terça-feira, 1 de junho de 2021

Crítica – Vanquish

 Análise Crítica – Vanquish

Review – Vanquish
Não fosse a presença de atores conhecidos do cinemão hollywoodiano, eu seria capaz de dizer que este Vanquish é era um filme amador por conta de suas múltiplas inaptidões técnicas e artísticas. No entanto, sabendo que foi feito por profissionais, é só um produto incompetente em todos os níveis que não serve nem como comédia acidental.

Na trama, Vicky (Ruby Rose) é uma ex-traficante de drogas que trabalha como cuidadora do policial aposentado e paraplégico Damon (Morgan Freeman). Um dia Damon revela a Vicky que ele controla um império de corrupção e drogas e precisa de alguém para recolher o dinheiro de seus negócios antes que o FBI descubra os locais. Vicky inicialmente recusa, mas Damon pega a filha dela de refém e assim a personagem precisa fazer o que ele quer.

É curioso que ao invés de dar logo de uma vez os cinco locais em que quer que Vicky recolha o dinheiro, Damon dá um local por vez, fazendo ela retornar à casa dele com o dinheiro antes de informar o local seguinte. Porque fazer isso ao invés de dar os cinco locais de vez? Não sei. Faria mais sentido, já que ele está correndo contra o tempo, do que fazer Vicky perder tempo indo e voltando, mas o filme nunca dá uma razão consistente para essa escolha do personagem.

Além de não fazer sentido em termos de narrativa, essa decisão também torna a trama esquemática e repetitiva, já que sempre vemos Vicky ir em algum pé sujo encher de bala alguns capangas genéricos, voltar para Damon fazendo algum comentário agressivo sobre querer ver a filha e então recomeçar o ciclo.

O filme inteiro é cheio dessas decisões estranhas que nenhuma pessoa em situação semelhante tomaria. Também tem várias escolhas questionáveis em termos de direção, montagem ou sonorização. Isso vem desde os créditos iniciais, que se alongam bastante com imagens que mostram de maneira desnecessariamente reiterada como Damon era um policial herói até deixar a corporação depois de ser baleado, ficar paraplégico e se tornar suspeito de corrupção. Uma ou duas imagens dessas manchetes bastariam, mas o filme nos mostra uma dúzia delas intercaladas com imagens aleatórias de armas e crucifixos que parecem retiradas de algum banco de imagem.

A trilha musical é esquisita para um filme de suspense, marcadas por notas de piano que soam como um jazz suave destoando do clima de tensão que a trama tenta criar. Algumas tomadas, como os planos externos da mansão de Damon, exibem nuvens e outros objetos de computação gráfica que parecem saídos de algum videogame de duas gerações atrás. Perseguições de carro são construídas com uma montagem picotada que faz tudo parecer fragmentado e lento, não dando nenhuma sensação de urgência ou adrenalina, mesmo quando Vicky faz alguma manobra mais extrema, como deslizar a moto por baixo de um caminhão para afastar perseguidores.

Era de se imaginar que em cada um dos locais indicados por Damon, Vicky fosse encontrar inimigos com alguma personalidade que oferecessem algum tipo de tensão ou drama em seus diálogos ou ações. Na maioria dos casos, no entanto, o filme coloca situações que sequer fazem sentido. Em uma das coletas Vicky vai encontrar um padre em um cemitério enquanto fogos de artificio estouram no céu. Porque alguém dispararia fogos de artifício em um cemitério? Porque o padre esperaria ela no meio das lápides chamando atenção de qualquer um que passasse? Não seria mais seguro, talvez, que a troca acontecesse num confessionário? A impressão é que os realizadores pensaram em uma imagem estilosa e pouco se importaram se fazia sentido ou não e, pior, sequer construíram algo de fato estiloso ou com qualquer personalidade estética.

Em outra cena Vicky começa a fazer piadas com o fato de um chefão do crime ter o sobrenome Small (pequeno em inglês) e ser morbidamente obeso. Deveria ser algo para criar tensão e o filme tenta construir isso simplesmente inserindo vários cortes dos diferentes rostos das pessoas envolvidas na cena usando alguns floreios estranhos de montagem, como fazendo a imagem deslizar para cima ou para baixo do quadro. De novo, parece algo pensado para ser estiloso, mas além de não criar o efeito de suspense desejado faz tudo soar risível, como se o montador tivesse decidido jogar esses efeitos a esmo só para mostrar que dominava certas ferramentas de softwares de edição.

Em alguns momentos os personagens tomam decisões que vão diretamente contra o que a narrativa estabeleceu sobre os personagens. Um exemplo é quando Damon revela suas atividades criminosas para Vicky, que demonstra surpresa. O problema da reação da personagem é que as reportagens mostradas nos créditos iniciais já mostravam Damon como alguém possivelmente envolvido em corrupção. Além do mais, considerando o passado criminoso da protagonista, é estranho que ela não tinha ouvido falar nada disso ou que não tenha desconfiado que a opulenta mansão em que ele vive não poderia ter sido comprada com um salário de policial ou com o valor recebido do seguro depois de ficar paraplégico.

A revelação de que Damon fez tudo apenas para dar um novo começo a Vicky ao mesmo tempo em que aceitava as consequências por seus próprios erros do passado soa como algo jogado a esmo para forçar uma sensação de surpresa. Se ele apenas queria dar a Vicky o dinheiro e a oportunidade de se vingar de quem a prejudicou, porque não simplesmente dizer isso? Do mesmo modo, esse sentimento de culpa de Damon nunca é devidamente construído para além da conversa inicial cheia de platitudes vazias entre Damon e um padre. Morgan Freeman, por sinal, parece completamente desinteressado em cena, como se só estivesse ali esperando para descontar o cheque do cachê.

Com uma narrativa vazia, personagens inanes e decisões criativas ineficientes Vanquish é um dos piores filmes que já vi.

 

Nota: 1/10


Trailer

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