sido
demitidos depois de uma briga amplamente filmada que destrói parte da
propriedade escolar (que é pública), como é difícil crer que eles não tenham
sido presos.
O roteiro tenta dizer que eles
foram vistos como heróis, mas não há qualquer motivo para isso, já que ninguém
efetivamente viu ou filmou a reunião em que Campbell peitou a direção por conta
dos cortes a serem realizados. Isso torna a mensagem final da narrativa
bastante problemática, já que a moral da história é que, em essência, é
perfeitamente possível resolver seus problemas e educar através da violência.
Não ajuda que os personagens
tenham arcos bem previsíveis ou sejam completamente desinteressantes. Desde os
primeiros minutos fica óbvio que o arco de Campbell envolverá ele aprender a
ser menos passivo, enquanto que Strickland, bem, ele não tem arco algum. O
personagem não tem qualquer crescimento ou transformação existindo apenas para
mover a história de Campbell.
Uma pena, já que em filmes como
os dois Anjos da Lei, Ice Cube
mostrou que pode ser muito divertido interpretando um sujeito que parece estar
com raiva o tempo inteiro, mas o material que ele tem em mãos aqui é raso
demais para fazer Strickland funcionar. O elenco coadjuvante ainda desperdiça
bons atores como Dean Norris ou Christina Hendricks em personagens sem graça
que nunca tem nada de interessante a fazer. A luta final até tem alguns
momentos divertidos por conta da comédia física exagerada, mas não justifica o
exercício de paciência ao qual a fita submete o espectador.
No fim das contas, Te Pego na Saída é uma comédia arrastada
e sem graça que mal consegue construir uma trama minimamente coesa.
Nota: 4/10
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