A narrativa se passa no White Lotus da Sicília, na Itália, gerido por Valentina (Sabrina Impacciatore). Um corpo aparece misteriosamente na praia e logo a trama volta para narrar os eventos de uma semana antes quando um grupo de hóspedes excêntricos chega ao hotel. Entre eles está o casal Ethan (Will Sharpe) e Harper (Aubrey Plaza), eles ficaram ricos recentemente por conta da empresa de tecnologia de Ethan e são convidados para a Itália por um antigo colega de faculdade de Ethan. Dominic Di Grasso (Michael Imperioli) chega com o pai, Bert (F. Murray Abraham), e o filho Albie (Adam Di Marco). Dom está tentando se reconectar com as origens italianas de sua família e também dar um tempo de seu decadente casamento. Retornando da primeira temporada, Tanya (Jennifer Coolidge) está em lua de mel com o marido Greg (Jon Gries) e a assistente Portia (Haley Lu Richardson).
Assim como em seu ano de estreia, a série observa com um olhar ácido as tensões de relações de classe e as hipocrisias ocultas dos mais ricos. Se no primeiro ano víamos como os mais ricos faziam o que bem entendiam com aqueles que estavam abaixo deles, aqui temos algum vislumbre de possibilidade de triunfo dos mais humildes, ainda que seja uma vitória que se dá por meios questionáveis. Isso é visível no arco das nativas Lucia (Simona Tabasco) e Mia (Beatrice Grannò), que entram no hotel em busca de um homem rico. Ao longo da temporada as duas encontram alvos que as permitem alcançar seus objetivos, embora também sejam ocasionalmente enganadas ou exploradas por alguns hóspedes. A dupla funciona simultaneamente como vítimas e algozes, com seu sucesso final soando menos como uma trapaça maquiavélica e mais como uma merecida retribuição pelo que fizeram com elas ou uma punição aos ricos por sua soberba.
Falando em soberba, é curioso que os novos ricos Ethan e Harper iniciam a história em uma posição de superioridade moral em relação ao casamento de aparências, cheio de traições e desconfianças, de Cameron (Theo James) e Daphne (Meghann Fahy), apenas para entrarem no jogo deles. Ethan e Harper começam como um casal em diálogo constante, prezando pela sinceridade, mas sexualmente distantes. É só quando a desconfiança de traição começa a pairar sobre eles que voltam a sentir desejo um pelo outro, como se precisassem do ciúme para desejarem o parceiro. Assim, eles se tornam exatamente aquilo que criticavam, um casal que faz o que bem entende, fazendo vista grossa para possíveis indiscrições do outro.
Quem também se torna aquilo que critica é Albie. O jovem passa a temporada criticando o comportamento mulherengo e machista do pai e do avô, que arruinaram as próprias vidas perseguindo mulheres. Apesar de se julgar superior, o próprio Albie se dá mal ao correr atrás de uma aventura sexual com Lucia, sendo engambelado por ela. A cena dele virando a cabeça quando uma jovem atraente passa por ele no aeroporto mostra como apesar de tudo Albie não aprendeu a lição e provavelmente irá cometer os mesmos erros.
Quem também percebe ter se tornado aquilo que criticou é Portia. Ela julga Tanya como uma histérica insegura que aceita a companhia de qualquer homem ou possibilidade de aventura para aplacar sua carência. Portia, no entanto, acaba se envolvendo com um bad boy italiano e as coisas ficam horrivelmente tensas, revelando que ela, assim como Tanya, se jogou nos braços do primeiro que apareceu e lhe deu alguma emoção porque estava desesperada para fugir do marasmo de sua vida e do próprio pavor existencial. Não é à toa, portanto, que ela termine conversando com Albie, já que depois de tudo que passaram ambos estão em busca da pessoa mais inofensiva e sem graça que conhecem.
Jennifer Coolidge continua a ser o destaque com a instável Tanya, acertando tanto no humor histriônico da personagem, como nos momentos de mais vulnerabilidade em que vemos como ela é desesperada por ser amada e por receber aprovação daqueles à sua volta. O arco de Tanya é um dos mais aloprados da temporada, especialmente o clímax da história, que vai por caminhos que ninguém imaginaria. O desfecho dela não deixa de ser irônico se considerarmos que na primeira temporada o mergulho final dela na água simbolizava o renascimento e superação de traumas, enquanto que aqui ela desastradamente mergulha para a perdição, lembrando que aquilo que cura também pode destruir.
Assim como a primeira temporada, este segundo ano também tem uma cadência bem deliberada, cozinhando lentamente seus conflitos sob a ácida ironia da caneta de Mike White. As constantes imagens de pinturas e esculturas renascentistas de anjos e deuses dão a impressão de que aqueles personagens estão sob o constante julgo de forças sobrenaturais que guiam seus destinos, que moldam os infortúnios cármicos que se impõem sobre eles.
Com uma prosa cáustica que
analisa as indiscrições dos mais ricos, a segunda temporada de The White Lotus segue como um envolvente
exame de questões de classe.
Nota: 8/10
Trailer
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