Muitos lembram de Antônio Carlos Bernardes Gomes como o comediante Mussum do grupo Os Trapalhões, mas o artista também foi um prolífico compositor, sambista e várias outras coisas ao longo de sua vida. Este Mussum: Um Filme do Cacildis tenta dar conta da prolífica vida do artista, de suas relações pessoais, bem como seus desafios.
Com uma narração bem humorada por parte de Lázaro Ramos, o filme consegue manter o espírito de irreverência do seu biografado ao mesmo tempo que há um esforço genuíno de analisar sua trajetória. Apesar de seu trabalho com humor ao lado de Renato Aragão e Dedé Santana ser a parte mais lembrada por boa parte do público, a estrutura da narrativa vai focar mais no início da carreira artística de Mussum e seu trabalho com samba.
O documentário se vale de recursos tradicionais deste tipo de biografia, com entrevistas a amigos, colegas de trabalho ou familiares e também imagens de arquivo contendo apresentações de Mussum e algumas entrevistas dele no passado. Não fosse a narração jocosa seria algo convencional demais para um artista tão marcado pela irreverência, mesmo antes de sua incursão no humor.
Ao longo da narrativa acompanhamos a entrada de Mussum no mundo do samba, como ele fazia seus próprios instrumentos, incluindo combinações pouco usuais como um banjo com braço de cavaco, as formações de diferentes grupos musicais e o momento em que recebeu seu célebre apelido por conta de uma brincadeira que o ator Grande Otelo fez com ele. O filme não esconde o lado mulherengo de seu biografado, expondo o fato de que apesar de casado ele teve outros quatro filhos fora do casamento com quatro mulheres diferentes, evitando um tom exclusivamente laudatório para seu protagonista, ainda que essa faceta de sua personalidade seja enquadrada como parte do comportamento malandro e irreverente de Mussum.
Eventualmente o filme chega ao sucesso dele nos Trapalhões, narrando como ele e Dedé se conheceram e a importância de ter uma pessoa negra como protagonista de um dos programas de maior sucesso no país. Ao falar sobre o humor do grupo, o filme explora a questão das piadas de cunho preconceituoso feitas no programa, tentando oferecer a perspectiva de Mussum sobre o assunto ao mesmo tempo que reconhece a ambiguidade da situação. Afinal, se por um lado o programa representava um importante espaço conquistado na mídia por uma pessoa negra, por outro também significava uma manutenção de alguns estereótipos problemáticos.
Mussum: Um Filme do
Cacildis envolve justamente por analisar a complexidade de seu biografado e
também pelo esforço de trazer humor e irreverência para sua estrutura
narrativa.
Nota: 7/10
Trailer
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