Na trama, o detetive Benoit Blanc (Daniel Craig) é convidado para um final de semana na mansão do bilionário Miles Bron (Edward Norton) em sua propriedade nas ilhas gregas. Além de Blanc, estão na viagem outros amigos e parceiros do bilionário e o motivo da viagem é participar de um jogo: desvendar o fictício assassinato de Miles. O problema é que pessoas começam a morrer de verdade e Blanc precisa entrar em ação.
De início parece que estaremos diante de um mistério bem similar ao romance E Não Sobrou Nenhum de Agatha Christie, em que um grupo de pessoas numa mansão remota começa a ser assassinado um a um, no entanto, o texto de Rian Johnson consegue pegar essa premissa familiar e virar ao avesso, evitando que as coisas fiquem previsíveis demais e mantendo o clima de suspense.
Na verdade, o desenvolvimento do mistério e as eventuais explicações dele são quase uma crítica a essa forma excessivamente barroca de assassinatos e conspirações complexas que encontramos em narrativas típicas da era de ouro das narrativas policiais. Aqui, toda a série de assassinatos não é um plano engenhoso fruto de uma mente ardilosa, mas uma série de decisões estúpidas e sem criatividade performadas por um sujeito que se acha mais inteligente do que realmente é e que só passa incólume porque a maioria das pessoas ao seu redor é igualmente idiota e ególatra. O clímax ainda traz um comentário sobre uma certa categoria de bilionário que se considera inovador ou disruptivo ao mostrar que não tem como haver disrupção quando a ordem social e acúmulo de capital se mantem nas mãos das mesmas pessoas. A verdadeira disrupção passaria por derrubar toda essa classe de super ricos.
Para além do ritmo, tensão e senso de humor da condução de Johnson, o filme envolve também pelo seu elenco de personagens excêntricos. É divertidíssimo ver atores veteranos como Edward Norton, Kathryn Hahn (a Agatha de Wandavision) ou Kate Hudson devorando o cenário como um bando de ricaços aloprados, egoístas e estúpidos. Norton, por exemplo, faz de Miles um sujeito que se acha um gênio, mas não percebe que é um completo idiota, além de um mentiroso inveterado que está tão acostumado a distorcer a realidade ao seu redor que passou a acreditar nas próprias mentiras, sendo praticamente uma mistura de Donald Trump (Norton até incorpora um pouco da linguagem corporal dele) com Elon Musk.
Já Kate Hudson interpreta uma magnata da moda constantemente metida em escândalos por suas práticas pouco éticas ou postagens racistas em redes sociais (não diferente de certos magnatas da moda do nosso mundo). O destaque, porém, continua sendo o Blanc de Daniel Craig, cujo sotaque sulista afetadíssimo por vezes escorrega nos maneirismos britânicos da fala do ator, o que só torna o personagem ainda mais peculiar e absurdo. Ainda assim, a trama incorpora o modo pomposo e por vezes obtuso com o qual esse arquétipo de personagem costuma falar como um ardil de Blanc para ganhar tempo e ludibriar seus adversários. Por outro lado, nem todos do elenco tem o mesmo destaque e alguns acabam tendo pouco o que fazer, como o cientista vivido por Leslie Odom Jr ou a assistente interpretada por Jessica Henwick.
Com um elenco de divertidos
personagens pitorescos e um envolvente mistério que brinca com as convenções do
gênero, Glass Onion é mais uma
competente aventura do detetive Benoit Blanc.
Nota: 8/10
Trailer
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