segunda-feira, 15 de agosto de 2022

Crítica – Westworld: 4ª Temporada

 

Análise Crítica – Westworld: 4ª Temporada

Review – Westworld: 4ª Temporada
Ao falar sobre a terceira temporada de Westworld mencionei como a série acertava ao evitar o hermetismo do segundo ano e levar o conflito a novos espaços e direções. Pois a quarta temporada de Westworld soa, em muitos aspectos, como um passo para trás, que foca demais em conflitos similares a tramas anteriores e em truques de ocultar informação apenas para produzir surpresas depois. Aviso que o texto contem SPOILERS da temporada.

A narrativa se passa alguns anos depois do terceiro ano. Robôs e inteligência artificial foram praticamente proibidos de serem utilizados. Caleb (Aaron Paul) reconstruiu a vida e agora tem esposa e filhos. Isso, no entanto, não significa que a humanidade está completamente livre de ameaças. Hale (Tessa Thompson) continua a tentar controlar a humanidade e substituir humanos por anfitriões. Agora ela conta com a ajuda da versão anfitriã de William (Ed Harris) que obedece a todos os seus comandos.

Os primeiros episódios parecem apenas repetir os mesmos conflitos e ideias do ano anterior, apenas mudando o plano de Hale, que agora quer controlar diretamente as mentes dos seres humanos com parasitas carregados por moscas. Do mesmo modo, a série usa o mesmo truque de reter informação para dar um clima de mistério a certos núcleos de personagem.

O problema é que esses expedientes já se tornaram familiares, sendo fácil perceber, por exemplo, que Christina (Evan Rachel Wood) está em uma realidade diferente da dos demais ou que o Caleb sendo interrogado por Hale é uma réplica e ele está no futuro. Nem mesmo pelo modo como essas revelações são construídas elas conseguem impactar, soando excessivamente protocolares, diferente do que aconteceu na primeira temporada quando a revelação envolvendo o jovem William conseguia ter peso mesmo quando boa parte dos fãs previu a reviravolta com semanas de antecedência.

A temporada ganha fôlego a partir do momento em que somos jogados no futuro em que Hale venceu e a série começa a propor outras questões sobre existencialismo. Agora que superaram seus criadores e os tem sob seu controle, os anfitriões seriam capazes de transcender a compreensão humana de existência e construir uma sociedade melhor que a nossa? Agora que estão livres do propósito para o qual foram criados, eles conseguirão por si só questionar a própria existência ou irão vagar a esmo?

A ideia de anfitriões cometendo suicídio deriva justamente do pavor existencial de se dar conta de que sua existência não vem da intenção específica de um criador benevolente, mas de uma série de eventos fortuitos sem uma lógica específica. Saber que nossa existência precede a essência (como diria Sartre) pode ser algo difícil de encarar. Nesse sentido é curioso que Hale associe o comportamento de sua raça a uma “contaminação” dos humanos e não fruto dessa utopia inane por ela criada na qual o mundo não passa de um joguete. O suicídio dos anfitriões não se dá pelo contato deles com os humanos e sim por se descobrirem como seres conscientes.

O episódio centrado em Caleb tentando escapar da torre de Hale e encontrando as várias versões de si que falharam serve como uma metáfora entre os seres humanos e as máquinas. Assim como máquinas vão melhorando a partir de múltiplas iterações de um mesmo design que incorpora o aprendizado dos anteriores, os seres humanos constroem seu aprendizado a partir das tentativas, erros e acertos dos que vieram antes. Serve também como uma ilustração da evolução biológica, na qual a sobrevivência de uma espécie depende de uma conjunção de fatores fortuitos favoráveis, fazendo-a ser bem sucedida enquanto outras formas de vida se tornam extintas.

Essa ideia de que o propósito da vida é o de apenas se adaptar e sobreviver é o que move William a implodir o mundo criado por Hale. Se ela buscava que sua espécie alcançasse algum tipo de consciência superior, ele reduz a vida a seus aspectos mais primitivos, tentando impor a ideia de que não importa o quanto acumulemos de conhecimento ou avaliemos as possibilidades de nossa própria existência, no fim seriamos apenas animais.

São ideias interessantes, mas que fundamentalmente são jogadas para a próxima temporada conforme o quarto ano termina com uma espécie de retorno ao básico que decidirá o destino da vida inteligente em nosso mundo. Considerando o quanto essa temporada amplia o escopo da série, nos levando a um literal apocalipse, a decisão de que novas tramas diminuam de escala (ainda que com riscos e consequências altas) soa acertada. Querer tornar as coisas ainda maiores provavelmente descambaria para o absurdo.

Dito isso, a quarta temporada de Westorworld não consegue afastar a sensação de que estamos diante de um capítulo “intermediário” que faz a passagem para o real clímax da história. A temporada apresenta algumas boas ideias, mas demora para encontrar um caminho próprio e dá sinais de que a fórmula está se desgastando. Espero sinceramente que a quinta temporada seja a última porque não há mais para onde ir.

 

Nota: 6/10


Trailer

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