A produção não faz nada além da típica estrutura de documentários sobre crimes, recorrendo a testemunhos e imagens de arquivo, não tendo nada de diferente neste aspecto. Por outro lado, é bem contundente na exposição de evidências do comportamento abusivo do astro, com testemunhos de ex-namoradas que mostram conversas via mensagens de texto e áudios que ilustram o modo como ele as tratava.
Essas mulheres não apenas tiveram experiências similares, como também certos elementos quase idênticos de serem levadas em viagens para os mesmos locais, serem presenteadas com roupas similares, assistirem o mesmo filme, em um padrão que denota a conduta de um predador em série. Nesse sentido, a série também observa como ele ia atrás de mulheres que considerava vulneráveis, normalmente solitárias, com um passado de relacionamentos tóxicos ou abusivos e trabalhava para ganhar a confiança delas.
A narrativa é hábil em traçar limites entre o que seriam as práticas de BDSM e as normas de consentimento que normalmente estão em jogo para quem pratica esses fetiches e as ações de Hammer, mostrando como ele está além do fetiche e dentro do terreno do abuso. É uma distinção importante para não cair em um discurso moralista de satanizar certas experiências de sexualidade ao mesmo tempo em que aponta os abusos contidos nas ações de Hammer.
Além de explorar as denúncias contra o ator, a série também explora o passado de sua família. Recorrendo a uma tia de Armie Hammer, o documentário mostra a trajetória da família bilionária do ator e como gerações anteriores, incluindo o próprio pai de Armie, tem um histórico de instabilidade violência e abuso. Ainda que tudo seja chocante, a narrativa se limita a expor esses eventos fazendo pouco para buscar entender as estruturas de poder (financeiro e patriarcal) que mantiveram essas pessoas impunes por tanto tempo.
Inclusive, apesar de repetir várias vezes que as denúncias contra Armie Hammer ainda não terem resultado em um processo criminal e até de entrevistarem Gloria Allred, advogada de uma das vítimas, o documentário nunca questiona (ou não mostra ter questionado) a promotoria envolvida no caso sobre os motivos de não haver um indiciamento. Assim, a produção deixa de explorar o motivo da impunidade perdurar, preferindo focar no cancelamento digital e como isso prejudicou a carreira artística de Hammer, sendo que ele não precisa do trabalho para sobreviver financeiramente e além do dano à imagem não há muita consequência.
Considerando que House of Hammer: Segredos de Família foi
lançado tão pouco tempo depois das denúncias, talvez tivesse sido melhor
esperar mais desenvolvimentos para poder contar essa história com algum
distanciamento crítico. Feito no calor do momento, parece mais uma tentativa de
explorar o interesse midiático no caso, já que não vai muito a fundo nos temas
que aborda.
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