A trama acompanha Madison (Annabelle Wallis), uma mulher presa a um relacionamento abusivo e que não consegue engravidar, tendo sofrido dois abortos espontâneos seguidos. Um dia sua casa é atacada por uma misteriosa entidade que mata o marido de Madison, deixando-a como única sobrevivente. Como não havia marcas de invasão na casa e Madison tinha sinais de que sofria violência física do marido, ela é considerada suspeita pelo detetive Kekoa Shaw (George Young). Aos poucos, Madison começa a ter visões da mesma criatura atacando outras pessoas e resolve desvendar o mistério do porque está conectada a esta entidade.
Ao longo do filme Wan transita com habilidade entre diversos tipos de terror, de casas assombradas a possessão, passando pelo slasher e também histórias sobre crianças demoníacas. Nas mãos de alguém menos competente seria uma bricolagem sem personalidade, mas Wan consegue amarrar tudo em um conjunto coeso no qual o todo consegue ser maior que a soma das partes. Há uma palpável atmosfera de tensão por não sabermos exatamente a natureza da entidade que dialoga com Madison ou seus objetivos. Os espaços sombrios, cheios de contrastes entre luz e sombra, bem como os sinuosos travellings sem cortes que a câmera dá pelos ambientes (recursos que o diretor também usou nos dois primeiros Invocação do Mal) contribuem para a impressão de um mal sempre à espreita.
As criaturas bizarras e o modo como os corpos das vítimas ficam dilacerados depois dos ataques mostram o poder e a selvageria da criatura que assombra Madison. O clímax inclusive tem algumas ótimas cenas de violência conforme a criatura sai matando desenfreadamente dentro de uma delegacia e a câmera se mantêm na criatura exibindo toda a violência de seus ataques, usando poucos cortes para reforçar a movimentação ágil e estranha (pensem no Voldo do game Soul Calibur) daquele ser.
A reviravolta próxima ao clímax que explica a natureza da entidade pode soar absurda para alguns, mas faz sentido no clima de exagero e produção B que a narrativa estabelece para si, com direito a closes e trilhas musicais bastante intrusivas toda vez que alguém faz uma grande revelação. É uma escolha estética cafona e batida, mas feita com consciência para evocar o terror de baixo orçamento da década de 70. Além disso a cena inicial e o diálogo posterior sobre Seattle ter se construído sobre as ruínas da parte antiga da cidade que ainda existe nos subterrâneos servem como pista e preparação para revelação sobre a entidade. Sim, é maluca e completamente aloprada, mas no melhor sentido possível. O filme aproveita bem as possibilidades criativas doidas de sua entidade, ainda que não explique plenamente algumas habilidades sobrenaturais da criatura, como o fato dela se comunicar através de rádios e outros eletrônicos.
Com um olhar autorreferencial a
respeito do tipo de terror B que tenta evocar, embarcando com criatividade na
maluquice de sua premissa ao mesmo tempo que se eleva graças ao apuro visual de
James Wan, Maligno é um hábil terror
cheio de tensão e mortes sangrentas.
Nota: 8/10
Trailer
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