Na trama, Maverick (Tom Cruise) é chamado de volta à academia Top Gun para treinar uma nova geração de pilotos e prepará-los para uma difícil missão. Lógico que esses ases indomáveis tem seus egos e Maverick precisa ensiná-los tanto a manejarem suas aeronaves quanto a saberem trabalhar em equipe. O protagonista tem seu próprio foco de tensão na equipe com a presença de Rooster (Miles Teller), filho de seu falecido parceiro Goose (Anthony Edwards).
Sim, a trama segue muito das mesmas batidas do filme original, inclusive com segmentos bem parecidos, como a sessão de piano no bar, os esportes sem camisa na praia ou as tomadas de Maverick acelerando de moto ao lado de pistas de pouso. Ainda assim, há um inegável senso de diversão conforme o filme explora o senso de hipermasculinidade de seus personagens, sempre tentando mostrar uns aos outros quem é o maioral através de frases de efeito desavergonhadamente cafonas e justamente por isso funcionam.
Ainda assim, o filme encontra momentos genuínos de emoção e drama, seja na cena em que Marverick encontra Iceman (Val Kilmer), seja nas tensões entre o protagonista e Rooster. Cruise é eficiente em construir o pesar que seu personagem carrega pela morte de Goose, do mesmo modo que Teller traz uma compreensível frustração em Rooster pela condescendência com a qual Maverick o trata. Cruise também estabelece uma boa química com Jennifer Connelly, que faz Penny, novo interesse romântico de Maverick, ainda que Connelly fique presa ao papel de interesse amoroso sem muito mais o que fazer.
Por outro lado, a rivalidade entre Rooster e Hangman (Glen Powell) não funciona o tanto que deveria. Se animosidade entre os dois é inicialmente bem construída, as pazes feitas antes do início da missão final nunca soam devidamente merecidas, deixando essa resolução carente de impacto. A impressão é que essa dinâmica tenta apenas reproduzir a relação entre Maverick e Iceman no primeiro filme.
O que funciona muito bem, no entanto, são as cenas de ação. Como em outras produções estreladas por Cruise, o filme tenta usar aeronaves e manobras reais a maior parte do tempo possível, nos fazendo perceber que os atores de fato estão no cockpit desses aviões, dando um senso de urgência e velocidade bem palatáveis. Nesse sentido, a decisão da Paramount em adiar a estreia ao longo da pandemia de COVID-19 para que o filme pudesse chegar nos cinemas se mostra acertada, já que são cenas de ação que de fato merecem ser conferidas na tela grande.
É, no entanto, um filme que reproduz as mesmas visões sobre o militarismo estadunidense e seu papel como “polícia do mundo” presentes no filme original, produto da era Reagan e uma tentativa da indústria cultural em recobrar a admiração pelas forças armadas do país depois do fracasso do Vietnã. Não há aqui nenhuma reflexão sobre o intervencionismo imperialista dos EUA, apenas uma celebração dele. Eu sei, que é uma produção que visa entretenimento, mas não se pode desconectar ele da visão de mundo que apresenta e há aqui, como em boa parte do cinema de ação hollywoodiano, um endosso às guerras estadunidenses e a ideia de “ataques preventivos” sob a justificativa de paz. Não digo isso para estragar a diversão de ninguém, mas apenas como um lembrete que mesmo peças de entretimento são imbricadas de uma visão política específica.
De todo modo, Top Gun: Maverick entrega um blockbuster
de ação que abraça uma certa cafonice de outrora, conseguindo divertir pelo
carisma do elenco e pelas ótimas cenas de ação.
Nota: 7/10
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