terça-feira, 5 de janeiro de 2021

Crítica – Soul

 

Análise Crítica – Soul


Review – Soul

A Pixar criou o costume de trabalhar temas complexos com uma linguagem acessível a todas as idades. Fez isso em filmes como Divertida Mente (2015) e tantos outros. Este Soul segue essa tendência ao trazer questionamentos existenciais e também ponderações metafísicas.

Na trama, Joe é um pianista de jazz que sofre um acidente e tem a alma separada de seu corpo horas antes de um grande show que ele acredita que mudaria sua carreira. No mundo das almas ele se recusa a ir ao pós-vida e aceita ser mentor de uma alma ainda para nascer, chamada de 22, para poder ter uma chance de voltar ao mundo dos vivos.

Como em outros filmes da produtora, a direção de arte é bastante criativa em ilustrar concretamente ideias abstratas, como o espaço do sublime no qual as pessoas, através da arte ou outros meios, entram em contato com o universo espiritual ou o modo como almas que se perdem em obsessões se tornam monstros presos em um invólucro de suas próprias ansiedades.

No coração de tudo essa é uma narrativa que questiona o sentido da vida. Uma pergunta complicada de se faz e ainda mais difícil de ser respondida. O texto, no entanto, reconhece a complexidade do tema e evita dar uma resposta muito pronta e acabada, deixando algumas coisas em aberto no final e compreendendo que não é necessário grandes realizações ou cumprir uma missão extremamente importante para que a vida de alguém tenha valor.

O valor da vida, como o filme mostra, está na vida em si, nas conexões que fazemos, no modo como nos aproximamos e ajudamos uns aos outros, em como sentimos e nos conectamos com o mundo a nossa volta. Para construir experiências de vida significativas não é necessariamente obrigatório fazer algo que todos irão ver e que mudará o mundo e o roteiro lembra que muitas vezes as pessoas deixam de aproveitar a vida ou dar valor ao que tem porque estão focadas em algum objetivo grandioso.

O meio do filme, no entanto, dilui um pouco as ideias do filme. A partir do momento que Joe volta como um gato, a trama parece mais focada no humor que isso pode gerar e acaba deixando a questão existencial em segundo plano. Sim, tem muitas sacadas divertidas, como quando ele vê um rato arrastando uma pizza pela rua (algo que de fato aconteceu em Nova Iorque) ou as tentativas do gato em ensinar 22 a se comportar como humana, mas ainda assim fica a impressão que a construção temática perde um pouco da força nesse segundo ato. Imagino que talvez tenha sido uma tentativa de evitar que tudo ficasse filosófico e existencialista demais para afastar o interesse dos pequenos, no entanto, filmes como Divertida Mente conseguiram um equilíbrio melhor entre acessibilidade a todos os públicos e complexidade temática.

Ainda assim o clímax tem a habitual competência e emoção que se espera dos filmes da Pixar conforme o protagonista entende que ter um propósito e um objetivo não é o que faz a vida valer a pena. A montagem que percorre pelos momentos significativos da vida de Joe é tão concisa e eficiente que é difícil não se emocionar e se deixar levar pelo filme.

Apesar de alguns problemas de ritmo e de nem sempre aproveitar plenamente o potencial da premissa, Soul traz uma hábil e emocionante ponderação sobre o que significa estar vivo.

 

Nota: 7/10


Trailer

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