terça-feira, 4 de outubro de 2022

Crítica – Operação Cerveja

 

Análise Crítica – Operação Cerveja

Review – Operação Cerveja
Depois de vencer o Oscar de melhor filme com o bem intencionado, mas problemático Green Book: O Guia (2019), Peter Farrelly volta a tentar fazer um filme mais sério, distante das comédias que dirigia com o irmão, como Debi e Loide (1994) ou Quem Vai Ficar com Mary (1998). Se no filme anterior o diretor tentava abordar temas relativos a racismo e segregação, neste Operação Cerveja o foco é a Guerra do Vietnã.

Baseada em fatos reais, a narrativa se passa em 1967 e é protagonizada por Chickie (Zac Efron), um jovem que passa seus dias bebendo e aproveitando a vida. Ao mesmo tempo, os amigos de Chickie estão sendo mandados para o Vietnã e voltando em caixões. Se sentindo culpado por ficar em casa e por ter passado seu serviço militar em uma base nos EUA, longe da ação, Chickie decide ir ao Vietnã para entregar cerveja aos amigos do bairro e levantar o moral das tropas.

Sim, é uma decisão idiota e o filme sabe disso. Chickie é tratado o tempo inteiro como alguém conscientemente estúpido que não tem a menor noção do apuro em que se meteu. Praticamente uma versão da vida real do personagem de Jim Carrey em Debi e Loide (1994), Chickie se embrenha por zonas de conflito distribuindo latas de cerveja e sobrevivendo basicamente por ser “burro demais para morrer” como diz um dos soldados do local. Zac Efron já tinha se mostrado eficiente em interpretar um idiota completo em produções como Vizinhos (2014) e Baywatch (2017) e aqui volta a funcionar muito bem nesse arquétipo, dando a Chickie um otimismo ingênuo que lhe confere alguma humanidade, evitando que descambe para a caricatura. Efron é ainda auxiliado por uma performance competente de Russell Crowe como um repórter calejado que tenta fazer Chickie enxergar a severidade da situação.

O problema do filme não está em seu protagonista, mas pelo modo simplório e raso com o qual explora uma questão histórica e geopolítica tão complexa como o conflito no Vietnã. Sim, eventualmente a conclusão do filme é que o conflito é ruim, que a nação não é inimiga dos EUA, no entanto, não há muito espaço para criticar o imperialismo do país, a brutalidade de suas ações ou como o ideal de patriotismo e militarismo do país existe justamente para fomentar esse tipo de ação.

Desta maneira, o Vietnã aparece como uma espécie de erro isolado das forças armadas e do governo do país, não como uma prática recorrente de sua política internacional. Do mesmo modo, a conclusão sobre a crueldade da guerra não sai do óbvio, dita através de diálogos excessivamente didáticos e expositivos. Ao invés de enfrentar diretamente a retórica militarista, o texto tenta construir uma conciliação entre noções de patriotismo defendidas por Chickie e a abordagem de pacifismo e protesto à guerra feita pela irmã do protagonista. Assim, o filme nunca enfrenta diretamente seu objeto, saindo por tangentes convenientes que relativizam os elementos do conflito ao invés de efetivamente criticá-los.

Com humor e uma performance carismática de Zac Efron, Operação Cerveja esbarra em um texto simplório que não consegue dar conta das ambições temáticas do filme e trata de maneira rasa a complexidade da Guerra do Vietnã.

 

Nota: 5/10


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