A trama é focada em J.D (Gabriel Basso) um jovem estudante de direito que volta para sua cidade natal depois de saber que sua mãe, Bev (Amy Adams), teve uma overdose. Lá, ele começa a rememorar sobre a juventude, as dificuldades passadas com a família e a difícil relação que tinha com a mãe e com a avó (Glenn Close).
A narrativa vai e volta no tempo, intercalando o presente de J.D lidando com a overdose mãe com diferentes momentos do passado em que ele rememora a infância morando com a mãe e posteriormente com a avó. Não há muita razão para boa parte dessas idas e vindas que trabalham mais para dar um caráter fragmentado e episódico do que para efetivamente costurar essas diferentes experiências. O filme poderia começar com J.D indo para casa e depois voltando ao passado, contando tudo cronologicamente em ordem a partir daí que não faria muita diferença.
Esses fragmentos, passados ou presentes, são pouco mais do que uma coleção de barracos que apresentam Bev como uma pessoa difícil e problemática sem, no entanto, exibir qualquer esforço de entender como ela se tornou assim. Isso também acontece com o restante das personagens, como a avó ou Lindsay (Haley Bennett), todas tratadas como figuras unidimensionais e que existem apenas para gravitar em torno de J.D como que servindo apenas como obstáculos/aprendizados em sua jornada de sucesso.
O filme mostra a pobreza dessa família sem qualquer tentativa de analisar como ou porque as coisas chegaram naquele ponto, nas razões históricas sociais ou políticas que causam a extrema pobreza e que fizeram o esforço de três gerações serem necessários para que um deles fizesse faculdade. Ao invés disso tudo é reduzido a um espetáculo grotesco de barracos e chiliques numa espécie de estetização da miséria que deseja apenas nos mostrar como aquelas pessoas são abjetas e problemáticas sem dar muita humanidade a elas.
Amy Adams até tenta trazer um olhar cansado, como se Bev tivesse sido endurecida e desiludida por uma vida de dificuldades, no entanto a atriz é limitada por um texto que não exibe qualquer disposição para tentar ir na raiz dos rancores, dos vícios e brutalidade da personagem e o mesmo se aplica a avó ou aos outros. Assim, mesmo com performances dedicadas de Adams ou Close, essas personagens muitas vezes descambam para caricaturas por conta de um texto que parece pouco interessado em entender essas personagens. Com isso, a epifania final de J.D sobre a importância de tudo que vivenciou soa vazia e sem impacto, já que nunca vimos essas figuras da vida dele como outra coisa além de estereótipos rasos.
Apesar de um elenco esforçado, Era Uma Vez um Sonho reduz a condição de suas personagens a um mero
espetáculo de sofrimento e miséria com muito pouco a dizer sobre as condições
em que viviam ou como isso afetou suas personalidades.
Nota: 4/10
Trailer
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