Final de ano é sempre o momento de fazer um balanço de tudo
que passou e com 2020 é diferente. Não foi um ano fácil graças à pandemia do
COVID-19 e foi particularmente difícil para os filmes com o fechamento de
cinemas, grandes lançamentos indefinidamente adiados ou lançados direto em streaming. Sim, alguns lugares até
reabriram cinemas, mas o medo do contágio fez muitos se manterem afastados (eu
incluso). Deixar de ir aos cinemas, no entanto, não significa que eu não tenha
assistido vários filmes ao longo de 2020, bons e ruins. Como eu prefiro dar as
notícias ruins primeiro, começo meu balanço do ano com os piores, então vamos a
eles. Como em outros anos, a lista leva em consideração filmes que tiveram seu
lançamento oficial no Brasil em 2020, seja nos cinemas ou direto em plataformas
digitais.
10 – A
Hora da Sua Morte
A ideia de um aplicativo que diz quando a pessoa vai morrer poderia render algo ao menos no mesmo nível da tecnofobia do primeiro O Chamado ou as mortes criativas da franquia Premonição. O resultado de A Hora de Sua Morte, no entanto, carece de tensão, criatividade ou mesmo um gore divertido, sendo um terror sonolento que ainda tem a cara de pau de sugerir uma continuação.
9 – Fanático
Dirigido por Fred Durst, ex-vocalista do Limp Bizkit, esse
filme é mais uma tentativa de John Travolta de voltar a ser levado a sério como
ator dramático. Aqui ele interpreta Moose, um sujeito com problemas mentais que
desenvolve uma obsessão por um astro do cinema. A narrativa, no entanto, não
parece ter certeza de que tipo de mensagem quer construir ou para quem o
espectador deve torcer, sendo prejudicada por vários furos de roteiro e uma
composição exagerada de Travolta que descamba para a caricatura.
Nada é tão ruim que não possa ser piorado. Depois de
confundir possessividade, machismo e amizades tóxicas com comédia e romantismo,
essa continuação não só repete todos os erros do primeiro como ainda se arrasta
por inchadas e desnecessárias duas horas e dez minutos de conflitos dramáticos
que acontecem por pura conveniência de roteiro e diálogos constrangedores de
tão ruins.
7 – A Missy
Errada
Mais uma produção da produtora Happy Madison do Adam Sandler
que existe como mera desculpa para pagar as férias do comediante e seus amigos.
Estrelado por um David Spade que parece ter sido forçado a ir ao set tamanha
sua falta de energia ou empenho, o filme é a mesma coleção de escatologia
barata e piadas de gosto duvidoso baseadas em preconceitos arcaicos que são
comuns nas produções da Happy Madison.
Remake da famosa
série de mesmo nome estrelada por Ricardo Montalban, A Ilha da Fantasia é um raro fracasso da produtora
Blumhouse, especializada em filmes de terror. Apesar da premissa de “imaginação
sem limites”, o que a fita entrega é algo desprovido de imaginação,
encantamento ou mistério. Ao tentar explicar demais o funcionamento da ilha e
criar uma mitologia a ser explorada, o filme acaba se enrolando demais e diluem
a natureza enigmática da ilha e do Sr. Roarke. Além disso, a trupe de protagonistas
é um bando de clichês desinteressantes.
5 – O
Assassinato de Nicole Simpson
O caso do assassinato de Nicole Simpson, esposa do
ex-jogador de futebol americano O.J Simpson já foi muito bem retratado na
minissérie O Povo Contra O.J Simpson e o
documentário O.J: Made in America. As duas obras
davam a impressão de que não havia muito mais a ser contado sobre o caso, mas
este O Assassinato de Nicole Simpson
prometia inovar ao colocar a história sob o olhar de Nicole para que ela não
seja vista apenas como uma vítima. É uma promissa que nunca se cumpre já que
Nicole é reduzida apenas a uma vítima. Sem qualquer complexidade ou qualquer
outro arco além de ser violentada pelos homens ao seu redor, o filme é uma
exploração sensacionalista de uma tragédia real que desrespeita a memória da
vítima e ainda tem o agravante de tentar explicar o crime a partir de teorias
conspiratórias que já foram refutadas há muito tempo.
Terror russo incapaz de qualquer medida de coesão narrativa,
temporal ou especial. Boa parte dos eventos sequer consegue realizar um encadeamento
causal, os personagens são uma coleção de lugares comuns sem imaginação e o
monstro principal é vagamente definido. Além de tudo há o problema do filme ter
sido lançado aqui dublado em inglês (e a dublagem anglófona é péssima) com
legendas em português, o que não faz o menor sentido. Se era para assistir
legendado, porque não manter o áudio original em russo?
3 – Acordar
Negro
Produção estadunidense estrelada pela modelo brasileira Nana
Gouvea, o trailer dele circula há alguns anos via internet, mas só em 2020
chegou oficialmente ao Brasil via Prime Video. O filme usa a estrutura de um
terror found-footage não apenas para
disfarçar o baixíssimo orçamento, mas a quase total falta de construção
narrativa, de personagem ou mesmo de tensão torna tudo um absoluto tédio. São basicamente noventa minutos de
Gouvea falando diretamente com a câmera sem que nada aconteça.
2 - The
Last Days of American Crime
A narrativa apresenta um futuro distópico no qual o crime está prestes a ser
erradicado graças a uma tecnologia que paralisa qualquer um que tente cometer
uma ilegalidade. Apesar das longas três horas de duração, o filme não tem nada
a dizer sobre os temas de vigilância, punição ou autoritarismo. Ao invés disso
se perde em um monte de reviravoltas que vão do nada ao lugar nenhum,
personagens vazios e cenas de ação com tantos cortes por segundo que parecem
pensadas para provocar epilepsia no espectador.
1 - A
Última Coisa Que Ele Queria
Uma adaptação de um premiado romance comandada por uma diretora competente e um elenco de peso formado por nomes como Anne Hathaway, Willem Dafoe e tantos outros. No papel não tinha como sair nada dar errado, mas na prática o filme erra feio, erra rude. Tentando falar sobre jornalismo, intervencionismo estadunidense e relações familiares, a narrativa mal consegue contextualizar seus temas principais de maneira minimamente compreensível, se desenvolvendo como um amontoado de cenas coladas a esmo sem qualquer senso de intencionalidade, ritmo, progressão ou arcos de personagem. Em muitos momentos a impressão é de que estamos vendo algo incompleto, como se faltassem cenas ou diálogos para que houvesse um mínimo de coesão. É impressionante como a reunião de tanta gente talentosa conseguiu gerar um resultado tão ruim. Ao menos faz jus ao título e é a última coisa que você vai querer ver em 2020. Ou em qualquer outro ano diga-se de passagem.
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