A trama se passa muitos anos depois do primeiro filme. Jake (Sam Worthington) agora tem uma família com Neytiri (Zoe Saldana) e vive em comunhão com o povo da floresta e com os poucos humanos que restaram em Pandora. Tudo muda quando a humanidade retornar pronta para guerra e para retomar o controle do planeta. Jake lidera uma guerrilha contra os humanos, mas os planos mudam com a chegada de um clone do coronel Quaritch (Stephen Lang), agora num avatar de Na’vi, enviado especialmente para caçar Jake e sua família. Jake decide deixar a floresta e se refugiar com o povo da água, onde acredita que ficará seguro.
O filme basicamente repete a trama do anterior, com Jake (agora com a família) sendo “estranhos no ninho” precisando se adaptar aos costumes e práticas de um povo que não entende para ser aceito por ele. Se a trama do primeiro já era relativamente derivativa, aqui temos a derivação da derivação ao ponto em que temo que futuras continuações simplesmente repitam a mesma estrutura de Jake se mudar para um novo bioma, conhecer uma nova tribo de Na’vi e precisar aprender seus costumes.
Não ajuda que Jake continue sendo um protagonista básico e sem personalidade que não nos dá muito com o que se importar além de narrações excessivamente expositivas que muitas vezes explicam aqui que já estamos vendo na tela. Incomoda também a desculpa usada para trazer Quaritch de volta, já que a ideia de clones que herdam as memórias do original é o tipo de dispositivo narrativo que pode ser abusado facilmente para tornar a morte um elemento dramatúrgico inconsequente. Sem falar que a despeito da aura de ameaça que Lang colocava no vilão, o personagem não é lá grande coisa ao ponto de justificar esse retorno, sendo mais sustentado pela performance de seu ator do que pela construção do roteiro.
Sim, há uma clara metáfora para a violência colonial do nosso mundo no modo como os humanos tratam os Na’vi ou a natureza (a cena do óleo sendo retirado de um Tulkum claramente referencia a indústria baleeira), bem como uma crítica à postura dos Estados Unidos como “polícia do mundo” e suas “guerras preventivas” no exterior, com as cenas de Quaritch torturando nativos e queimando vilas remetendo ao Vietnã. A questão é que tudo isso acaba sendo relativamente superficial, não falando muito além do que já sabemos sobre esses temas. O próprio James Cameron já usou antes a ficção científica como metáfora para o Vietnã em Aliens: O Resgate (1986).
Roteiros, no entanto, nunca foram o forte ou o foco do cinema de Cameron e sim o espetáculo audiovisual e, nesse aspecto, o cineasta cumpre tudo aquilo que promete, entregando ação e qualidade visual como poucos diretores conseguem. Visualmente Avatar: O Caminho da Água é ainda mais deslumbrante que o anterior. O mundo de pandora vibra e pulsa como um lugar real. As criaturas da água se movem com peso e fluidez como se realmente se movessem sob a pressão e correntes de um oceano, os Na’Vi se movem como se tivessem esqueleto e músculos reais e não como bonecos de pano como a maioria dos personagens digitais. Mesmo em um cenário dominado por computação gráfica e seres digitais, o que Cameron entrega aqui está, de fato, em outro patamar.
Nesse sentido não posso deixar de recomendar que esse filme seja visto em um cinema com a maior tela possível e em 3D. Sim, em 3D. Eu sou a primeira pessoa a dizer que 3ª em geral é picaretagem porque a maioria dos filmes lançados no formato não são filmados com câmeras 3D, mas convertidos para o formato durante a pós produção, o que não costuma dar conta da ilusão de tridimensionalidade. Cameron, por outro lado, filmou tudo com câmeras 3D, conseguindo de fato transmitir a sensação de profundidade espacial e volume dos objetos, nos deixando imersos no mundo que ele cria no filme.
As cenas de ação são muito bem conduzidas, conseguindo injetar tensão, urgência, drama e empolgação aos embates entre humanos e Na’vi. Por mais que os personagens sejam básicos, a ação é tão bem conduzida que eu me vi temendo pelo destino desses personagens, tenso com os possíveis desdobramentos e mortes durante o confronto com as forças lideradas por Quaritch ao final do filme. O fato de conseguir me conectar com os eventos e personagens na tela mesmo sabendo conscientemente que Jake Sully é um dos protagonistas mais sem sal feitos por Hollywood é um testamento da habilidade de James Cameron em criar cenas de ação espetaculares que nos envolvem pelo puro deleite visual e emocional que elas proporcionam.
O desfecho deixa algumas pontas soltas e caminhos possíveis para futuras continuações. Nem todos esses desdobramentos são exatamente bem construídos, como a relação de Spider (Jack Champion) e Quaritch, enquanto outros são desnecessariamente empurrados para próximos filmes a exemplo da revelação sobre a origem de Kiri (Sigourney Weaver). Esses elementos e outros já anteriormente citados me fazem duvidar se de fato há fôlego para o número de continuações que Cameron planeja ou se resultará em algo semelhante ao que aconteceu com a Warner e a tentativa de múltiplas continuações de Animais Fantásticos que resultou em filmes progressivamente piores.
Assim, mesmo sendo derivativo em
sua trama, Avatar: O Caminho da Água
entrega um nível espetáculo que tem se tornado cada vez mais raro em blockbusters hollywoodianos, envolvendo
e encantando pela sua inventividade visual e condução das cenas de ação.
Nota: 8/10
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